Tecnologia

"Netflix de livros" da Amazon torna e-books mais longos

Sistema de pagamentos estimula que autores tornem textos desnecessariamente longos ou usem técnicas para "encher linguiça"

 (tommaso79/Thinkstock)

(tommaso79/Thinkstock)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 14 de junho de 2018 às 11h13.

Última atualização em 14 de junho de 2018 às 12h35.

São Paulo – Quando impressos, livros são comprados por um determinado valor e uma porcentagem da venda vai para os autores. Isso está mudando por causa de um serviço da Amazon chamado Kindle Unlimited, que oferece acesso ilimitado a livros digitais mediante assinatura (ainda que alguns custem 1 dólar, além da mensalidade). Para efeito de comparação, ele é similar ao modelo da Netflix, no qual não pagamos por filmes e séries individualmente, apenas uma única tarifa.

O pagamento para os autores é de 1 centavo de dólar a cada duas páginas lidas no Kindle ou em um dos seus aplicativos para smartphones e computadores. Com isso, um romance de 300 páginas rende 1,50 a um escritor. Por conta disso, uma nova tendência nos e-books começou: muitos autores que buscam aumentar seus rendimentos começaram a "encher linguiça" em suas obras, de acordo com a revista Inc.

Conteúdos como outras obras já publicadas, artigos de newsletters passadas e todo tipo de texto que tenha minimamente a ver com o livro é colocado por autores que publicam, por conta própria, na Amazon. Com o limite de 3.000 páginas por obra, o valor de 1,50 de um romance médio vai para 13,50 dólares.

Outras táticas também são usadas para aumentar os ganhos no serviço de e-books. Esses autores publicam tão rápido quanto possível (com possível contratação de ghostwriters), fazem divulgação de campanhas promocionais para listas de e-mails, criam falsas resenhas positivas sobre suas obras e investem nos serviços de marketing da própria Amazon para aparecer em destaque para os assinantes do Unlimited.

A Amazon chegou a dificultar a vida das pessoas que escrevem livros apenas para ganhar dinheiro. Uma prática proibida após uma mudança de política é a inserção de um link para o final do livro logo em suas primeiras páginas. Isso era rentável porque o sistema de pagamentos entendia que o leitor havia chegado ao final da obra, técnica que funcionava para receber pagamento total do e-book em alguns dispositivos Kindle.

No Brasil, o serviço de Netflix de livros digitais da Amazon custa 19,90 reais ao mês.

A empresa não comentou o caso publicamente.

Acompanhe tudo sobre:E-booksIndústria de livrosLivros

Mais de Tecnologia

UE multa grupo Meta em US$ 840 milhões por violação de normas de concorrência

Celebrando 25 anos no Brasil, Dell mira em um futuro guiado pela IA

'Mercado do amor': Meta redobra esforços para competir com Tinder e Bumble

Apple se prepara para competir com Amazon e Google no mercado de câmeras inteligentes