varsóvia (©afp.com / Janek Skarzynski)
Da Redação
Publicado em 23 de novembro de 2013 às 13h40.
As negociações climáticas das Nações Unidas se arrastam e patinam neste sábado em Varsóvia, onde os delegados de mais de 190 países devem forjar um ambicioso acordo climático a ser firmado em dezembro de 2015, em Paris.
"Eu peço para que reflitam seriamente o que significaria a não conclusão dos trabalhos de Varsóvia", declarou o ministro polonês do Meio Ambiente, Marcin Korolec, que preside a conferência.
Ele se dirigiu aos delegados reunidos em sessão plenária nesta manhã após uma longa madrugada de negociações.
Essas negociações, que inciaram em 11 de novembro, devia terminar oficialmente na sexta-feira, mas é comum que se estendam por mais um ou dois dias.
As negociações anuais se destinam a preparar o terreno para um acordo histórico a ser firmado no final de 2015, visando a evitar o caos climático.
Este acordo centrado nas reduções das emissões dos gases do efeito estufa, que entraria em vigor em 2020, deve permitir limitar o aquecimento a 2ºC em relação a era pré-industrial.
Se as tendências atuais de emissões se mantiverem, os cientistas advertem que a Terra pode esquentar 4ºC, ou mais, uma condição para a ocorrência de tempestades catastróficas, secas, inundações e elevações do nível do mar que afetariam os países pobres de forma desproporcionalmente dura.
Todos os países do mundo devem se comprometer, incluindo os dois principais poluidores: Estados Unidos e China.
Segundo os delegados, os países continuam profundamente divididos sobre a distribuição de limites de emissões e sobre o financiamento aos países pobres, mais vulneráveis aos efeitos adversos do clima.
Os países do Sul, levantaram o tom nesta plenária, rejeitando o texto de compromisso proposto durante a madrugada.
"Estamos frustrados com a maneira como as coisas têm evoluído", declarou o representando do G77 (grupo dos países em desenvolvimento) e a China.
"Esta conferência deveria ser a conferência das finanças", declarou à AFP o negociador de Bangladesh, Qamrul Chowdhury. "Mas tudo o que nós temos são migalhas", acrescentou.
Segundo Emmanuel Guerin, da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável, um grande ponto de paralisia seria a demanda de alguns países em desenvolvimento por garantias de contenções de emissões menos onerosas em comparação com as dos países ricos.
Esses países, que incluem os gigantes asiáticos China e Índia, pedem uma garantia clara neste ponto antes de endossar uma proposta americano-europeia para um mapa que conduza a um acordo em 2015.
"Eles querem que os países ricos cumpram suas promessas", o que inclui, conforme decidido em Copenhague (COP-15), elevar a ajuda climática para US$ 100 bilhões em 2020, começando com US$ 10 bilhões ao ano no período 2010-12 para os países mais vulneráveis.
Nicarágua, em nome do G77 e da China, pediu que os países desenvolvidos se comprometam com um objetivo intermediário de 70 bilhões de dólares.
[quebra]
A União Europeia pediu, por sua vez, flexibilidade.
Sobre todos os temas em discussão, "nós sabemos que nem tudo é como gostaríamos, mas queremos acreditar que fizemos progressos, e esperamos que outros nos sigam e se comprometam como nós", declarou a representante da UE.
Segundo a UE, o texto sobre as finanças "está próximo" do único compromisso possível. Os Estados Unidos também manifestaram sua disposição em "aceitar o texto como está", mas alertou que, se as negociações forem reabertas, introduzirão novas exigências.
Além disso, a UE deseja um tipo de mapa para a conferência de Paris, e demandava, assim como os Estados Unidos, para que os diversos compromissos fossem apresentados com bastante antecedência antes da conferência de Paris para poder avaliá-los.
Mas, segundo a comissária para o Clima da UE, Connie Hedegaard, existe "ainda o grupo dos 'LMDC' (like-minded developing countries - países em desenvolvimento com a mesma óptica), que pensa diferente".
Este grupo formado por uma dezena de países e inclui China, Índia, Paquistão, Malásia, Filipinas, Arábia Saudita e Venezuela, "quer reinstalar a linha de divisória" entre os países em desenvolvimento e os países desenvolvidos. "Isto é inaceitável", acrescentou.
Estes países desejam, antes de qualquer coisa, que o texto final diga claramente que os países desenvolvidos e os em desenvolvimento serão tratados de forma diferente no acordo a ser firmado em 2015.
Este ponto é rejeitado pela UE e os Estados Unidos, que consideram que os grandes emergentes não podem mais se esconder atrás desta linha de divisão que data dos anos 1990.