Uma cobra peçonhenta é vista em Paphos, Chipre: esta base de dados única estará acessível aos pesquisadores na internet no final deste mês (Henghameh Fahimi/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de outubro de 2015 às 19h13.
Serpentes, escorpiões, aranhas, anêmonas do mar, formigas, lagartos: o maior banco de dados do mundo sobre as peçonhas, fonte potencial de futuros medicamentos (diabetes, doenças cardiovasculares, obesidade...), será criado a partir do projeto europeu Venomics.
Ao final de quatro anos de trabalho, esta base de dados única estará acessível aos pesquisadores na internet no final deste mês - informou nesta sexta=feira Frédéric Ducancel, do Instituto de doenças emergentes e terapias inovadoras (CEA-IMETI), membro do consórcio Venomics, apresentando um primeiro balanço.
O banco vai colocar a disposição mais de 25.000 sequências de toxinas (análises genéticas) provenientes de amostras de 203 espécies animais, indo de alguns gramas (como a maioria das aranhas) a vários quilos, como a serpente mamba.
Cerca de 4.000 toxinas (mini-proteínas ou "peptídeos") puderam ser produzidas in vitro a partir dos venenos estudados e são objeto de estudo. Eles são armazenados em Saclay, nos arredores de Paris.
"Este inventário mostrou que metade do que foi identificado nos venenos estudados não correspondia a nada do que era conhecido, nos planos genético e biológico", segundo o pesquisador.
Na história da farmacologia, já existem exemplos de medicamentos extraídos da pesquisa sobre as peçonhas, como o anti-diabetes Byetta (saliva do mostro-de-gila, um lagarto venenoso) ou o analgésico Prialt (veneno de um caracol).
As tecnologias modernas (como a genômica, o sequenciamento de DN em grande escala, estudo das proteínas) permitiram acelerar a pesquisa das moléculas candidatas a tornar-se medicamentos nos campos da obesidade, diabetes, alergias, imunologia, doenças cardiovasculares, até mesmo do câncer. Cerca de trinta já foram recuperadas.
O projeto Venomics, que obteve um financiamento europeu de 6 milhões de euros, associa parceiros de cinco países europeus (Bélgica, Dinamarca, Espanha, França e Portugal), do privado e do público. Mas os pesquisadores esperam poder encontrar novos financiamentos para dar continuidade a esta pesquisa.
"Há cerca de 150.000 a 200.000 espécies venenosas, talvez até mais, que representam dezenas de milhões de moléculas potenciais", afirmou Ducancel.
Duas outras bases de dados deste tipo já existem no mundo, uma para as cobras e outra para as aranhas.