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Mulher recebe útero de doadora morta

O procedimento, ainda experimental, teve início há cerca de três anos


	Hospital das Clínicas: o procedimento, ainda experimental, teve início há cerca de três anos
 (Divulgação/Divulgação)

Hospital das Clínicas: o procedimento, ainda experimental, teve início há cerca de três anos (Divulgação/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2016 às 12h27.

São Paulo - Uma paciente de 28 anos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) foi a primeira mulher da América Latina a ser submetida a um transplante de útero de uma doadora que já tinha morrido. A cirurgia, já feita nos Estados Unidos e na Turquia, foi realizada no mês passado e a paciente se recupera sem sinais de rejeição do órgão.

O procedimento, ainda experimental, fez parte de um projeto de pesquisa da Divisão Clínica de Ginecologia e do grupo de transplante hepático do hospital que teve início há cerca de três anos. O objetivo é que ele seja direcionado para mulheres que nasceram sem útero e pretendem engravidar.

"O projeto foi aprovado na comissão de ética do hospital e no Conep (Conselho Nacional de Ética e Pesquisa). As equipes começaram a fazer estudos em cadáveres e, depois, em ovelhas. Nossa equipe foi para a Suécia, onde existe um centro que faz transplantes de doadoras não falecidas e têm resultados positivos de gravidez nas receptoras. Então, apareceu a oportunidade de fazer aqui. O nosso caso é o terceiro no mundo", explica Edmund Chada Baracat, professor titular da disciplina de Ginecologia e diretor da Divisão de Ginecologia do Hospital das Clínicas.

Os dois outros procedimentos que foram feitos não tiveram resultados positivos. No caso dos Estados Unidos, o útero precisou ser removido. Na Turquia, a mulher chegou a engravidar, mas teve um aborto espontâneo. "A nossa paciente está muito bem, fazendo todos os acompanhamentos e tomando uma medicação específica para evitar rejeição. Também vamos acompanhar a situação reprodutiva dela."

A mulher tem a Síndrome de Rokitansky, uma condição rara que faz com que o útero não seja formado. Também pode causar alterações na vagina, mas não afeta os ovários. A síndrome costuma ser notada na adolescência, quando a jovem não menstrua, embora tenha um desenvolvimento normal.

Segundo Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, diretor do Serviço de Transplantes Abdominais do Hospital das Clínicas, o projeto prevê a realização de três cirurgias, inicialmente. "A cirurgia é complexa. O procedimento durou dez horas. Foram quatro pessoas para fazer a remoção do útero (da doadora), que é colocado em uma solução e, depois, implantado na paciente. Fazemos a costura das veias para ter a plena drenagem do útero."

Futuro

Após acompanhamento por um ano, se a paciente não tiver complicações, serão iniciadas as tentativas para que ela engravide. Antes do transplante, já foi realizada a coleta de óvulos e oito embriões estão congelados.

Baracat explica que esse tipo de transplante pode ser, no futuro, uma opção a mais para as mulheres que nasceram sem útero e têm o sonho de gerar uma criança.

"O transplante de útero tem indicação restrita. É para mulheres que nasceram sem útero e têm um futuro reprodutivo adequado, como é o caso dessa mulher. É preciso ter boas condições clínicas e o casal precisa ter embriões adequados para serem implantados depois. É um procedimento de alto custo e sabemos que o útero não é um órgão vital, como é o caso de um coração ou de um pulmão."

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