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Moto 360 é o primeiro smartwatch com cara de relógio real

O aparelho é o primeiro a aliar funções inteligentes, sistema Android Wear e uma tela redonda que é mais ergonômica que as quadradas ou retangulares


	Moto 360: a Motorola acertou no design do relógio inteligente
 (Saulo Pereira Guimarães/EXAME.com)

Moto 360: a Motorola acertou no design do relógio inteligente (Saulo Pereira Guimarães/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2014 às 19h50.

São Paulo - Usar um relógio inteligente ainda não é algo tão comum quanto ter um smartphone no bolso.

Mas a Motorola acertou no design do Moto 360 e oferece um futuro promissor para essa categoria de produtos.

O aparelho é o primeiro a aliar funções inteligentes, sistema Android Wear e uma tela redonda que é mais ergonômica que as quadradas ou retangulares presentes em dispositivos concorrentes.

Outro aparelho que surgiu em seguida foi o LG G Watch R.

O Moto 360 é capaz de mostrar notificações do seu smartphone Android, desde que a versão do sistema seja 4.3 ou superior.

A integração acontece pelo aplicativo do Android Wear, disponibilizado pelo Google.

Fora isso, também é possível saber qual é o seu batimento cardíaco em um determinado momento, quantos passos você deu durante o dia, bem como quantas calorias queimou durante a caminhada ou corrida.

Com uso moderado, o relógio precisa ser recarregado todos os dias (ou noites). Para isso, ele conta com uma espécie de dock, um suporte que se conecta a tomada e transfere a energia elétrica por indução para o produto.

Isso elimina a necessidade da fabricante colocar conectores no smartwatch, quebrando as linhas de design, e ainda oferece um local apropriado para deixá-lo enquanto recebe energia para um novo ciclo de uso.

Vídeo

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Design

Conforme mencionado, o Moto 360 agrada pelo design devido à sua tela redonda. Uma característica notável é que o display basicamente não tem moldura (bezel).

Ou seja, este é o primeiro smartwatch que realmente se parece com um relógio. Da mesma forma, as dimensões e o peso não o afastam do que se espera de um relógio comum.

Mas é importante destacar que nem toda a área do display é útil. Na parte de baixo, há uma pequena barra reta que acaba com a simetria do painel.

Ali, fica o sensor de luminosidade, bem como os transistores do painel LCD.

A pulseira de couro é confortável e se adapta bem ao pulso. Ela pode ficar marcada com o uso, algo comum em componentes feitos com esse material.

A parte boa é que é possível substituir facilmente a pulseira, uma vez que seu encaixe é o padrão de relógios normais (22 mm).

Isso também abre um leque de possibilidades de personalização, desde que você esteja disposto a investir nisso.

Há somente um botão físico no aparelho, que fica localizado na lateral direita do produto. Ele serve, basicamente, para ligar a tela do Moto 360.

A maioria das interações, entretanto, é feita diretamente com a tela de 1,5 polegada, cuja resolução é de 320 por 290 pixels.

A responsividade do display é boa, portanto, não há nem tipo de entrave nesse ponto.

Como nos aparelhos da Samsung, a Motorola usa um painel OLED com excelente contraste.

A resolução poderia ser melhor (como é o caso de todos os aparelhos dessa categoria), mas como ele normalmente é usado longe do rosto, isso não chega a ser problemático.

Quando o fundo de tela de um aplicativo é preto, a imagem exibida pelo Moto 360 é boa. Mas quando o fundo é branco (o que ocorre com frequência, inclusive em apps do Google), há uma sutil aberração cromática nos cantos da tela.

O Moto 360 também conta com proteção contra água e poeira, com certificação IP 67. Isso significa que ele pode ser mergulhado por até 30 minutos a 1 m de profundidade.

Essa proteção ajuda, por exemplo, quando você estiver em alguma praia ou local com piscina.

Vale notar que o IP 67 não garante imunidade à corrosão da água do mar ou algum tipo de deterioração provocada pela ação do cloro.

Em suma, por garantia, é melhor não abusar do aparelho.

Usabilidade

São três os métodos para ligar a tela do Moto 360: um giro rápido do pulso, como se você fosse olhar para o relógio normalmente; um toque no display; ou então por meio do botão físico localizado na lateral do aparelho.

Todas as formas de ativação funcionaram bem durante os testes do INFOlab. A ressalva é que houve alguns falsos-positivos.

Por exemplo, com o gadget no pulso ao dirigir, a tela se acendia durante curvas fechadas. Isso não chega a ser um defeito propriamente dito, é melhor que o display erre para mais do que para menos.

Claro que isso tem um pequeno impacto na duração da bateria do smartwatch.

É fácil se acostumar a usar o Moto 360 no dia a dia. Especialmente se você normalmente usa um relógio comum.

O gadget não fica grande demais em um pulso masculino de tamanho médio, mas pode ser pouco confortável para mulheres.

Talvez, notando esse problema, a Motorola tenha oferecido uma versão do Moto 360 com pulseira menor nos Estados Unidos (algo ainda sem previsão por aqui).

Nas ruas, o relógio não chama muita atenção quando está apagado ou aceso durante o dia. Mesmo sob a luz do sol, não há dificuldade para enxergar o que está na tela do aparelho.

À noite, por outro lado, o brilho da tela se destaca. Claro que ainda não é comum no Brasil ver pessoas interagindo com a tela sensível ao toque de seus relógios — e você provavelmente terá que mostrar para muitas pessoas o seu novo gadget e explicar o que ele faz.

Conveniente. Assim pode ser definida a possibilidade de ditar respostas ao relógio em aplicativos como WhatsApp, Hangouts e mensagens de texto.

Mas a compreensão da linguagem natural ainda não é tão eficaz no Moto 360 como é no Moto X.

Isso acontece pela falta de um chip dedicado, algo que o smartphone da marca tem. Por vezes, é preciso editar o que foi dito ou usar a combinação certa de palavras.

Não há alto-falantes no relógio, o que impede ouvir mensagens de voz.

É possível ler e-mails do Gmail, não importa o tamanho deles. O mesmo acontece com mensagens recebidas pelo Hangouts.

Essa habilidade varia de aplicativo para aplicativo por conta do suporte necessário para o sistema Android Wear.

Uma dica importante para não prejudicar a precisão do acelerômetro, sensor que monitora a movimentação do usuário durante o dia, é sempre usar o gadget no braço que você menos usa.

Ou seja, se você é destro, use no pulso esquerdo. Se for canhoto, o contrário. O acelerômetro detecta seus passos com base no movimento, por isso, usar o Moto 360 no braço que você menos usa ajuda bastante.

Claro que ambidestros vão precisar escolher um lado para o relógio.

A presença do monitor de batimentos cardiais pode gerar confusão entre potenciais consumidores, mas o Moto 360 não é um produto criado com foco na prática de esportes.

Não é possível verificar o ritmo cardíaco enquanto você corre: é preciso estar parado e com o punho estático para isso.

A ideia da Motorola é estimular as pessoas a levarem vidas mais saudáveis oferecendo um dispositivo que mostra a quantidade de atividade física durante o dia, o que é diferente de ter foco em atletas, como é o caso de outro relógio fabricado pela Adidas.

Um problema foi encontrado durante os testes do Moto 360 foi no aplicativo do Gmail. Quando o app de e-mail do Google recebe dois emails simultâneos com o mesmo destinatário e o mesmo título, apenas um deles aparece.

Outro ainda mais grave acontece em e-mails enviados para grupos: ao responder uma mensagem para vários destinatários, o app não usa o reply all (responder a todos), o que resulta em uma mensagem enviada somente para quem mandou o último e-mail.

Configuração

Apesar de belo, o Moto 360 usa um OMAP 3630, um processador (SoC) da Texas Instruments de 4 anos atrás que só pode ser considerado uma relíquia.

Para se ter uma ideia, a TI não produz SoCs de smartphone há dois anos.

Naturalmente, o fato de que o aparelho depende de um único núcleo Cortex A8 rodando há 1 GHz é problemático.

Podemos sentir essa defasagem na insistência do sistema, que, de tempos em tempo, apresenta pequenos atrasos.

É verdade que a Motorola fez um grande trabalho de adaptação e o Android Wear roda bem a maior parte do tempo (um update recente o tornou ainda mais rápido).

No entanto, é difícil dizer como será o futuro desse aparelho conforme o Wear se tornar mais complexo.

Outro problema notável desse SoC é que ele é fabricado em um processo antigo com litografia de 45 nm. Basicamente, isso quer dizer que ele não é tão eficiente em termos enérgicos quanto processadores mais novos.

Essa desvantagem só vai se ampliar conforme SoCs destinados a smartwatches começarem a ser lançados (como o S1 da Apple).

Parece que a Motorola comprou um lote do OMAP 3 ainda na época da linha Razr (que usava chips da TI), já que essa é a única explicação aparente quanto à utilização desse chip.

Bateria

A bateria é um ponto de preocupação para consumidores no mercado de smartphones que também se estende para as tecnologias vestíveis — e isso inclui o Moto 360.

Com uso moderado, o INFOlab constatou que é possível passar um dia inteiro com o relógio no pulso, sincronizado com o celular e vendo notificações.

A bateria tem somente 320 mAh e precisa gerar energia suficiente para uma tela de 1,5 polegada durante um dia de uso.

Esse valor é pequeno, apesar de estar dentro da média da categoria. Por exemplo: um Sony Xperia Z1 tem bateria de 3 000 mAh para dar conta de uma tela de 5 polegadas.

Sendo assim, são 600 mAh para cada polegada (e mesmo assim, o aparelho não se saiu muito bem nos testes do INFOlab).

Claro que o exemplo é meramente ilustrativo porque os produtos são muito diferentes por uma série de razões.

A questão sobre a bateria do Moto 360 é que quanto mais tempo a tela estiver ligada, mais rápido a carga será consumida.

Em testes de uso mais intenso, o produto aguentou menos de 18 horas ligado.

A recarga energética do relógio é relativamente veloz. O processo leva uma hora e meia.

Em parte, isso acontece justamente por conta da escassa capacidade de energia do Moto 360.

Por outro lado, essa velocidade evita que o usuário fique sem o aparelho por muito tempo.

Sistema

O aparelho roda o Android Wear, uma versão minimalista do Android para smartwatches.

Basicamente, o sistema se aprofunda nos conceitos do Google Now, com cartas que apresentam informações contextuais (notificações, avisos de trânsito, precisão de clima, etc.).

Dois eixos estruturam a interface: movendo o dedo verticalmente, o usuário alterna entre as cartas (cards) e aplicativos; horizontalmente é possível dispensá-los (com um movimento da esquerda para a direita) ou visualizar mais informações/opções (da direita para a esquerda).

Todo o tipo de notificação que aparece no Android comum pode ser reproduzida no Wear, incluindo notificações de terceiros.

Em alguns casos é possível realizar ações no próprio relógio.

Com o WhatsApp, por exemplo, pode-se responder uma mensagem diretamente.

Na maioria dos casos, contudo, só é possível visualizar a notificação e ordenar que app em questão seja aberto no telefone.

Como era de se esperar, os serviços da Google Play são mais bem integrados ao sistema.

E-mails do Gmail, por exemplo, podem ser respondidos e arquivados.

Não há um limite claro para o tamanho das respostas - falamos por mais de cinco minutos sem que ele parasse de registrar o que era ditado -, no entanto, respostas longas fizeram com que o aparelho exibisse uma mensagem de erro.

Mensagens recebidas podem ser lidas na íntegra; os testes foram feitos com mensagens de até 8 mil caracteres.

Mas o mais impressionante deles é a navegação passo a passo que usa o GPS do smartphone pareado.

O relógio é capaz de exibir as direções (para trajetos com caminhada e transporte público apenas) passo a passo, assim como uma estimativa de tempo de chegada.

Contudo, houve dificuldades com esse sistema durante os testes de usabilidade do INFOlab.

Procurando um endereço na Avenida Paulista, o relógio demorou demais para processar o comando (algo que acontece com certa frequência no caso do uso do GPS) e só exibiu o trajeto no smartphone.

Entretanto, como esse tipo de função depende da conexão de rede, parte do problema foi causado pela instabilidade das redes de celular no Brasil.

Aparelhos como esse são muito prejudicados pela nossa infraestrutura precária.

Mais até do que a tela touchscreen, a principal forma de interação com o relógio é por comandos de voz.

Uma interação normal com o Moto 360 é a seguinte: ao movimentar o pulso para ver as horas, o relógio reconhece esse movimento e acende a tela automaticamente.

Basta então usar a frase-chave Ok Google e enunciar um comando.

No geral, a experiência é similar à do Moto X, com algumas diferenças importantes.

O aparelho não possui microfones extras dedicados ao cancelamento de ruído.

Ainda assim, o fato de que o rosto do usuário está sempre relativamente perto do relógio parece compensar esse fato.

Ao ar livre, do lado de uma avenida barulhenta, ele foi capaz de reconhecer meus comandos com poucos erros.

A demora na resposta é talvez a característica que mais desaponta. Embora o comando possa até ser entendido rapidamente, há um atraso evidente na aparição de um feedback visual.

Dessa maneira, o usuário tem que se acostumar a simplesmente ditar o comando sem esperar pela tela de confirmação que o relógio está ouvindo.

Por mais que o Google diga ter adaptado o sistema tanto para o formato circular quanto para o retangular, o fato é que longas linhas de texto e mesmo imagens são cortadas na parte inferior do display.

Apenas a área central exibe a linha completa. Em outras palavras, parte da tela é desperdiçada.

Há sete faces diferentes de relógio e estas podem ser customizadas no aplicativo de smartphone (é possível alterar a cor de fundo e do ponteiro, por exemplo).

Pelo aplicativo, também é possível acessar a lista de apps compatíveis na Play Store. Já existem inúmeras opções que vão desde navegadores de internet até jogos simples.

Vale a pena?

O Moto 360 está entre os melhores smartwatches que passaram pela análise do INFOlab.

Apesar de não ser campeão em duração de bateria (posto que pertence ao Pebble), o aparelho tem design inovador para a categoria e é funcional.

Contudo, o produto não tem exclusividades no mercado, exceto pelo formato. Há outros gadgets com o sistema Android Wear, como o LG G Watch ou o Samsung Gear Live.

Sendo assim, a aparência do Moto 360 é o seu principal atrativo. No mercado brasileiro, o produto custa 800 reais enquanto é vendido por 250 dólares nos Estados Unidos.

Diferentemente do que acontece com uma série de aparelhos concorrentes, a diferença de preço não é exorbitante (em parte, por conta da produção nacional do aparelho).

Portanto, se você busca um relógio inteligente compatível com smartphones Android, está disposto a lidar com um ecossistema de aplicativos embrionário e se sentiu atraído pelo aparelho, o Moto 360 não vai te decepcionar.

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