Videochats: serviços de de chamadas por vídeo cresceram durante a pandemia do coronavírus (LeoPatrizi/Getty Images)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 27 de abril de 2020 às 14h31.
Última atualização em 28 de abril de 2020 às 14h02.
Em tempos de quarentena, quem tem um serviço de videochamada em grupo é rei. Essa parece ter sido a lógica que o mercado de tecnologia resolveu seguir nas últimas semanas com o impulso de serviços que permitem realizar conversas em vídeo com duas ou mais pessoas. O movimento mais recente foi dado na semana passada, quando o Facebook entrou na disputa contra empresas como Zoom, Google, Microsoft, entre outras.
A companhia de Mark Zuckerberg liberou um recurso que permite que o aplicativo Messenger possa realizar chamadas em vídeo com até 50 participantes. O limite anterior era de apenas oito pessoas. Em outubro do ano passado, o serviço de mensagens do Facebook contava com 1,3 bilhão de usuários e só tinha menos internautas cadastrados do que o WhatsApp – que também é do Facebook e estuda aumentar o limite de participantes em suas chamadas de vídeo –, com mais de 2 bilhões de usuários. Nos dois serviços, mais de 700 milhões de contas por dia realizam videochamadas.
O movimento do Facebook não foi por acaso. A companhia certamente está preocupada com o crescimento de rivais neste setor. Em especial, a Zoom Video Communications. Fundada em abril de 2011 por Eric Yuan, a empresa americana que oferece um serviço de chat por vídeo foi uma das que mais cresceram durante a pandemia do novo coronavírus e viu suas ações dispararem 136% desde o começo do ano. A companhia estava avaliada em 45,5 bilhões de dólares nesta segunda-feira (27).
Antes do anúncio do Facebook, as ações do Zoom estavam sendo negociadas na Nasdaq em recorde histórico de 180 dólares por ação graças à notícia de que a plataforma havia ultrapassado 300 milhões de usuários diários. A informação da chegada do Messenger na disputa fez com que os papéis imediatamente se desvalorizassem 12% no pregão do dia.
O crescimento do Zoom durante a crise do novo coronavírus é imponente, mas não chega a ser surpreendente. O serviço já se destacava mesmo meses antes dos primeiros casos de covid-19 serem noticiados. Em setembro do ano passado, um quadrante montado pela consultoria americana Gartner colocou o Zoom como um serviço “líder” ao lado de plataformas de gigantes do mercado. No mesmo gráfico, Google e Adobe aparecem apenas como desafiantes.
A crise do novo coronavírus impulsionou um crescimento esperado da empresa comandada por Yuan. Segundo a consultoria alemã Statista, a quantidade de downloads do aplicativo do Zoom para smartphones Android e para iPhones quintuplicou em apenas um mês, passando de pouco menos de 5 milhões em fevereiro para 26,9 milhões em março. Os rivais Skype (não contabilizando o Skype Business) e o Houseparty foram baixados apenas 6,2 milhões e 5,1 milhões de vezes respectivamente.
O crescimento, é claro, não veio sem problemas. O aplicativo foi criticado por causa da falta de segurança relação ao uso e à guarda ineficaz de dados dos usuários. Isso porque gravações das chamadas realizadas na plataforma ficaram disponíveis na web sem o consentimento dos participantes das chamadas. A relação com autoridades chinesas fez com que o Google restringisse o uso do serviço. No Brasil a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) repetiu o veto.
Em entrevista concedida à EXAME, Yuan defendeu a empresa. “Posso garantir: o Zoom é seguro. Sinta-se à vontade para usá-lo. Não temos nenhuma relação com a China”, disse. "Apenas em casos extremamente raros, quando os servidores de backup estão todos ocupados, é que o sistema redireciona a chamada para os servidores na China."
E se a questão é privacidade, até mesmo o Telegram quer surfar nesta onda. O aplicativo de mensagens que é considerado mais seguro do que o WhatsApp por seus recursos de criptografia recentemente atingiu 400 milhões de usuários e já planeja incorporar um recurso de chamadas de vídeo para grupos. Não há previsão de quando isso deverá acontecer.
Em outra frente desta batalha está o Google. A gigante de Mountain View aproveitou o crescimento para rebatizar o seu serviço de chamadas de vídeo. O Google Hangouts agora se chama oficialmente Google Meet. Mas a disputa do Google não se dá contra o Zoom ou com o Facebook Messenger, mas sim contra a Microsoft.
Segundo dados da consultoria Spiceworks, o líder o setor ao fim de 2018 era o Skype for Business, responsável por 44% do mercado de chamadas de vídeo no segmento corporativo. O aplicativo Teams, que também é da Microsoft assim como o Skype, vinha na segunda posição com 21%. O Teams tinha apenas 3% de participação em 2016. A terceira posição era do Slack, com uma fatia de 15% do setor. O Hangouts – agora Meet – estava em quarto lugar com 11% e a lista era completada pelo Facebook, com o Workplace, com apenas 1% dos usuários.
Na época em que o estudo foi realizado, a análise da consultoria destacou que a adoção do Teams poderia dobrar e em relação ao Slack nos próximos dois anos. Em março deste ano, o Teams informou um crescimento de 37% em sua base de usuários, chegando a 44 milhões de clientes em todo o planeta. O Slack, por sua vez, não revelou o aumento de sua base de usuários. Em outubro de 2019, porém, o serviço da companhia que vale 15,1 bilhões de dólares na Bolsa de Valores de Nova York tinha apenas 12 milhões de internautas em sua base.
O Google, que não revela números relacionados ao seu serviço de chat por vídeo, corre por fora para impedir o duopólio do mercado entre a Microsoft e o Zoom. Segundo o site de tecnologia CNET, no fim de março, Thomas Kurian, homem forte da plataforma do Google, disse que o uso diário do aplicativo já era 25 vezes superior ao de janeiro deste ano e que o Google Meet ganhava 2 milhões de usuários por dia. Segundo ele, a companhia havia registrado um aumento de 60% no número de reuniões diárias na plataforma.
Enquanto batalham por usuários confinados pelo isolamento social necessário para evitar a disseminação do coronavírus, essas gigantes da tecnologia vislumbram também o futuro pós-pandemia. Uma pesquisa do Gartner realizada com mais de 300 diretores financeiros de empresas dos Estados Unidos revelou que 74% das companhias deverão adotar alguma prática de trabalho remoto permanente após o fim da quarentena global.