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"Mercado de trabalho é ligado a relacionamentos", diz VP do LinkedIn

Em entrevista a EXAME, Dan Shapero fala sobre privacidade, Microsoft e como o conteúdo ajuda a desenvolver negócios da rede social

 (LinkedIn/Reprodução)

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Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 28 de março de 2019 às 08h13.

Última atualização em 28 de março de 2019 às 21h52.

São Paulo – Dan Shapero é um dos funcionários mais antigos do LinkedIn. Ele entrou na empresa em 2008 e hoje é considerado o segundo em comando. Seu cargo é o de vice-presidente global de vendas do LinkedIn, importante para os negócios da empresa, que se baseiam em assinaturas para usuários e empresas.

Em entrevista a EXAME, Shapero conta como a rede social, comprada pela Microsoft em 2016, mantém conversas construtivas entre usuários, relaciona sua graduação em matemática com o trabalho de vendas e fala sobre a tendências das startups que usam tecnologia para o recrutamento de funcionários. Para ele, os talentos são os ativos mais importantes das empresas que desejam prosperar.

Leia a entrevista a seguir.

EXAME: Qual é o papel do Brasil na estratégia do LinkedIn atualmente?

Dan Shapero: O Brasil é um país muito importante. É o nosso quarto maior mercado de assinantes atualmente. Passamos muito tempo analisando qual é o nosso papel na economia brasileira. A visão do LinkedIn é criar oportunidades econômicas para todos os membros da força de trabalho global. Isso é incrivelmente importante no Brasil, em parte pelo nível de desemprego, em parte pela mudança que as empresas passam hoje para tornar suas economias mais orientadas pela tecnologia.

O que vemos no Brasil é que o mercado de trabalho e os negócios são muito ligados a relacionamentos. O LinkedIn é uma comunidade de pessoas que usa a plataforma para trabalhar. Por isso, o alinhamento da forma com o Brasil funciona com o LinkedIn é muito forte. Isso acontece em razão do tamanho da economia e do sucesso que temos com os assinantes no país. Estamos muito focados neste mercado. No total, 36 milhões de pessoas usam o LinkedIn no Brasil atualmente. No mundo, são 610 milhões.

Você está no LinkedIn desde 2008, já são mais de dez anos. O que ainda o mantém na empresa?

Quando comecei, tínhamos 300 funcionários [atualmente, são 14 mil] e 18 milhões de membros no LinkedIn. Embora tenha sido uma grande oportunidade participar desse crescimento, ainda estou na companhia porque, pessoalmente, me conecto com a sua missão.

Ajudar as pessoas a encontrar oportunidades econômicas é uma das grandes coisas que podemos fazer pelo mundo. O LinkedIn ajudou trabalhadores do mundo todo a construir histórias profissionais mais fortes, que ajudam mais as suas empresas. Podemos até mesmo medir esse impacto que temos no mercado de trabalho.

No último ano, ajudamos 4 milhões de pessoas no mundo a encontrar novos empregos. Isso faz com que as pessoas alcancem seus sonhos, deem estrutura para suas famílias e ajudem suas empresas a prosperar. Trabalhar em uma empresa que tem esse impacto é especial.

Sua formação acadêmica é em matemática. Como isso se relaciona com o trabalho da sua divisão de vendas no LinkedIn?

Sempre fui uma pessoa análitica. Fiz faculdade de matemática, estatística e probabilidade. Ainda gosto disso e ajudo meus filhos na lição de casa. Em vendas, meu papel primário é ajudar o LinkedIn a criar relações saudáveis com nossos clientes em todo mundo.

Temos mais de 50 milhões de clientes, que gastam bilhões de dólares conosco. A habilidade analítica que tenho, por formação, me ajuda a pensar sobre isso em escala, de uma forma que nos ajude a cumprir minha missão.

Você tem um histórico empreendedor, tendo fundado sua primeira empresa com 19 anos de idade. Como essa experiência se relaciona com o seu trabalho atual?

Venho de uma família de empreendedores. Meu avô veio de uma família imigrante aos Estados Unidos e ele era muito pobre. Minha família sempre me contou a história de como ele abriu sua loja junto aos seus irmãos, conseguiu empréstimos e construiu o negócio. Minha avó também tinha seu próprio negócio. Isso me inspirou a criar algo.

Nos Estados Unidos, há bolsas para esportistas. Eu era um jogador de futebol e me perguntei se a internet poderia ser um meio de demonstrar a habilidade de jogadores para técnicos. Sempre fui interessado em promover essas combinações de pessoas e oportunidades. Foi uma experiência maravilhosa para aprender. A primeira vez que tive que falar com pessoas desconhecidas sobre o meu negócio foi assustadora. O bom disso tudo é que isso me ajudou a entender o que queria da minha vida.

Como a tendência das startups de recrutamento que usam tecnologia no centro do negócio, chamadas HR Techs, afeta ou se relaciona com o LinkedIn?

A grande tendência é o despertar das companhias para o fato de que as pessoas vencem ou falham por causa das suas equipes, mesmo que invistam em tecnologia ou em serviços.

Nesse contexto, as empresas percebem que os investimentos em tecnologia para encontrar talentos que farão a empresa prosperar se tornam cada vez mais importantes. Vemos isso nas etapas de recrutamento, aprendizagem e em análise de dados. Esta última é nova. As empresas de HR estão digitalizando seu entendimento da sua força de trabalho e os executivos fazem perguntas mais difíceis sobre suas equipes, cujas respostas precisam de ferramentas digitais.

Qual foi o impacto da lei de proteção de dados pessoais da União Europeia, conhecida pela sigla GDPR, no LinkedIn?

Temos uma cultura que põe os membros do LinkedIn em primeiro lugar. Em todas as decisões, entendemos antes qual será o impacto delas na nossa comunidade. A confiança e a privacidade sempre foram coisas centrais para nós. Adotamos as regras do GDPR globalmente, não apenas na União Europeia [as leis preveem permissões específicas para diferentes usos de dados pessoais]. Os controles e facilidades que essa legislação são positivos para construir confiança em empresas de tecnologia e nos seus usuários.

A privacidade é um assunto cada vez mais central para empresas de tecnologia. Como vocês garantem a segurança dos dados pessoais e como informam as pessoas sobre essa proteção?

Temos três pilares no LinkedIn que nos ajudaram a construir uma marca forte no âmbito da privacidade. Clareza: queremos garantir que esteja claro o que é feito com dados dos usuários. Consistência: queremos garantir que os novos produtos tenham os mesmos princípios, assim, as pessoas podem esperar que a plataforma é confiável. Por isso, há o controle. Damos a todos membros a capacidade, em nosso site, de regular como os dados são usados.

Assim como o Facebook, vocês podem direcionar publicações patrocinadas para um público determinado. Como vocês têm se blindado de críticas sobre privacidade ao mesmo tempo em que têm um modelo de negócio parecido?

O LinkedIn tem algo muito poderoso: há um foco muito grande na sua finalidade. Queremos criar conversas construtivas sobre a vida profissional das pessoas. Quando pensamos nos recursos que vamos adicionar, como fazermos nossos algoritmos, tudo é feito com isso em mente. Criar um diálogo positivo. Naturalmente, o LinkedIn garante que vamos criar produtos com esse fim.

Como vocês mantêm um ambiente digital saudável, sem comunidades tóxicas?

Toda vez que lançamos algum recurso, pensamos em como as pessoas vão aprender a usá-lo e avaliamos se usuários poderiam ensiná-las.

Quando lançamos a plataforma de influenciadores, primeiro colocamos isso nas mãos de algumas pessoas para que elas ensinassem a todos sobre como compartilhar pontos de vista de forma construtiva.

É como se uma pessoa chegasse ao seu primeiro emprego, visse pessoas bem-sucedidas e as imitasse, à sua própria maneira, claro.

Quanto a Microsoft influencia no LinkedIn e o que mudou desde a aquisição, em 2016?

Muito pouco mudou. Ainda temos a mesma equipe de liderança, a mesma estrutura gerencial e, de muitas formas, o LinkedIn prosperou desde a aquisição. A Microsoft apoia muito a autonomia da empresa e independência dos negócios.

Por outro lado, temos aprendido muito com eles sobre o funcionamento da companhia e eles aprendem conosco. Essa relação simbiótica é muito boa e acontece ao mesmo tempo em que mantemos o foco nos nossos membros, clientes e visão de negócios.

Satya Nadella [presidente da Microsoft] é um executivo impressionante. Seu trabalho na empresa é um feito e tanto. Espero muitas coisas boas dele no futuro. Ele tem sido um parceiro atencioso e inspirador.

O LinkedIn é uma empresa que aposta em conteúdo de qualidade na sua rede social. Como isso se relaciona com a estratégia da empresa?

Isso é algo essencial para nós. Nossa meta é transformar nossa plataforma indispensável para pessoas de todo o mundo. Isso significa permitir que você se conecte com pessoas que importam na sua vida, construindo relacionamentos com elas, e estar informado sobre o que importa para você, pessoalmente, e para o seu trabalho. Às vezes, é preciso ajudar a desenvolver habilidades para avançar na carreira. O conteúdo ajuda as pessoas a serem melhores no trabalho.

Por isso, temos parcerias com empresas no mundo todo e uma equipe editorial própria que garante que as informações estejam sempre atualizadas e ligadas a boas fontes de notícias. Essa é uma parte importante do crescimento do LinkedIn. O que mais ouvi das pessoas no Brasil nesta minha visita é que as pessoas usam cada vez mais o LinkedIn e o conteúdo é importante.

Fizemos avanços em termos de formatos. Temos mais vídeos e começamos a implementar programas-piloto de transmissão ao vivo. Esse é um progresso natural para o LinkedIn como uma ferramenta que as pessoas utilizam diariamente.

Quais serão as aplicações das transmissões ao vivo na plataforma?

Transmitir eventos corporativos ou executivos podem fazer anúncios de resultados, para citar alguns exemplos. O LinkedIn tem se tornado um lugar onde as pessoas podem compartilhar experiências e conselhos e o formato ao vivo é ótimo para isso. É possível receber comentários em tempo real e entender como a audiência está reagindo ao seu conteúdo.

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