Computador (EFE)
Da Redação
Publicado em 9 de maio de 2014 às 10h06.
Quem nunca se viu contando a um amigo os feitos realizados em um jogo virtual, ainda mais os que têm como tema o futebol? Esse é um dos atrativos de 'games' como o Football Manager, em que o jogador atua como técnico de um time e pode usar a internet para compartilhar resultados, invariavelmente melhores que os obtidos pelo treinador da mesma equipe na vida real.
A publicação de relatos das carreiras destes treinadores por trás dos computadores - as chamadas "sagas" - aumenta cada vez mais. Por exemplo, o jornalista Gabriel Dudziak, da rádio "CBN", passou a contar no site "Trivela" a empreitada de comandar o Instituto de Córdoba, da segunda divisão do Campeonato Argentino, na versão 2012 do FM.
"Lendo fóruns sobre o jogo, vi diversos jogadores compartilhando suas histórias em inglês e fiquei tentado a falar da minha experiência. O 'trivela.com.br' me ofereceu a chance e eu aceitei. Essa trajetória com o Instituto era especial, partiu de uma ideia muito sólida com começo, meio e fim, e um objetivo maior do que apenas vencer. Por isso acho que valia compartilhar", explicou.
A saga de Dudziak tem uma peculiaridade. Afinal, o jornalista especializado em futebol sul-americano se inspirou no argentino Marcelo Bielsa e sua filosofia de jogo. Em 10 capítulos publicados no site, o Instituto já conquistou a segunda e a primeira divisões do Campeonato Argentino, e agora luta para se firmar no cenário internacional.
No FM, é possível treinar clubes de 51 países, permitindo desafios como comandar o modesto Ebbsfleet, da sexta divisão do Campeonato Inglês, recolocar um grande na elite seu país, como o Vasco, ou então comandar gigantes como Bayern de Munique, Real Madrid e Barcelona.
"O Football Manager é um simulador de futebol muito bem feito. Dá para recriar, dentro da lógica do jogo, vários aspectos que se aplicam na vida real. Diversas vezes me vi analisando partidas do dia a dia com uma ideia do que poderia ser feito no FM e vendo que muitas delas valiam para os dois 'mundos", garantiu Dudziak.
O jornalista revelou que, a cada texto, a interação do público no site tem sido maior que o esperado. Além disso, assegurou ter recebido relatos de pessoas que voltaram a utilizar o jogo depois do início de sua saga. O técnico virtual do Instituto considerou "fenomenal" a possibilidade de compartilhar seus resultados.
E justamente este viés do jogo serviu de motivação para outro jornalista, Igor Marques, assessor de imprensa na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, lançar no Twitter o perfil "Crônicas do FM" (@cronicasfm), que reúne histórias de usuários do jogo.
"Uma das coisas mais divertidas do Football Manager é poder compartilhar o que acontece. São histórias muito divertidas. Quando ouço alguém falando, dá vontade na hora de começar a jogar. Quando comecei a ler a série do Gabriel Dudziak no 'Trivela', senti isso. Então pensei em criar um espaço para ouvir a história de vários jogadores de Football Manager e poder contar as minhas", contou.
Os textos podem ser enviados por email (cronicasfm@gmail.com), e são publicados no blog "http://cronicasfootballmanager.wordpress.com". Igor contou que a maioria das sagas recebidas são de técnicos virtuais que decidiram assumir clubes pequenos em busca da glória, como o Defensa y Justicia, da Argentina, e o Sampaio Corrêa, do Maranhão.
Geralmente, os fãs mais ferrenhos do jogo evitam iniciar a carreira em grandes clubes do futebol mundial, principalmente os de propriedade de magnatas, como Manchester City, Paris Saint-Germain, por uma suposta facilidade. Alguns, como o estudante de economia Max Aveiro, vão ao extremo, habilitando ligas que não estão disponíveis oficialmente no Football Manager.
"No começo, joguei o FM 2008 explorando a base de dados original, mas faltava algo. Na edição seguinte, eu e um amigo decidimos criar 'databases' alternativas. Lembro que a primeira foi um desafio (como chamávamos) no Vietnã. Foi um sucesso e, a partir daí, o trabalho não parou. Nossos desafios fazem sucesso até no exterior", explicou Max, que habilitou as ligas de República Centro-Africana, Suazilândia, San Marino, Belize, Jamaica, entre outras.
O Football Manager, que teve sua primeira versão lançada em 2005, é desenvolvido pela Sports Interactive e distribuído pela Sega. Entre as personalidades do futebol que já admitiram jogá-lo estão André Villas-Boas, técnico do Zenit São Petersburgo, e Ole Gunnar Solskjaer, que dirige o Cardiff City.
Em 2008, o Everton chegou a firmar um acordo com a empresa desenvolvedora do 'game' para utilizar sua base de dados, com objetivo de ampliar a rede de observação de atletas e também para estudar rivais da equipe.
Experiência ainda mais inusitada foi a do Baku FC, do Azerbaijão. Em 2012, o clube contratou o estudante Vugar Huseynzade para comandar o time reserva após receber currículo com seus feitos no Football Manager - o que certamente serve de incentivo a alguns técnicos virtuais espalhados pelo mundo que sonham em levar suas conquistas para o futebol real.