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Máquina de escrever se nega a desaparecer na Índia

A cena de uma fila destas máquinas trabalhando em plena rua faz parte da vida diária do país asiático

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Da Redação

Publicado em 6 de julho de 2015 às 17h21.

As máquinas de escrever podem ser uma imagem de arquivo em muitas partes do mundo, mas em países como a Índia resistem a desaparecer, e estão longe de ser uma relíquia do passado o som de suas teclas e o timbre da mudança de linha, que desafiam em alguns lugares o domínio dos computadores.

A cena de uma fila destas máquinas trabalhando em plena rua faz parte da vida diária do país asiático, embora elas tenham perdido o romantismo dos tempos em que se teclavam cartas de amor. Seu uso agora resiste à passagem do tempo graças, sobretudo, aos documentos oficiais.

"Continuamos a utilizá-la porque trabalhamos na rua, onde não há eletricidade. Além disso, são muito pequenas e fáceis de carregar. Se tivéssemos um computador, não poderíamos levá-lo assim de um lugar para o outro", afirmou à Agência Efe o datilógrafo Bhupendra Kumar, em frente a um prédio oficial em Nova Délhi.

A entrada do cartório de registro de notas da região de Asaf Ali, na capital indiana, é adornada por duas fileiras paralelas de máquinas Olivetti, Remington, Olympia e Godrej & Boyce, "que não vão desaparecer em pelo menos dez ou 15 anos", disse Kumar, que está há quase uma década no ofício de teclar.

Uma arte à qual recorre a clientela na entrada do cartório para que datilógrafos como ele, de 30 anos, redijam contratos de compra e venda de propriedades que trazem escritos à mão, a um custo de entre 20 e 30 rúpias (R$ 0,98 e R$ 1,48) a página.

A última fábrica da Godrej & Boyce fechou há quatro anos em Mumbai, no oeste da Índia, mas "embora as máquinas não sejam mais fabricadas, ainda há disponibilidade de peças e mecânicos", comentou Kumar, sentado em frente à sua velha máquina.

"Pode ser que elas desapareçam, porque já não se pode comprar novas", advertiu uma colega de trabalho, Sushila Nirmal, de 58 anos, veterana na profissão, lembrando que passou metade de sua vida teclando, desde antes de os computadores começarem a se espalhar, na década de 80.

"Até chegar esse dia, os computadores podem estar no escritório, mas não nas ruas, onde não há eletricidade", contou.

Embora já não seja o negócio de antes, as 500 rúpias que ganha por dia (R$ 24,70) teclando documentos sobre aluguéis de apartamentos fazem com que ela consiga pagar as contas.

A imagem de Sushila se repete na frente de tribunais, escritórios de trânsito e embaixadas, mas ficaram para trás os tempos em que muitos iam até ela e seus companheiros para ditar palavras de amor, convites de casamento ou currículos profissionais.

Narendra Singh se reinventou e encontrou nessa máquina do século XIX um novo uso em seu curso no centro de Nova Délhi, frequentado por jovens que se preparam para encontrar um trabalho.

"Agora quase não há negócios, mas antes se utilizava o dia todo", lamentou Singh, diante de uma fileira de máquinas de escrever cercadas de computadores, e onde alguns aprendem o ofício.

Como Deepak Kumar, estudante de 21 anos, que considera que escrever à máquina "ajuda a melhorar a velocidade, e depois se pode trabalhar facilmente nos computadores".

O dono do curso não está tão convencido da utilidade eterna de suas Olivettis, cujo bater de teclas era ouvido o dia todo anos atrás, e agora mal se escuta por uma hora quando algum estudante chega.

"No comércio, agora não se vende nem se compra. Se quisermos vendê-las ninguém as comprará. E cada vez é mais difícil encontrar um mecânico", disse Singh, nostálgico dos tempos em que o teclar de suas máquinas reinava na Índia.

 

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