Kindle Paperwhite: Produto chega ao Brasil através da Amazon pela primeira vez (Divulgação/Amazon)
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2014 às 14h25.
São Paulo – A Amazon, maior empresa de varejo online do mundo, começa hoje a vender o Kindle no Brasil.
É o primeiro passo da companhia para o varejo físico no país e pode ser um ensaio para a venda e entrega de produtos variados, como já acontece nos Estados Unidos.
Percorrer esse caminho até a operação completa, porém, não será fácil. “O maior desafio será preparar o consumidor brasileiro para o choque de realidade: a experiência de compra no Brasil será completamente diferente da dos Estados Unidos”, afirma Eugênio Foganholo, diretor geral da Mixxer consultoria de varejo.
Para o analista, uma parcela grande da população brasileira já tem contato com a empresa e faz compras por ela em viagens ao exterior. Está acostumada, portanto, com eficiência, rapidez e baixos preços, o que dificilmente será possível atingir nos mesmos níveis aqui por conta de:
Financiamento
No Brasil, os consumidores estão acostumados a fazer compras a prazos longos e sem juros, algo que dificilmente ocorre nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o pagamento dos fornecedores ocorre num prazo bem menor do que o que ocorre por lá.
“O contas a receber no Brasil tem um prazo muito mais longo do que o contas a pagar, o que causa certo desequilíbrio no fluxo de caixa”, explica Foganholo. Isso não será necessariamente um problema para uma empresa com faturamento do tamanho do da Amazon, que beira os 28 bilhões de reais, mas exigirá adaptações na operação.
Logística
Nos Estados Unidos, um dos maiores trunfos da Amazon é a garantia de uma entrega eficiente, pontual e segura, algo muito difícil de se assegurar no Brasil. “Sem contar os problemas de infraestrutura propriamente dita que o país enfrenta, ainda há o fato de que os fornecedores e as empresas de logística têm margens de atrasos, entregas erradas e avarias muito maiores do que as de lá”, diz Foganholo.
Consumidor brasileiro
Além do fato de que no Brasil se lê muito pouco, a Amazon enfrentará outro problema. No Brasil, os produtos de leitura digital ainda têm pouquíssima abrangência. “Temos uma imensa população com dinheiro suficiente para consumir esses produtos, mas que não teve a educação em informática que permitiria uma adaptação rápida a eles”, explica Nelson Barrizzelli, professor da USP e consultor em marketing de varejo.
Segundo o especialista, a operação será mais vantajosa num médio prazo, quando a nova geração de brasileiros que foram educados em emio a esse tipo de tecnologia se tornar consumidora.
Conteúdo
Em relação a conteúdo, a Amazon também poderá ter dificuldades, já que há poucas editoras que produzem livros em português e nem todos os livros em inglês serão traduzidos. “O número de pessoas que leem em inglês é muito pequeno. Para o Kindle realmente massificar, será preciso uma grande oferta de livros em português”, diz Barrizzelli.
Tributação
Para iniciar sua distribuição, a Amazon teve de acionar uma equipe de advogados para não sofrer bitributação, isto é, ser cobrada duas vezes pelo mesmo tributo. Até então, a companhia teria de pagar tributos de distribuição tanto para o estado de São Paulo quanto para o estado que receberia a mercadoria. De acordo com a liminar conseguida pela Amazon, a partir de agora o comércio eletrônico não terá mais de passar por isso.