Tecnologia

Luxo de segunda mão decola com a internet

Poder da web e das redes sociais catapultou o mercado de luxo de segunda mão, até então restrito a pontos de venda especializados


	Bolsa de grife à venda em brechó online, é vista em Paris
 (Matthieu Alexandre/AFP)

Bolsa de grife à venda em brechó online, é vista em Paris (Matthieu Alexandre/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2014 às 16h55.

Paris - Os sapatos de grife se empilham no armário. Os "stilettos" eram a paixão de seu ex, que a presenteava com um novo modelo a toda hora. Hoje, Sophie, 48, revende os pares na internet, onde floresce o comércio de artigos de luxo de segunda mão.

"Não faz sentido guardar 150 sapatos. Minha última venda foi um Louboutin que usei apenas uma noite, por 220 euros", conta. Um par novo custa cerca de 600 euros.

Em Estados Unidos, Europa e Ásia, o mercado de luxo de segunda mão na internet vai de vento em popa, já que o poder da web e das redes sociais catapultou o fenômeno, até então restrito a pontos de venda especializados.

"Até o ano 2000, o mercado era totalmente físico. Depois, foi evoluindo para a internet", conta à AFP Delphine David, especialista da empresa Precepta.

Lançado em junho de 2011, o portal americano theRealReal.com teve um êxito fulgurante. Na Europa, a Grã-Bretanha e a França concentram o maior número de usuários, seguidas de longe pela Itália, diz a especialista da consultoria Bain & Company Claudia d'Arpizio.

"Acreditamos que o mercado de luxo de segunda mão mova 3 bilhões de euros no mundo, e 15 bilhões se forem contabilizados relógios e joias", assinala, contra os 217 bilhões de euros em 2013 do mercado tradicional de luxo.

"Aumenta rapidamente, principalmente na China, onde é uma forma de se ter acesso a bens sem viajar."

Na França, terra da Chanel, Dior, Louis Vuitton e Hermès, as principais plataformas da internet são Vide Dressing, Vestiaire Collective e Instant Luxe, todas lançadas em 2009.

O Vestiaire Collective nasceu de uma dupla constatação: "Os armários cheios, para os quais deveria se achar uma solução, e o fato de que, em plena crise, as blogueiras começavam a se tornar um sucesso de vendas", explica à AFP Fanny Moizant, fundadora do portal, em que a gigante do mercado editorial Condé Nast e o fundo Idinvest investiram.

"As mulheres são os principais compradores, desde a estudante até a colecionadora de meia-idade", diz Fanny. "Na Inglaterra, uma cliente gastou o equivalente a 185 mil euros em seis meses: compra e revende". A maior venda foi "uma bolsa de 35 mil euros".

Além do aspecto lúdico, "algumas clientes experimentam o novo universo como uma droga".

O antigo é mais caro do que o novo

Depois de 25 anos no marketing, Cécile, 46 anos, tornou-se uma compradora-vendedora profissional de artigos de luxo de segunda mão. Hoje, vende seu estoque em salões ou na internet, "inclusive no eBay, onde se encontram colecionadores muito exigentes", conta à AFP.

Ela adquire os produtos na internet, em leilões, ou "em atacadistas que compram de clientes riquíssimas".

"É um negócio. Só me interessam as grandes marcas. Vendo muito Vuitton. Os artigos de mil euros esgotam-se na hora", conta Cécile.

Com sua empresa Larcher, ela vende "cerca de 150 peças por mês", a um total de 35 mil a 40 mil euros, com um lucro de "8.000 euros brutos".

Os portais são financiados por comissões que variam de 10% a 35%. O Vestiaire Collective gerou 27 milhões de euros em 2013 e espera dobrar esta cifra em 2014. O Vide Dressing gera um volume de negócios de cerca de 24 milhões desde 2012.

Na sede discreta do Instant Luxe, no centro de Paris, há uma pilha de bolsas de luxo sobre a mesa. Dominique Chombert as examina cuidadosamente, sob todos os ângulos. Faz perícias há 25 anos, principalmente para a casa de leilões Drouot.

Sua missão é detectar falsificações. "Menos de 1,5% dos produtos recebidos aqui são falsos. Eles são devolvidos imediatamente ao expedidor", diz Dominique.

"No começo, as marcas de luxo nos olhavam com desconfiança. Hoje, elas nos toleram, sabem que trabalhamos meticulosamente", conta o fundador do Instant Luxe, Yann Le Floc'h, 36.

Dominique Chombert manipula uma bolsa Birkin, da Hermès, de couro vermelho. "É verdadeira, está em excelente estado", certifica. "Vai ser vendida por um preço maior na internet, de segunda mão, do que na loja, já que o cliente paga pela rapidez. Não há lista de espera, o artigo está disponível imediatamente."

Mas essa não é a regra. "Normalmente, vendemos as bolsas de segunda mão de 15% a 60% mais barato", assinala Le Floc'h.

No Instant Luxe, a média é de 700 euros por venda. Presente nos mercados francês, inglês e italiano, o portal tentará conquistar o mercado chinês. Já o Vestiaire Collective acaba de ser lançado nos Estados Unidos.

Acompanhe tudo sobre:ComércioInternetLuxoRedes sociais

Mais de Tecnologia

Segurança de dados pessoais 'não é negociável', diz CEO do TikTok

UE multa grupo Meta em US$ 840 milhões por violação de normas de concorrência

Celebrando 25 anos no Brasil, Dell mira em um futuro guiado pela IA

'Mercado do amor': Meta redobra esforços para competir com Tinder e Bumble