Ônibus elevado: versão fabricada era um pouco mais humilde que o conceito original (Creative Commons/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 30 de junho de 2017 às 11h44.
Última atualização em 30 de junho de 2017 às 14h28.
Todo mundo viu: em maio de 2010, em uma feira de tecnologia em Pequim, capital da China, uma empresa local apresentou o conceito de ônibus-túnel.
O veículo, que em princípio teria capacidade para mais de mil pessoas, roda por cima do trânsito. Sua plataforma elevada, com 4,5 m de altura e duas faixas de largura, permite a circulação de carros por baixo – uma ideia que diminui o tempo de viagem tanto de motoristas de automóveis particulares quanto dos usuários de transporte público.
Não é fácil entender essa sacada com uma explicação verbal, mas a imagem acima e este vídeo podem ajudar. Sequências de computação gráfica da engenhoca em funcionamento viralizaram no Facebook e viraram notícia no Brasil.
O conceito foi tão bem recebido por aqui que Manaus chegou a anunciar estudos para a implantação de seus próprios “straddling buses” (em inglês, o verbo straddle significa andar de pernas abertas, como um caranguejo).
Pena que o sonho acabou: sete anos depois do anúncio, os chineses já tiraram o ônibus suspenso do papel, testaram um protótipo na cidade de Quinhunangdao, na província de Hebei, e constataram que ele não dá certo na prática.
Tudo começou em agosto do ano passado, quando trilhos de teste de cerca de 300 m foram instalados em um avenida movimentada da cidade, e uma versão real do veículo percorreu toda sua extensão sem interferir com o tráfego de carros abaixo. Parecia perfeito: o vídeo do lançamento alcançou mais de 2 milhões de visualizações.
A versão fabricada era um pouco mais humilde que o conceito original: segundo a agência de notícias estatal Xinhua, tinha 22 metros de comprimento, 7,8 de largura e apenas 4,8 de altura total, e era capaz de carregar 300 passageiros. Sua propulsão, elétrica, foi um bônus na opinião pública, preocupada com questões ambientais.
Segundo a CNN, porém, o dia da filmagem foi o único em que o gigante realmente saiu do lugar. Desde então ele está parado na única estação que foi construída, e a área ao seu redor foi isolada para o tráfego comum. A importante via da cidade chinesa perdeu duas faixas e agora sofre com congestionamentos crônicos, tudo por causa do elefante branco sobre trilhos.
As autoridades locais, impacientes, mandaram tirar o TEB (sigla pela qual ficou conhecido) do caminho. E agora operários fazem reparos no asfalto para tapar os buracos deixados pelos trilhos. Especialistas do mundo todo afirmam que a ideia era mesmo perigosa demais para funcionar em cidades reais – principalmente considerando a altura máxima do túnel formado, que impediria a circulação de vans e pequenos caminhões.
Ainda no ano passado, segundo o jornal britânico Daily Mail, o projeto foi tachado de fraude pela própria prefeitura de Quinhunangdao, que afirmou não ter sido avisada dos testes. Jornais chineses controlados pelo governo reforçaram a afirmação e fizeram até acusações de corrupção no método de financiamento coletivo por empreendedores adotado para viabilizar o projeto.
A empresa responsável pela instalação não quis comentar o assunto com a imprensa.
Este conteúdo foi originalmente publicado no site da Superinteressante.