Tecnologia

Leilão de 4G realça perda de força do mercado de telecom

Leilão desta terça deu pistas sobre o futuro de um dos mercados de telecomunicações mais disputados do mundo


	Acessos em dispositivos: Oi, uma das quatro maiores operadoras do Brasil, ficou de fora do leilão da frequência de 700 Mhz do 4G
 (Marcos Santos/Agência USP)

Acessos em dispositivos: Oi, uma das quatro maiores operadoras do Brasil, ficou de fora do leilão da frequência de 700 Mhz do 4G (Marcos Santos/Agência USP)

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Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2014 às 21h24.

São Paulo - O leilão da frequência de 700 Mhz da tecnologia de quarta geração (4G) da telefonia móvel foi mais notado pelo que não tinha: uma das quatro maiores operadoras de telecomunicações do país e, por isso, ausência da disputa esperada pelo governo federal.

O leilão da terça-feira deu pistas sobre o futuro de um dos mercados de telecomunicações mais disputados do mundo, no momento em que uma forte desaceleração do crescimento e o aumento dos custos das novas tecnologias levaram a uma onda de negociações para fusões e aquisições.

No centro das atenções está a Oi, a operadora que esteve ausente do leilão. Com alto endividamento e o quarto lugar em fatia de mercado na telefonia móvel, a empresa já estava no centro de especulações sobre consolidação.

E ao deixar passar uma chance no mais novo leilão de 4G, a Oi deu uma confirmação tácita de que seu futuro depende de uma grande operação, seja como empresa comprada ou compradora.

No leilão, as rivais diretas Telefônica Brasil, TIM Participações e Claro, da América Móvil, fizeram ofertas totais de 5,8 bilhões de reais para comprar três licenças nacionais, praticamente o valor mínimo previsto no edital da licitação.

"A ausência da Oi no leilão aumenta a probabilidade de a operadora ter um papel ativo na consolidação de mercado, embora com seus acionistas em uma posição mais fraca de barganha", disse o analista de telecomunicações Mark Chapman, da CreditSights, em nota a clientes.

A Oi, a única operadora majoritariamente brasileira em um mercado dominado por grandes operadoras internacionais, contratou o banco BTG Pactual em agosto para estudar uma aquisição da segunda maior operadora móvel do país, a TIM. A mexicana América Móvil disse que estaria interessada em uma parceria com a Oi para realizar uma oferta conjunta pela TIM.

Mas a dívida líquida da Oi de 46 bilhões de reais, três vezes seu atual valor de mercado, tem levantado questões sobre se a empresa teria força para uma operação como essa.

Reportagens na imprensa sugeriram que a controladora da TIM, a Telecom Italia, estaria estudando uma contraproposta para adquirir a Oi. A Telecom Italia disse, no entanto, que não está em conversas com a Oi.

"Não há nenhuma aliança", disse a jornalistas o presidente do Conselho da companhia italiana, Giuseppe Recchi, nesta quarta-feira.

Sem Espaço

As especulações sobre fusões e aquisições ocorrem enquanto muitas fontes da indústria argumentam que as quatro principais empresas no país, cujas fatias de mercado ficam entre 19 e 29 por cento, estão ficando sem espaço para crescer.

Por anos, o Brasil evitou amplamente a consolidação na indústria de telecomunicações que atingia outros mercados por conta de seu crescimento econômico robusto.

As companhias descartavam vender unidades locais, em meio à forte alta do número de clientes no país. O total de usuários de linhas móveis no Brasil mais do que triplicou em oito anos, atingindo 260 milhões no fim de 2012.

Desde então, o mercado expandiu apenas 5 por cento, mas uma crescente classe média com um saudável apetite por dados móveis ainda faz do Brasil um dos mercados mais promissores do mundo em telecomunicações.

Mesmo assim, a recente bonança levantou uma guerra de preços. Muitos brasileiros aprenderam a usar diferentes chips de celular para diferentes operadoras para aproveitar as promoções.

"As assinaturas cresceram, mas a receita por usuário caiu. Você só fragmentou os gastos", disse o analista Alex Pardellas, da corretora CGD Securities.

"O Brasil não tem lucratividade para sustentar tanta competição." Com a desaceleração do crescimento econômico, o lucro da maior parte das operadoras caiu e as receitas passaram a crescer menos que a inflação.

Também está ficando mais caro expandir as redes de alta velocidade necessárias para suportar todos os novos consumidores. O Brasil ainda está completando sua cobertura 3G, mas o governo tem empurrado as empresas para o 4G com dois leilões de espectro em dois anos.

O sinal do 4G oferece velocidade dez vezes maior que o 3G, mas poucos brasileiros estão interessados em pagar mais caro pelo serviço, que atraiu apenas 4 milhões de usuários em cerca de dois anos.

Operadoras que demoraram mais para construir suas redes pagaram o preço. Serviços irregulares impulsionaram uma onda de reclamações dos consumidores, e reguladores impuseram altas multas.

As companhias podem achar difícil manter os investimentos, mas não podem se dar ao luxo de reduzi-los.

Como resultado, diversas companhias no Brasil firmaram acordos para construção de redes de fibra óptica para operadoras de alto crescimento, como a aquisição, pela TIM, da Intelig em 2009 e da operadora de banda larga Atimus em 2011.

A compra da operadora de banda larga GVT pela Telefónica por mais de 9 bilhões de dólares no mês passado adicionou boa fatia de mercado à subsidiária da empresa espanhola no Brasil, e fez a companhia economizar bilhões de investimentos em fibra óptica.

Embora quaisquer acordos entre operadoras para reduzir o número de competidores signifique alívio para as empresas restantes, reguladores e autoridades estão relutantes em reduzir a competição.

A atual campanha presidencial também ajuda a manter o assunto em fogo brando. Quaisquer propostas que deixariam consumidores com menos opções não devem ser fechadas antes da eleição deste mês. 

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