"Competir com outros bilionários - e 'fazer progresso para Jeff' '- parecia ter precedência sobre as preocupações de segurança que teriam desacelerado a programação", afirmaram funcionários em carta (Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 30 de setembro de 2021 às 11h55.
Última atualização em 30 de setembro de 2021 às 15h24.
Um grupo de 21 atuais e ex-funcionários da Blue Origin acusam o CEO e bilionário, Jeff Bezos, de sacrificar a segurança da empresa para vencer a corrida espacial contra Elon Musk e Richard Branson. Como consequência, a equipe também afirma que Bezos fomentou uma cultura de trabalho "sexista e tóxica".
"Competir com outros bilionários - e 'fazer progresso para Jeff' '- parecia ter precedência sobre as preocupações de segurança que teriam desacelerado a programação", afirmou Alexandra Abrams, ex-chefe da Blue Origin Employee Communications, e outros 20 atuais e ex-funcionários da companhia em nota.
Quem escreve a carta afirma que muitas das preocupações em volta da segurança dos foguetes Blue Origin foram ignoradas e que a empresa não segue as medidas de segurança adequadas.
O motivo por trás da pressa seria a corrida espacial com os bilionários Richard Branson, fundador da Virgin Galactic, e Elon Musk, CEO da SpaceX, que enviaram seus primeiros tripulantes ao espaço no início de julho e meio de setembro, respectivamente.
Abrams disse ao jornal norte-americano CBS que, em 2018, uma equipe documentou mais de 1.000 preocupações com a segurança dos foguetes. Em resposta, a liderança teria dito que os indivíduos não eram tão "tolerantes ao risco". Abrams saiu da empresa no mesmo ano, após os executivos supostamente afirmarem que "não poderiam mais confiar nela".
"Muitos de nós passamos nossas carreiras sonhando em ajudar a lançar um foguete tripulado ao espaço e vê-lo pousar em segurança na Terra", disse a carta. "Mas quando Jeff Bezos voou para o espaço em julho deste ano, não compartilhamos sua alegria. Em vez disso, muitos de nós assistimos com uma sensação avassaladora de mal-estar. Alguns de nós não conseguiam suportar assistir de jeito nenhum."
Os funcionários também afirmaram que relatos de assédio sexual foram ignorados pela liderança. Vários executivos teriam rebaixado funcionárias da Blue Origin, incluindo um próximo a Bezos e o CEO Bob Smith.
Apesar das acusações de que o executivo teria chamado mulheres por apelidos depreciativos como "baby doll" e "baby girl" ("boneca" e "menina" no diminutivo, em português), ele teria sido promovido.
"Se a cultura e o ambiente de trabalho desta empresa são um modelo para o futuro que Jeff Bezos imagina, estamos caminhando em uma direção que reflete o pior do mundo em que vivemos agora e precisamos urgentemente mudar", disse a carta.
A Blue Origin disse à CBS que não tolera assédio dentro da empresa e que investigaria as alegações.