Hospital: modelo de intervenção educativa adotado pelo grupo de Rossi inclui estímulos frequentes para o autocuidado feitos por telefone e por meio de consultas presenciais de enfermagem (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de novembro de 2013 às 10h40.
Raleigh – Graças a um modelo de intervenção educativa que alia orientação por meio de material didático, atendimentos presenciais e seguimento por telefone, um grupo de pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), tem conseguido melhorar o estado de saúde de pacientes com condições crônicas.
Os resultados da pesquisa, realizada no âmbito de um Projeto Temático FAPESP coordenado pela professora Lídia Aparecida Rossi, foram apresentados na última terça-feira (12/11), na cidade norte-americana de Raleigh, durante a programação da FAPESP Week North Carolina.
“Com o envelhecimento populacional, o número de pessoas com condições crônicas – decorrentes de doenças ou traumas físicos que requerem cuidados permanentes por longos períodos – tende a aumentar. Por esse motivo, o seguimento adequado dessas pessoas tem sido uma preocupação crescente na área de enfermagem em todo o mundo”, contou Rossi.
Diversas enfermidades podem ser classificadas como condições crônicas, entre elas Parkinson, Alzheimer, diabetes e doenças cardiovasculares. Em Ribeirão Preto, pessoas com cardiopatia e vítimas de queimaduras graves estão sendo acompanhadas pelo Grupo de Investigação em Reabilitação e Qualidade de Vida, coordenado por Rossi e pela professora Rosana Spadoti Dantas.
O trabalho conta com a participação de uma equipe da Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), liderada pela professora Roberta Cunha Matheus Rodrigues, e com a colaboração das pesquisadoras Marcia Ciol e Jeanne Hoffman, ambas da University of Washington, nos Estados Unidos.
“Estudos do nosso grupo mostraram que condições crônicas distintas apresentam respostas bastante semelhantes, como medo, ansiedade, depressão, diminuição da autoestima, perda de autonomia, problemas de adesão ao tratamento e prejuízo da qualidade de vida”, contou Rossi.
Parte desse resultados foi publicada nos periódicos Disability and Rehabilitation e na Revista Brasileira de Saúde Pública.
Em um Projeto Temático FAPESP já concluído, os pesquisadores adaptaram e validaram para a cultura brasileira várias escalas – originalmente propostas para serem usadas em outros países – que permitem avaliar aspectos subjetivos das pessoas com condições crônicas, como ansiedade relacionada à dor, imagem corporal e qualidade de vida.
“Atualmente, esses instrumentos estão sendo usados em nossos estudos e por outros pesquisadores para mensurar os resultados de intervenções que visam a aumentar a adesão ao tratamento e a autoeficácia dos pacientes, que, nesse caso, representa a capacidade de desempenhar ações para melhorar a própria saúde”, explicou Rossi.
Motivação
O modelo de intervenção educativa adotado pelo grupo de Rossi inclui estímulos frequentes para o autocuidado feitos por telefone e por meio de consultas presenciais de enfermagem, nas quais são distribuídos materiais didáticos com explicações simples sobre a doença ou condição e sobre os cuidados a serem realizados pelo paciente e por sua família.
O impacto da iniciativa está sendo avaliado em diversas teses em andamento. Durante o doutorado de Flávia Martinelli Pelegrino, realizado sob orientação de Dantas, foram, por exemplo, acompanhados portadores de cardiopatia submetidos à terapia anticoagulação oral.
Em comparação ao grupo controle, que recebeu o cuidado padrão da instituição de saúde, o grupo intervenção apresentou maior satisfação com o tratamento, melhor qualidade de vida e diminuição dos sintomas de depressão e ansiedade.
Já no doutorado de Laura Bacelar de Araújo Lourenço, sob orientação de Rodrigues, o efeito da intervenção educativa foi testado em um grupo de pacientes com doença arterial coronariana. Os resultados indicam um aumento significativo – de 32% para 72% – na adesão ao tratamento entre aqueles que receberam o estímulo para o autocuidado.
Em outro projeto orientado por Rossi, a estratégia foi testada em pacientes submetidos à angioplastia para colocação de stent (mola de aço usada para desobstruir a artéria e permitir o fluxo sanguíneo). No grupo que recebeu a intervenção, houve redução significativa dos sintomas de ansiedade em comparação ao grupo controle na avaliação feita seis meses após o procedimento. A pesquisa ainda está em andamento e os pacientes continuam sendo acompanhados.
“Os dados relacionados à intervenção realizada com pacientes queimados ainda estão sendo analisados. Nesse caso, além das escalas, utilizamos instrumentos para avaliar a elasticidade e a viscosidade da pele, o que permite mensurar indiretamente a adesão ao tratamento”, disse Rossi.
De acordo com a pesquisadora, a próxima meta do grupo é identificar quais aspectos do modelo de intervenção mais contribuem para a melhora do estado de saúde das pessoas com condição crônica e apresentam melhor custo-benefício para o sistema de saúde.
Síndrome de Down
No mesmo painel dedicado às ciências da saúde, durante o segundo dia da FAPESP Week, a professora Marcia Van Riper, da Escola de Enfermagem da University of North Carolina em Chapel Hill, apresentou resultados de um estudo multicêntrico cujo objetivo é entender como a cultura, a interação com o sistema de saúde e os fatores familiares contribuem para a adaptação e a resiliência de famílias de indivíduos com síndrome de down.
O trabalho conta com a colaboração de pesquisadores da Escola de Enfermagem da USP, em São Paulo, e da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, também da USP, além de cientistas do Reino Unido, da Irlanda, de Portugal e do Japão.
O artigo sobre o modelo de intervenção educativa publicado na Revista de Saúde Pública pode ser lido em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102008000400023&lng=pt&nrm=iso&tlng=en.
Os artigos publicados Disability and Rehabilitation podem ser lidos aqui e aqui.