Mike Krieger, o brasileiro do Instagram: Krieger disse que demorou mais de três meses para conseguir visto de trabalho (Gilberto Tadday/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 9 de abril de 2015 às 22h57.
O Instagram quase não se concretizou e o complicado sistema de imigração dos EUA teria sido o culpado disso.
Antes de criar o imensamente popular aplicativo de compartilhamento de fotos com seu sócio comercial Kevin Systrom, Mike Krieger morava no Vale do Silício com um visto temporário de trabalho.
Não fosse por alguns lances de sorte durante o processo de imigração no país, nosso mundo de fotografias quadradas com filtros artísticos poderia ser muito diferente hoje.
Nascido no Brasil, Krieger foi para os EUA estudar na Universidade de Stanford com um visto de estudante. Depois de se formar, ele conseguiu um emprego no Meebo, startup de software que o ajudou a entrar com o pedido para obtenção de um visto H-1B.
Esse tipo de visto temporário é outorgado para trabalhadores especializados e o setor de tecnologia é um grande cliente.
Google, Facebook, Intel e outras gigantes da tecnologia enviam dezenas de milhares de candidaturas aos centros de processamento do governo todos os anos com a esperança de garantir uma fatia da limitada oferta de vistos para programadores e engenheiros de computadores estrangeiros.
Neste ano, o Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA começou a aceitar inscrições no dia 1º de abril e, como nos últimos anos, o número de pedidos rapidamente excedeu o limite.
A agência disse na última terça-feira que deixará de aceitar candidaturas e realizará uma loteria randômica para determinar quais funcionários das empresas postulantes receberão vistos dentro das 85.000 vagas disponíveis.
Em 2014, apenas metade dos candidatos, aproximadamente, conseguiu o visto por meio da loteria. A agência ainda não revelou o número de pedidos que recebeu neste ano.
O frenesi do H-1B não foi a maior preocupação de Krieger quando ele se candidatou ao visto por meio do Meebo, em 2009. Um dos poucos lados positivos da economia ruim na época era que havia vistos disponíveis -- o H-1B era mais fácil de obter em um momento em que poucos empregadores estavam contratando.
Poucos meses depois de conseguir seu visto, Krieger começou a conversar com Systrom sobre a criação de um aplicativo de rede social.
Um dos primeiros desafios técnicos que eles enfrentaram não teve nada a ver com programação: foi transferir o H-1B de Krieger para a nova empresa.
Em uma entrevista, Krieger disse que demorou mais de três meses para conseguir o visto de trabalho enquanto Systrom contratava um advogado e ele preenchia papéis.
As semanas se arrastavam e Krieger passava horas estudando os meandros da lei de imigração e checando sites como trackitt.com, nos quais os candidatos compartilham histórias de sua luta pelo visto.
“A situação estava chegando ao ponto das conversas difíceis”, disse ele. “Houve momentos em que eu disse ‘talvez eu devesse simplesmente dizer a Kevin que esqueça tudo isso e encontre alguém que seja mais fácil de contratar’”.
A papelada finalmente saiu e Krieger recebeu autorização para permanecer no país e trabalhar com Systrom em abril de 2010. O desenvolvimento do aplicativo Instagram para o iPhone demorou algumas semanas. “Levou menos tempo produzir o Instagram do que conseguir meu visto de trabalho”, diz ele.
O aplicativo foi um sucesso instantâneo e o Facebook fechou um acordo para adquirir a startup por cerca de US$ 1 bilhão em abril de 2012. Alguns meses depois, o Google comprou o software Meebo, da antiga empregadora de Krieger, por cerca de um décimo desse preço.
Krieger defendeu publicamente pela primeira vez a realização de mudanças nas regras de imigração dos EUA em 2012, quando visitou a Casa Branca como convidado da primeira-dama Michelle Obama no Discurso sobre o Estado da União.
O presidente Obama fez um reconhecimento público a Krieger em um discurso, em janeiro de 2013. Recentemente, o multimilionário de 29 anos de idade recebeu um green card, assegurando sua residência permanente.
Krieger continua sendo um dos cérebros técnicos por trás do Instagram, que agora pertence ao Facebook, com seus cerca de 200 funcionários e mais de 300 milhões de usuários que checam o aplicativo pelo menos uma vez por mês.
Embora as empresas de tecnologia queiram liberar mais vistos H-1B, outras pessoas nos EUA estão pressionando pela aplicação de restrições, dizendo que os trabalhadores estrangeiros tiram empregos dos americanos e reduzem seus salários. Krieger diz que o governo deveria garantir que os empregadores não abusem do sistema e deveria melhorar a forma como os vistos são distribuídos.
“Fazer uma loteria com eles ano após ano, com base na oportunidade – como engenheiro de software, posso dizer que isso parece errado –. É como aplicar uma função randômica à sua imigração”, diz ele.