Amsterdã virou uma das cidades europeias que é polo da revolução tecnológica. (Getty Images/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 16 de outubro de 2024 às 12h20.
Por mais de uma década, o mundo da tecnologia vem buscando o próximo “unicórnio” — uma startup avaliada em mais de U$1 bilhão (R$ 5,65 bilhões). Esses unicórnios, antes vistos como raridades, passaram a ser o objetivo de investidores, empreendedores e até de governos. Contudo, à medida que o setor entra na era da inteligência artificial e que os mercados financeiros voltam a valorizar fundamentos sólidos, o conceito de sucesso está mudando. Hoje, uma empresa precisa demonstrar não apenas crescimento, mas também sustentabilidade e demanda real dos clientes para ser considerada um verdadeiro campeão do mercado. A reportagem é da The Wired.
Durante anos, o Vale do Silício foi reconhecido como o principal polo gerador de unicórnios. No entanto, o ecossistema de inovação da Europa amadureceu, criando empresas de grande potencial que combinam visão arrojada e fundamentos robustos. Atualmente, mais de um terço das 507 startups europeias com receita anual acima de $100 milhões (R$ 565 milhões) estão concentradas no que é conhecido como o “Novo Palo Alto”, um cluster de cidades localizadas a até cinco horas de trem de Londres. Esse ecossistema inclui cidades como Glasgow, Eindhoven, Paris e Amsterdã — todas interconectadas e com histórico de inovação.
O "Novo Palo Alto" abriga empresas como o Raspberry Pi, que teve seu capital aberto na Bolsa de Valores de Londres após mais de uma década de sucesso, e também startups fintech como Monzo, Revolut e Tide, que estão transformando o setor financeiro. Sete das dez maiores empresas de tecnologia da Europa surgiram desse cluster, incluindo nomes como Adyen, Arm e Booking.com. Apesar desse sucesso, a região ainda enfrenta uma lacuna de financiamento significativa. Estima-se que haja um déficit de $30 bilhões (R$ 169,5 bilhões) em investimentos necessários para o estágio de escala, comparado ao Vale do Silício.
Governos do Reino Unido e França já implementaram políticas para estimular o setor, como o Compacto de Mansion House e o Tibi, que visam direcionar mais capital para inovação e startups. No entanto, a transformação desse ecossistema em um polo global de tecnologia requer mais do que políticas públicas; é essencial que investidores reconheçam as oportunidades de investimento. O número de startups na Europa cresceu expressivamente, com quase mil empresas atingindo receitas superiores a $25 milhões (R$ 141 milhões). A participação de capital de risco também aumentou nove vezes na última década, sinalizando o interesse crescente no potencial da região.
Apesar do progresso, o "Novo Palo Alto" enfrenta desafios sociais. Muitas áreas próximas aos polos tecnológicos sofrem com desigualdade e falta de inclusão. Um exemplo é Somers Town, próximo a St Pancras, Londres, onde metade das crianças recebe merenda gratuita e a expectativa de vida é significativamente menor do que em áreas mais privilegiadas. Esta disparidade destaca a necessidade de um modelo de inovação que beneficie a todos, não apenas os que trabalham diretamente com tecnologia.
A construção de empresas sustentáveis e transparentes pode ser a chave para criar um ambiente mais inclusivo, onde a inovação é compartilhada de forma mais equitativa. Assim, o Novo Palo Alto busca se tornar não apenas um símbolo de progresso tecnológico, mas também de responsabilidade social, buscando inspiração em seu homônimo do Vale do Silício enquanto se posiciona para moldar o futuro da inovação na Europa.
Esse crescimento sustentado pela responsabilidade social tem o potencial de transformar o "Novo Palo Alto" em um modelo de inovação único, que respeita as raízes europeias e promove impacto social, apontando para um futuro onde a tecnologia e a sociedade caminham juntas em busca de um desenvolvimento mais equilibrado.