WhatsApp: procura por educação à distância, maior uso de redes sociais e outras mudanças da pandemia impulsionaram informação digital na América Latina (Anadolu Agency / Colaborador/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 7 de fevereiro de 2021 às 11h58.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2021 às 11h59.
O confinamento massivo imposto em todo o mundo pela pandemia do novo coronavírus em 2020 freou economias, afetou atividades produtivas de todo tipo e reconfigurou os hábitos das famílias.
A empresa de análises de audiência Comscore publicou recentemente um estudo que dá conta de como mudou o consumo de notícias e o acesso a redes sociais na América Latina durante o ano passado sob essas novas circunstâncias.
Entre fevereiro e março de 2020, houve um enorme crescimento no consumo de mídia digital na região, à medida que as pessoas buscavam informações sobre o coronavírus e seu efeito em todo o mundo e o número de infecções crescia em um ritmo vertiginoso.
O maior salto se deu em Argentina, Peru e Chile. O mesmo aconteceu com sites educacionais enquanto as aulas presenciais foram suspensas e a educação a distância foi organizada. Isso foi particularmente notável em Chile, Peru e Brasil.
Chile teve maior aumento
O Chile foi o país onde mais cresceu a audiência digital, ou seja, onde o número de pessoas que optaram por consumir conteúdo on-line foi maior que no ano anterior. A alta de 7% em 2020 é mais que o dobro do aumento registrado em outros países da região. No Brasil, que já tinha forte engajamento digital, a alta foi de 1%.
Os argentinos foram os que mais tempo investiram nesse tipo de conteúdo: 137 horas em média em setembro. Os brasileiros dedicaram cerca de 108 horas no mês a mídias digitais, enquanto no México a média foi de 89 horas.
Esse crescimento não foi apenas no consumo de notícias. O uso de mensagens instantâneas, essencial para manter o contato com a família, amigos e colegas durante o distanciamento social, cresceu 127%.
O conteúdo educacional, 64%. Já o consumo de informações sobre negócios e financeiras (associadas à desaceleração das economias de cada país e à expectativa de retomada) aumentou 56% na comparação entre o apurado em setembro de 2020 com igual período do ano anterior.
Entre os aplicativos de mensagens e videochamadas, o que mais cresceu foi o Zoom: 2.711%. Ultrapassou 150 milhões de visitantes únicos em seu site, igualando-se ao Google Meet. Ambos os serviços eram desconhecidos da grande maioria das pessoas e se tornaram essenciais tanto para as aulas on-line quanto para as reuniões virtuais de trabalho.
Outros serviços que agregaram usuários foram o Telegram, (rival do WhatsApp), o Discord (serviço de chamadas de voz em grupo) e o Houseparty, que combina videochamadas em grupo com jogos on-line. O pico de interesse foi por volta de abril.
Outro destaque do estudo é a ferramenta de acesso a conteúdos digitais. Na outro dado fundamental que o estudo destaca diz respeito à ferramenta de acesso. No Brasil e no México, 87% do tempo investido em aplicativos, serviços e conteúdo digital foi gasto por meio de um celular. Na Argentina, 86%.
Brasil e México estão entre os países que mais usam smartphones no mundo, atrás apenas da Indonésia e da Índia. Em quinto e sexto lugares estão Espanha e Itália, seguidos por Malásia, Reino Unido, Argentina, Canadá e Estados Unidos, segundo estimativa da Comscore.
Isso é atribuído tanto à popularidade dos celulares (na América Latina há mais linhas telefônicas que habitantes) quanto à falta de aparelhos adequados em casa no início da pandemia, como computadores. Muitas famílias tiveram que usar smartphones ou tablets para atender às necessidades de comunicação de todos os seus membros.
O Peru, por exemplo, tem uma presença maior de usuários que se conectam apenas a partir de um computador. No Brasil e no México é grande o contingente que se conecta apenas por meio de um celular. Argentinos e chilenos são mais multiplataforma, usam os dois tipos de dispositivos.
Instagram ganha mais espaço
O estudo da Comscore considera que o Instagram foi a rede social que, proporcionalmente, gerou mais interações na América Latina em 2020. Embora o Facebook tenha gerado um pouco mais de interações (medindo o volume total), o Instagram tem menos usuários. Por isso, o estudo inferiu uma dinâmica maior.
A Argentina é o país onde ambas as plataformas estão mais próximas nas interações (47% para Facebook e 45% para Instagram, seguido pelo Twitter, com 5,9% e YouTube, com 2,1%), enquanto no Peru há maior disparidade: 72% das interações em redes sociais são no Facebook, que é seguido pelo Instagram, com 21,5%.
No meio estão Brasil, Chile, Colômbia e México, com valores semelhantes: Facebook e Instagram respondem por mais de 90% das interações, com uma leve preferência dos usuários pelo Facebook, medindo o volume total.
Brasileiro dá muito mais "likes"
Um fato curioso é que Brasil e México, os países mais populosos da região, apresentam um número próximo no número de publicações feitas nas redes sociais. A Comscore estima que, em 2020, houve 17,6 milhões de postagens em redes no Brasil, e no México, 15,4 milhões. Mas as publicações brasileiras geraram muito mais interações por postagem (mil, em média) que as mexicanas (374, número mais próximo do restante da região).
E o que os usuários mais veem nas redes sociais? De acordo com o relatório, “as publicações de influenciadores na América Latina já representam 16,3% do conteúdo total. Entre mais de 250 categorias no Facebook e no Instagram, os influenciadores que mais geram interação na região são os jogadores de futebol. Eles são seguidos por cantores, influenciadores de moda e beleza e personalidades da TV.
Para se ter uma ideia, os posts de Neymar, Lionel Messi, Danna Paola, Maluma, Arturo Vidal e Luciana Fuster geraram, ao longo de 2020, 1,8 milhão de interações. A reação a essas postagens também evidenciam um modo de consumo de conteúdo digital baseado no celular, na palma da mão.
Do horizontal para o vertical
Não à toa, 58% das interações são geradas por publicações que contêm vídeos verticais, e 84% dos anunciantes preferem esse formato, já que é mais adequado para o consumo mais natural das redes: na tela do celular na palma da mão em posição vertical, e não pelo computador desktop do escritório ou para a TV.
Esta mudança de consumo do horizontal, que prevaleceu no século 20, para o vertical na última década já é conhecida, mas o estudo mostra que é uma tendência consolidada: o conteúdo móvel é, por excelência, vertical e compacto. E foi nessas pequenas telas do celular que se combinaram o entretenimento, as comunicações, as notícias, os jogos e muito mais na vida de quem viveu o auge da quarentena da pandemia.