Indústria 4.0: produção em larga escala não será mais embargo (Krisztian Bocsi/Bloomberg/Bloomberg)
Victor Caputo
Publicado em 7 de janeiro de 2016 às 13h36.
São Paulo – Para Reinaldo Lorenzato, especialista em indústria da Hewlett-Packard Enterprise, as ondas de revolução industriais são um processo de continuidade. A transição atual para a indústria 4.0 não é diferente dos processos anteriores nesse sentido.
As revoluções industriais não são algo que aconteçam somente dentro das fábricas. Por outro lado, elas foram “um conjunto de políticas governamentais e do uso da tecnologia”.
EXAME.com conversou com Lorenzato sobre a onda atual de revolução da indústria, as fábricas do futuro e como elas irão mudar a sociedade. Veja a seguir.
O que muda com a indústria 4.0?
O que temos visto não é de hoje, mas uma evolução desde a primeira revolução, lá em 1700. Relembrando, a segunda revolução foi com a adoção da energia elétrica e a terceira com o início da automação.
Essa quarta revolução é uma continuidade desse processo. É importante dizer que isso não é algo que aconteça somente dentro das fábricas. As revoluções anteriores foram um conjunto de políticas governamentais de diversos países, junto com a adoção de tecnologias.
Uma mudança importante acontece agora. Antes, a indústria balizava o comportamento da sociedade, ditava tendências. Isso se inverte e são as pessoas e a sociedade que influenciam a indústria agora. Isso fará com que a indústria se reinvente e participe desse novo conjunto – com áreas de serviço, transporte, etc.
O alicerce para essa mudança é a tecnologia. O que eu vejo é que a manufatura tem palavras importantes: colaboração e a integração. Essas mudanças devem vir para conectar o ecossistema industrial aos de consumo, suprimentos, sustentabilidade, entre outros.
Nesse sentido, será uma indústria mais limpa?
Na verdade, já vem sendo uma indústria mais limpa. Não somente a produção mais limpa, mas também o consumo será mais limpo.
Cada produto que é produzido e vai para uma prateleira está estocando recursos. Entre eles matéria prima, energia e mão de obra.
Dependendo do produto, se ele não for usado, pode ser reaproveitado. Por outro lado, energia e mão de obra não podem ser reaproveitados. Por isso é importante o consumo mais consciente.
É um direcionamento mais ecológico então.
Sim. Temos movimentos, como o Tratado de Kyoto, diminuição de emissão de CO2 e de produção de lixo. Esses são pontos importantes que afetam a indústria e todo o processo de industrialização.
Nas últimas décadas, vimos um processo de desindustrialização de alguns países europeus e a forte industrialização de países asiáticos, que foi motivada pela produção em escala. E é aqui que chegamos algo importante.
No mundo todo, vemos um freio nesse consumismo, o que vai fazer com que a indústria repense a forma de trabalho. Uma das características da indústria 4.0 é que ela não vai mais produzir como antes. Será uma produção em menor escala e de forma mais personalizada – e a tecnologia é fator essencial para isso.
Que tipo de tecnologia terá impacto?
Eu dou o exemplo da impressão 3D. Há alguns meses saiu a notícias de que aviões comerciais já têm peças produzidas em impressoras 3D, que foram aprovadas. Produção em larga escala não é mais embargo para se produzir.
Há dez anos, uma lan house fazia impressão de documentos. Daqui a pouco elas terão impressoras 3D. O consumidor fará a compra de um produto, e ele será produzido perto de sua casa. Essa é uma quebra grande de paradigma que a tecnologia poderá prover.
Um ponto recorrente nesse assunto é sobre mão de obra. O perfil do trabalhador da indústria muda?
Em comparação com o século XVI, cada vez temos mais gente na indústria. Temos no Brasil entre 3 e 3,5 milhões de trabalhadores diretamente nas fábricas brasileiras. É um número significativo. Poderia ser mais? Poderia.
Mas a questão é de valor agregado. A mão de obra braçal não é de alto valor agregado. O que existe é uma mudança. Onde antes víamos várias pessoas apertando parafusos, veremos engenheiros trabalhando.
Com essa nova revolução, como muda a economia local?
Um ponto importante que temos que ver é que apesar da desindustrialização de alguns países percebemos que a participação industrial é importante. Na Alemanha é perto de 30% do PIB e há crescimento anual desde a crise em 2009. Por outro lado, a participação da população alocada na indústria diminui.
Esse é um sinal importante no processo que vem sendo motivado pela automação e informação. A indústria cresce, a população nesse processo diminui. A tecnologia pode ocupar essas posições.
Países com iniciativa em indústria 4.0, como Alemanha, França e EUA, têm seus governos visando aumentar e continuar a produzir tecnologia industrial. Países em desenvolvimento como Brasil, China, Índia, vão começar a consumir essa tecnologia para continuar tendo uma manufatura eficiente.
E o Brasil nessa história? O que esperar?
Eu vejo programas espalhados pelo mundo todo. Existe um processo de modernização da indústria chinesa. Os EUA estão trabalhando com indústria 4.0. Os europeus também, principalmente França e Alemanha.
Isso é natural. Esse é um movimento e tecnologia que virá de países desenvolvidos para emergentes. Mas o Brasil está devagar nesse assunto. Eu tenho esperanças que embarquemos logo nesse movimento.
Nós temos um programa na Alemanha para mostrar as iniciativas, não só governamentais ou sociais, mas também as tecnologias que estão envolvidas. A ideia é mostrar como elas podem ajudar empresas brasileiras a entrar nessa revolução.