Tecnologia

Impressoras 3D serão comuns como smartphones, diz diretor da 3D Systems

Uma das maiores empresas do setor no mundo, a 3D Systems monta em São Paulo o maior parque de máquinas da América Latina

Luiz Fernando Dompieri (Divulgação/3D Systems)

Luiz Fernando Dompieri (Divulgação/3D Systems)

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Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2015 às 09h15.

Os pedestres que entram na discreta Avenida Riachuelo, em Diadema, na Grande São Paulo, não têm muita opção – a rua é um T, sem saída em ambos os lados. O que não imaginam é que lá, no número 92, um prédio cinza e não muito alto, se esconde o maior parque de máquinas de impressão 3D da América Latina. No local, está a sede brasileira da multinacional 3D Systems, uma dos maiores empresas desse setor no mundo.

Com uma área total de seis mil metros quadrados e 80 funcionários, a fábrica tem hoje dez máquinas de grande porte em operação. Mas em breve esse número vai dobrar. Acabam de chegar quatro novas máquinas, duas já em operação, importadas diretamente da sede mundial, na Carolina do Sul, nos Estados Unidos. Até outubro, chegarão outras seis capazes de imprimir em materiais plásticos (como nylon, acrílico e PLA, que é biodegradável), compósitos de gesso e metálicos (aço, titânio, alumínio e ligas especiais).

O mercado nacional de impressão 3D apresenta grande potencial, segundo a empresa, e, por conta disso, os novos modelos apresentam tecnologias inéditas no país, em termos de inovação e dimensão. A ProJet 4500 é uma dessas novas máquinas — para se ter ideia, a primeira 4500 vendida no mundo foi para um cliente brasileiro, uma unidade do Senai de Fortaleza. Capaz de imprimir mais de um milhão de cores (full color), ela usa um plástico acrílico como matéria prima, deixando o resultando final mais vivo. Outra vantagem é a reciclagem de material, que é reaproveitado logo após a conclusão de um objeto.

Outra máquina com tecnologia pioneira e que acaba de ser instalada é a ProJet 5500X. Ela é capaz de fabricar objetos com rigidez personalizada, dosando dois materiais diferentes ao mesmo tempo: plástico rígido e borracha. Um bom exemplo dessa habilidade é uma raquete de tênis de mesa, exposta no showroom, que possui interior e cabo endurecidos e a superfície que rebate a bolinha constituída de borracha. Ficou pronta sem necessidade de acabamentos.  

Boa parte dos clientes da 3D System na América Latina são montadoras e grandes fábricas, como Volkswagen, Ford, GM, Fiat, Mercedes, Renault, Toyota, Honda e Embraer. Nem por isso, porém, o mercado de impressoras pessoais é deixado de lado. Em fevereiro deste ano, a Cube3, uma das impressoras pessoais que mais vende no mundo, chegou ao mercado nacional custando 5 220 reais, 300 reais mais barata que sua antecessora. Hoje, além da própria sede em Diadema, as lojas Saraiva, Kalunga, Lojas Americanas e Submarino já vendem unidades pessoais das impressoras 3D Systems. “Crescemos no ritmo de 30% ao ano”, diz Luiz Fernando Dompieri, diretor geral da empresa na América Latina.

De acordo com o relatório Wohlers Report 2014, a receita mundial de impressão 3D esperada para 2018 é de 12,8 bilhões e deverá exceder os 21 bilhões em 2020. Há um fator, porém, que ainda deve ser aprimorado nos próximos anos. “Para essa revolução industrial ficar completa, falta uma coisa: a velocidade de impressão”, diz Dompieri.

Na entrevista abaixo, Dompieri indica as particularidades do mercado brasileiro de impressão 3D, os desafios em criar máquinas mais rápidas e os novos lançamentos da empresa no país.  

Quais mercados têm se interessado mais em impressoras 3D no Brasil?

Um dos nichos mais fortes é educação. Muitas escolas e universidades estão comprando. Aqui no Brasil, USP, ITA, Mackenzie e Senai já compraram. O Uruguai tem um plano de colocar uma impressora em cada escola pública. Esse piloto já começou e mais de 20 escolas têm nossas impressoras. Faculdades de engenharia e odontologia também têm se interessado bastante. E tem a área média, que está crescendo bastante, mas há algumas particularidades. Depende muito da evolução dos materiais que podem interagir com o corpo humano, no caso das próteses, além de precisar de autorização de órgãos como Anvisa.

Quais fatores podem baratear as impressoras 3D pessoais no país, em termos de tecnologia e economia?

Em primeiro lugar está a demanda, mas isso vem acontecendo, no Brasil e no mundo. Estamos crescendo no ritmo de 30% ao ano. Um segundo ponto que tem impacto direto é a carga de impostos e também o dólar flutuante. Se um dia tivermos a demanda alta que justifique a produção nacional, esse seria um fator importante que poderia baratear as máquinas no país. E aqui no Brasil, por mais que tenhamos inovação na tecnologia, sofremos com a moeda. Outros fatores seriam a redução dos custos de matéria-prima e dos cabeçotes de impressão, que derretem o material sólido e o transforma em líquido.

A linha Cube da 3D Systems é uma das impressoras pessoais de maior sucesso no mundo. Quais são as principais vantagens dela?

A Cube é série mais simples, feita para ser operada sozinho, como um celular. É bem “plug and play”: é ligar na tomada, espetar o arquivo com pendrive e apertar o print. Além de fácil, tem design muito atraente. Nos inspiramos em fabricantes de smartphones, por isso só tem um botão, como os aparelhos da Apple. A mais evoluída é a CubePro, que tem grande área de impressão, totalmente automática e fechada. Como o material é aquecido lá dentro, a matéria-prima fica mais maleável, fácil de moldar, possibilitando melhor acabamento. O design é muito importante. A linha Cube subiu de preço agora pelo impacto do dólar, fomos obrigados a reajustar o valor. Mas ela está dentro do padrão de mercado, e apesar de não ser a mais barata, é a que a de longe oferece o melhor custo-benefício.

De que maneira a 3D Systems auxilia os consumidores finais das impressoras?

Junto com cada impressora que vendemos, existe a opção de um treinamento. Obviamente que as impressoras mais complexas precisam de um treino mais vigoroso, podendo durar alguns dias. Mas também oferecemos treinamento para quem compra os modelos pessoais, mesmo que sejam simples de operar. Tudo é pensado para a que a pessoa tenha uma melhor interação com o equipamento. Por outro lado, abrimos a fábrica para um showroom completo, justamente para que potenciais clientes conheçam a tecnologia. Podem começar comprando o serviço e depois pensar em investir numa máquina própria.  

Qual o fator determinante para uma boa impressão em 3D?

Operar as máquinas é simples, o grande segredo é a geração de arquivo. Se o usuário não tiver um arquivo 3D bem desenhado, de nada adianta. Eu gosto de fazer uma comparação com jornalistas: se você mandar imprimir um texto mal feito, não é a impressora do papel que se tornará o problema, é o conteúdo que foi escrito. Aliás, o pulo do gato para você alavancar e disseminar essa tecnologia é a criação de arquivos em 3D.  

Você concorda com a ideia de que as impressoras 3D trouxeram uma nova revolução industrial?

Temos máquinas industriais que chegam a dois milhões de reais, mas são as impressoras pessoais que deixaram a tecnologia acessível. Nós temos uma revolução industrial, mas para ficar completa está faltando uma coisa: velocidade. Objetos maiores, encomendados por montadoras, por exemplo, podem levar dois dias para ficarem prontos. Para a indústria espacial esse tempo funciona bem, porque se fabricam poucos aviões por mês. Mas nem tão bem para a indústria em geral, que produz 200 mil peças por mês. Por isso um dos maiores investimentos da 3D System hoje são máquinas com ciclos cada vez mais curtos e mais próximos da velocidade de uma linha de montagem acelerada. As máquinas vão evoluir conforme a tecnologia avança. Nós vamos viver com as impressoras 3D da mesma forma que convivemos com smartphones e computadores pessoais.

Impressoras pessoais conseguem atender empreendedores de pequenas e médias empresas?

Tenho observado cada vez mais o pequeno e o médio empresário investindo em máquinas 3D, e também o micro empresário ou a pessoa que quer utilizar em casa. São máquinas que permitem fazer uma peça com nem tanta resolução, mas já dão um bom protótipo. O melhor é que você consegue sentir a criação na sua mão, algo que antes só era possível ver o desenho na tela do computador. Empresas de engenharia, escritórios de arquitetura, fabricantes de brinquedos e designer de joias são exemplos de clientes que conseguem bons resultados com máquinas baratas, de 20 a 40 mil reais. Tive um cliente que comprou uma máquina pessoal que imprime só com três cores e ele conseguiu fazer a maquete de um prédio de 20 andares juntando peça por peça, depois lixou, pintou e fez o acabamento. É um pequeno empresário da área de arquitetura que não tinha o recurso de investir em algo maior, mas que consegue trabalhar bem.

Quais lançamentos devemos esperar da 3D Systems?

Em breve, vamos lançar a linha pessoal full color, que já foi demonstrada na CES 2015. Estamos também desenvolvendo nos Estados Unidos máquinas que imprimem chocolate, açúcar e porcelana – vai ser possível fazer um jogo completo de xícaras. A 3D Systems também comprou empresas da área médica, para começar a avançar fortemente nessa área que tanto demanda por personalização, possível de se alcançar através da impressão 3D. E em relação a acessórios, já trouxemos para o Brasil os scanners 3D, como o Sense, e o Scanner para iPad [iSense], e em breve traremos para o Brasil um scanner para iPhones, recentemente lançado no mercado americano, que é um dispositivo pequeno acoplado no próprio celular que digitaliza formas reais direto no aplicativo e de lá é enviado para a máquina.

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