Facebook: “Não queremos ser os juízes da verdade, queremos recorrer à nossa comunidade e a terceiros confiáveis”, escreveu Zuckerberg (Getty Images)
Luísa Granato
Publicado em 23 de novembro de 2016 às 17h23.
Nova York - Na semana passada, um artigo que alegava que a Ford Motor estava transferindo a produção de caminhões do México para Ohio viralizou no Facebook.
“O efeito Trump: Já está ocorrendo!!”, escreveu o usuário do Facebook Right Wing News. Na verdade, esse artigo se baseava em uma notícia da CNN de 2015, antes que Donald Trump sequer fosse o candidato republicano à presidência dos EUA.
A publicação não era nem totalmente verdadeira nem completamente falsa. Ela entrava em uma área indefinida no mundo da verificação de fatos, tão cheio de matizes, o que salienta o difícil desafio de reprimir notícias falsas.
Embora alguns artigos sejam obviamente falsos, como um sobre o apoio do papa a Trump, muitos outros são enganosos, exagerados ou deturpados, mas contêm um núcleo de verdade.
Eles exigem uma decisão subjetiva, e pode ser difícil definir onde está o limite, afirmam profissionais da verificação de fatos.
“É um terreno muito perigoso”, disse Eugene Kiely, diretor da FactCheck.org, uma organização sem fins lucrativos que busca reduzir o nível de enganos e confusões na política dos EUA.
“Há informações ruins por aí que não necessariamente são falsas. Nunca é tão evidente quanto se imagina.”
O Facebook está tomando medidas para lidar com seu papel na disseminação de notícias falsas, como convocar a ajuda de terceiros para verificar fatos, disse o CEO Mark Zuckerberg em uma publicação na sexta-feira.
A rede social foi amplamente criticada por permitir que notícias falsas circulassem antes da eleição presidencial dos EUA, possivelmente influenciando o resultado.
Zuckerberg salientou o difícil equilíbrio a que sua empresa deve alcançar ao dizer: “precisamos tomar cuidado para não dissuadir o compartilhamento de opiniões ou limitar erroneamente conteúdos corretos”.
“Não queremos ser os juízes da verdade, queremos recorrer à nossa comunidade e a terceiros confiáveis”, escreveu ele.
Mas profissionais da verificação de fatos afirmam que o Facebook não deve punir artigos que são parcialmente corretos.
Eles alegam que seu trabalho, assim como a verdade, pode ser complicado, e é por isso que eles classificam os artigos em uma escala.
Por exemplo, Snopes.com considerou o artigo sobre a Ford em Ohio “majoritariamente falso” e etiqueta outros de “infundado” ou uma “mistura” de verdade e mentira.
O site de verificação de fatos PolitiFact usa rótulos como “verdade”, “meia-verdade” ou “mentira deslavada”. O algoritmo do Facebook pode não entender os distintos tons de falsidade.
“É fácil perceber que tentar solucionar as notícias falsas exclusivamente com um algoritmo poderia provocar o bloqueio de coisas que não são falsas ou que são enganosas por motivos partidários, mas não são inexatas”, disse Alexios Mantzarlis, que chefia a Rede Internacional de Verificação de Fatos da Poynter.
Com tantas notícias falsas para desmascarar, o Facebook poderia contratar uma equipe de verificadores de fatos para conferir apenas os artigos mais populares, disse Mantzarlis.
Essas pessoas poderiam investigar os principais artigos na seção de “tendências” do Facebook, por exemplo.
Ao fazer isso, o Facebook poderia ajudar a enfraquecer o alcance de infratores reincidentes e evidenciar que suas publicações são tidas como falsas, disse ele.