A OMS estima em cerca de 530.000 as mulheres diagnosticadas com câncer de colo do útero (ou cervical) a cada ano em todo o mundo (Ge Healthcare/flickr)
Da Redação
Publicado em 11 de junho de 2012 às 19h05.
Washington - Cientistas dos Estados Unidos e de Cingapura identificaram as células que provocam o câncer de colo de útero, uma descoberta que pode abrir novas vias para a prevenção e o tratamento desta doença, segundo estudo publicado nesta segunda-feira.
Até agora sabia-se que a maioria dos casos de câncer de colo de útero era causada por cepas do papilomavírus humano (VPH), mas agora os pesquisadores determinaram o grupo específico de células que o HPV ataca, segundo estudo publicado nas Atas da Academia Nacional de Ciências (PNAS, na sigla inglês).
Quando estas células do colo uterino são extraídas, não parecem se regenerar, destacou o estudo feito por cientistas do Hospital Brigham and Women, da Escola de Medicina de Harvard e da Agência de Ciência, Tecnologia e Pesquisa (A-STAR) em Cingapura.
Algumas células do colo do útero podem se tornar cancerosas quando infectadas pelo HPV, e outras não, disse o autor principal do estudo, Christopher Crum, do Hospital Brigham and Women, em Massachusetts (nordeste).
Estas células também têm uma expressão genética particular igual à encontrada em tumores agressivos do colo do útero, o que permitiria aos médicos diferenciar lesões benignas de perigosas lesões pré-cancerosas.
"Descobrimos uma pequena população de células que se encontra em uma área específica do colo do útero, que poderia ser responsável pela maioria, se não por todos os cânceres associados ao HPV no colo do útero", disse Crum, que trabalhou com o colega Michael Herfs e com os pesquisadores Wa Xian, da A-STAR, e Frank McKeon, da Escola de Medicina de Harvard.
Estas células ficam perto da entrada do colo do útero, em uma zona de transição entre o útero e a vagina, conhecida como junção escamocolunar.
As descobertas se baseiam em pesquisas prévias do grupo, que identificaram a origem de uma alteração rara e com frequência cancerosa em certas células do esôfago, em uma junção entre o tubo que transporta alimentos e o estômago.
Uma população similar destas células é encontrada no colo do útero, explicou Crum. São os remanescentes da embriogênese, que é o processo de divisão celular e crescimento que ocorre quando o embrião se torna feto.
"Há uma população de células no colo uterino que desaparece durante a vida fetal e é substituída por outro tipo. Descobrimos que um pequeno número destas células não desaparece e permanece ali, quase como pequenas sentinelas de uma idade anterior", disse Crum à AFP.
"Parece que esse grupo particular de células embrionárias remanescentes na junção escamoso-cilíndrica é a população que se infecta, pelo menos na maioria dos casos, em que ocorrem os cânceres e pré-cânceres importantes", acrescentou.
"Durante a vida reprodutiva, são submetidas a mudanças (ou metaplasias), quando se transformam em outros tipos de células, por isso são como espécies de células-tronco", continuou.
Conhecer a biologia destas células e sua localização pode ajudar os médicos a determinar quais lesões pré-cancerosas cervicais (displasias) requerem tratamento, assim como prevenir o câncer por completo mediante a destruição destas células de antemão.
Estudos adicionais serviriam para identificar a existência de populações de células similares em outras áreas do corpo que são afetadas por cânceres relacionados com o HPV, como pênis, vulva, ânus e garganta.
Acredita-se que os subtipos de HPV 16 e 18 sejam responsáveis por cerca de 70% de todos os casos de câncer de colo de útero no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Embora exames regulares tenham diminuído dramaticamente as taxas de mortalidade no Ocidente, o câncer de colo de útero continua sendo uma causa importante de morte nos países em desenvolvimento e se situa como o terceiro câncer mais comum entre mulheres em escala mundial.
A OMS estima em cerca de 530.000 as mulheres diagnosticadas com câncer de colo do útero (ou cervical) a cada ano em todo o mundo. Destas, 275.000 morrem vítimas da doença.