Huawei: estratégia da empresa em garantir suprimentos essenciais destaca o sucesso relativo da campanha americana contra a maior companhia de tecnologia da China desde 2018 (Marko Djurica/Reuters)
Victor Sena
Publicado em 22 de outubro de 2020 às 17h06.
Última atualização em 22 de outubro de 2020 às 17h16.
A Huawei Technologies passou meses silenciosamente armazenando chips de rádio essenciais antes das sanções do governo Trump. Com isso, a empresa garante o fornecimento às operadoras chinesas na implementação da tecnologia 5G, orçada em 170 bilhões de dólares, até pelo menos 2021.
No final de 2019, a parceira Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC) começou a aumentar a produção dos chips de comunicação Tiangang de 7 nanômetros da Huawei, o principal componente em estações-base 5G, disseram pessoas a par do assunto.
A fabricante de Taiwan despachou mais de 2 milhões de unidades a pedido da Huawei antes da interrupção devido às sanções no mês passado, disse uma das pessoas, que pediu para não ser identificada. A magnitude dos pedidos em um ponto fez com que os executivos da TSMC se perguntassem se haviam subestimado a demanda global, disse a pessoa.
A estratégia da Huawei em garantir suprimentos essenciais destaca o sucesso relativo da campanha dos Estados Unidos contra a maior empresa de tecnologia da China desde 2018. Citando preocupações com segurança nacional, a Casa Branca inicialmente tentou restringir a venda de software e circuitos dos Estados Unidos para a Huawei antes de finalmente decretar restrições abrangentes contra seus fornecedores, incluindo a TSMC.
Foi essa última medida, com a proibição da venda de semicondutores prontos disponíveis para uso comercial, que finalmente abalou o negócio de smartphones da Huawei e a obrigou a reduzir a produção de aparelhos, disseram as pessoas. Representantes da Huawei e TSMC não quiseram comentar.
Mas o chip Tiangang, projetado internamente pela divisão secreta HiSilicon, provou ser fundamental para manter os acordos 5G. A Huawei se apoiou na TSMC nos meses anteriores ao veto do governo de Washington e agora pode continuar a fornecer para a China Mobile, China Telecom e China Unicom. O trio de operadoras acelera o desenvolvimento da rede 5G nacional que o governo de Pequim considera fundamental para impulsionar a segunda economia do mundo.
Um representante da China Mobile não quis comentar para este artigo. Um porta-voz da China Telecom disse que a empresa comunicará qualquer impacto das restrições sobre a Huawei, mas não comentou as discussões sobre o fornecimento de chips. Representantes da Unicom não responderam a pedidos de comentários.
“Os Estados Unidos demonstraram uma enorme vontade de restringir a capacidade da Huawei de oferecer tecnologias 5G. As afirmações do governo americano de extraterritorialidade dificultaram o acesso da Huawei a componentes críticos”, disse Dan Wang, analista da Gavekal Dragonomics. Em 2012, apenas um terço da receita da Huawei era gerada na China. No ano passado, essa parcela subiu para cerca de dois terços. “A Huawei está mais dependente das vendas domésticas devido à pressão dos Estados Unidos e também ao seu forte domínio sobre o crescente mercado da China.”