Tecnologia

Site permite enviar mensagens ao povo russo sobre a guerra na Ucrânia

Na tentativa de combater a censura imposta por Putin, um grupo de programadores da Polônia criou um site que gera números de telefone e e-mails da população da Rússia

1920.in: mais de 7 milhões de mensagens já foram enviadas ao povo russo (Bill Oxford/Getty Images)

1920.in: mais de 7 milhões de mensagens já foram enviadas ao povo russo (Bill Oxford/Getty Images)

LP

Laura Pancini

Publicado em 15 de março de 2022 às 07h00.

Em uma tentativa de combater a censura dos meios de comunicação independentes e a restrição das redes sociais na Rússia, um grupo de programadores da Polônia criou um site para enviar mensagens para a população russa sobre a guerra na Ucrânia.

O grupo Squad303, como ele se autodenomina, obteve cerca de 20 milhões de números de celulares e cerca de 140 milhões de endereços de e-mail pertencentes a indivíduos e empresas russas para desenvolver o site, chamado de 1920.in. O nome é uma referência à Guerra Polaco-Soviética de 1920, na qual forças polonesas em menor número se defenderam de uma invasão soviética.

A página gera números e endereços aleatórios a partir do banco de dados, permitindo que qualquer pessoa do mundo envie mensagens. Os textos já são pré-elaboradas em russo e, no geral, pedem às pessoas que ignorem a censura da mídia do presidente Vladimir Putin.⁠

“Caros russos, sua mídia está sendo censurada. O Kremlin está mentindo. Descubra a verdade sobre a Ucrânia na web gratuita e no aplicativo Telegram. Hora de derrubar o ditador Putin!”, diz uma das mensagens.

Porém, o texto não é a única opção. Os usuários vêm enviando imagens da guerra ou da cobertura da mídia ocidental, mostrando o ataque da Rússia aos civis ucranianos. Desde o lançamento do site no dia 6 de março, quase 7 milhões de mensagens e 2 milhões de e-mails foram enviados.

“Nosso objetivo é romper a parede digital de censura de Putin e garantir que o povo russo não esteja totalmente isolado do mundo e da realidade do que a Rússia está fazendo na Ucrânia”, disse um porta-voz do Squad303 ao Wall Street Journal.

A EXAME testou o site e enviou mensagem para cinco números. Apesar de todos existirem, nenhum respondeu e somente um visualizou. O WSJ conversou com Titan Crawford, um homem norte-americano que já enviou mensagens para mais de 2.000 russos e conseguiu ter uma conversa com 15.

https://twitter.com/titancrawford1/status/1500375544537382913

“A ideia é educar os russos sobre o que está acontecendo para que eles possam se levantar e impedir que seu governo invada países”, disse Crawford. Porém, receber essas mensagens também pode ser um risco para o povo russo – recentemente, foi aprovada uma lei que estipula que quem publicar “notícias falsas” sobre a campanha da Rússia na Ucrânia pode pegar 15 anos de prisão.

Em resposta à mensagem do WSJ, uma mãe russa de 36 anos disse que recebeu imagens da guerra por um holandês, que utilizou a ferramenta do Squad303. “Dói ver isso e é muito difícil lidar com tudo que está acontecendo. Estou muito preocupada”, escreveu.

Já uma estudante de direito de Moscou, de 25 anos, disse ao WSJ que não tinha interesse em falar publicamente contra a guerra por medo de represálias: “Devo arriscar minha educação, meu futuro? Sei que Putin está matando pessoas na Ucrânia, mas não é minha culpa, não estou matando ninguém e não estou apoiando nenhuma guerra”, disse.

Acompanhe tudo sobre:GuerrasHackersRedes sociaisRússiaUcrânia

Mais de Tecnologia

Segurança de dados pessoais 'não é negociável', diz CEO do TikTok

UE multa grupo Meta em US$ 840 milhões por violação de normas de concorrência

Celebrando 25 anos no Brasil, Dell mira em um futuro guiado pela IA

'Mercado do amor': Meta redobra esforços para competir com Tinder e Bumble