(Quibi/Divulgação)
Tamires Vitorio
Publicado em 22 de outubro de 2020 às 11h25.
Última atualização em 22 de outubro de 2020 às 12h45.
A guerra do streaming fez uma vítima nesta semana. A plataforma Quibi, voltada para produções curtas, anunciou que irá encerrar as suas atividades depois de ficar apenas seis meses no mercado. A ideia da empresa era oferecer um conteúdo mais rápido, mas de qualidade para o consumidor --- e, apesar de nomes fortes em seu catálogo e de um aporte de 2 bilhões de dólares, o fim chegou. Já foi febre, já foi mico, agora a maturidade chegou. Entenda como investir de verdade em Bitcoin
Em uma carta aberta, o criador do serviço, Jeffrey Katzenberg, e a CEO da empresa, Meg Whitman, culparam parcialmente a pandemia do novo coronavírus pelo fracasso da empresa. Enquanto outros serviços cresceram com mais pessoas em casa, o mesmo não aconteceu com o Quibi. "As circunstâncias de termos sido lançados durante a pandemia é algo que nunca imaginaríamos, mas outros negócios também enfrentaram esses desafios sem precedentes e encontraram uma forma de continuar. Nós não conseguimos", afirmaram. Com o faturamento global de 50,3 bilhões de dólares em 2020, segundo a consultoria alemã Statista, o setor do streaming cresceu ao mesmo tempo em que o cinema de Hollywood perdia cerca de 17 bilhões de dólares no primeiro semestre deste ano.
A intenção de Katzenberg e Whitman é fechar a startup o mais rápido possível para conseguir devolver pelo menos boa parte do dinheiro para os investidores. A forma encontrada pela Quibi para fazer isso é vender seus conteúdos originais, que duram até dez minutos, para outras empresas. Segundo o site The Wrap, nem isso tem sido fácil: o formato curto não é adotado em nenhuma outra plataforma existente e, para elas, isso é um grande problema. Séries originais da Netflix, por exemplo, seguem o padrão da televisão com episódios que podem durar 15, 20 ou 40 minutos, ou até uma hora, e até mais, dependendo da produção.
A plataforma parecia ter a receita perfeita para o sucesso. Katzenberg é um nome bastante reconhecido em Hollywood, passando por empresas como a DreamWorks e a Disney, sendo CEO em ambas. De 1984 a 1994, ele presidiu a companhia do Mickey e participou de lançamentos importantes para a empresa, como "A Pequena Sereia", "A Bela e a Fera" e "O Rei Leão". A DreamWorks, sob sua gestão, lançou filmes como "Shrek", "Madagascar", "Kung Fu Panda" e "Como Treinar Seu Dragão". Whitman, por sua vez, não fica atrás do fundador da companhia e também passou pela Disney e pela DreamWorks. Fora do entretenimento, foi responsável por companhias como a americana de bens de consumo Procter & Gamble, a fabricante de brinquedos Hasbro e foi CEO do site de e-commerce eBay por dez anos.
Outro fator que podia ter impulsionado os ganhos foi a presença de celebridades bastante conhecidas protagonizando as produções, entre elas o cantor Joe Jonas e as atrizes Sophie Turner e Reese Witherspoon.
O que parecia um jogo ganho mudou em pouco tempo. "Acreditamos que não tivemos sucesso por duas razões prováveis: a ideia pode não ter sido forte o suficiente para justificar um serviço extra de streaming ou nosso timing não foi o correto", continuaram Katzenberg e Whitman na carta aberta.
A meta dos investidores e da empresa era ambiciosa e previa um crescimento rápido e em tempo curto. Até o final do ano, a expectativa era alcançar 7,4 milhões de assinantes. Em junho, a empresa estava bem perto de alcançar dois milhões de assinaturas. Em julho, após o fim do período de 90 dias de conteúdo grátis, as pessoas mudaram de ideia.
Em abril, quando o aplicativo foi lançado e ainda era gratuito, 910 mil usuários o baixaram --- mas um levantamento da Sensor Tower publicado em julho mostra que 92% deles não continuaram usando a Quibi. Mas o público-alvo da companhia (adolescentes e jovem adultos) preferiu continuar com os vídeos curtos e gratuitos no TikTok, ou mais longos no YouTube, do que pagar de 4,99 dólares (na versão com anúncios) a 7,99 dólares (sem anúncios) em produções de dez minutos.
Mas a Quibi também tinha outros problemas. A possibilidade de assistir conteúdos apenas no celular não interessou. Na América Latina, por exemplo, 40% das pessoas consomem streaming em Smart TVs, 22% em TVs conectadas a algum dispositivo que tem streaming, 19% em celulares e 16% no computador, segundo a consultoria Conviva.
A startup chega ao fim com 72 mil assinantes --- e o som de sua queda não parece fazer tanto eco.