Greenwald (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2014 às 14h15.
O governo dos EUA tem o objetivo de "obter e armazenar todas as comunicações que ocorrem no mundo, não só as que têm a ver com a segurança nacional ou terrorismo", como demonstra "a espionagem" sobre os telefones nas Bahamas, México, Filipinas e Quênia, disse nesta quinta-feira o jornalista ganhador neste ano de um prêmio Pulitzer, Gleen Greenwald.
Em entrevista à Agência EFE, o homem a quem o ex-técnico da Agência de Segurança Nacional americana (NSA) Edward Snowden confiou todos os documentos aos quais teve acesso sobre dita espionagem desmentiu as informações divulgadas em diversos meios de que vai publicar uma lista de milhares de espionados pelos EUA.
Greenwald afirmou que os documentos de Snowden estão "eletronicamente guardados" e anunciou que estuda um sistema com o qual outros jornalistas possam ter acesso direto aos mesmos.
Questionado sobre documentos confidenciais sobre Cuba, Greenwald respondeu que "não temos toda a informação dos EUA, temos partes das que Snowden teve acesso. Em alguns casos, temos uma história completa, às vezes é parcial e às vezes nada. O que temos é muito", disse.
"Os Estados Unidos têm a capacidade de espionar e interceptar cada ligação telefônica em um país e conhecer seu conteúdo, e, além disso, podem armazenar e escutar quando quiserem", disse Greenwald, que se encontra na Espanha para promover seu livro "Snowden. Sem um lugar onde se esconder" (Edições B).
"Obviamente, México e Bahamas não têm nada a ver com o terrorismo, que é a justificativa normal que é dada pelos EUA para seu sistema de espionagem", disse ao ser questionado sobre a reveleção que fez recentemente a respeito.
O México é um país "de grande interesse para os EUA por ser fronteiriço", declarou ao acrescentar que "a ideia de que há tráfico de droga em um país não significa que se possa escutar e gravar todas as ligações telefônicas".
Greenwald desmentiu informações divulgadas em diversos meios de informação de que iria publicar uma lista com milhares de nomes de pessoas espionadas pelos EUA, mas explicou que "vamos nos centrar em alguns casos que ilustram o propósito do sistema de espionagem e como funciona".
Perguntado sobre o Wikileaks do também jornalista Julian Assange, que publicou vários documentos diplomáticos confidenciais dos EUA, Greenwald explicou que atua de forma diferente com os documentos de Snowden já que o ex-técnico dos serviços secretos americanos quis sempre "fazer as coisas de forma distinta".
Ao confiar os documentos confidenciais, Snowden "queria que fosse informado sobre este material de forma jornalística (...) o acordo que alcancei com ele é que publicaríamos o que realmente julgarmos necessário publicar" e "sem colocar em perigo gente inocente", disse Greenwald, em resposta às acusações do secretário de Estado americano, John Kerry, na quarta-feira na emissora "ABC".
Kerry assinalou que as revelações de Snowden permitiram aos terroristas conhecer "de primeira mão" os métodos e mecanismos usados pelos Estados Unidos para obter inteligência. "Nossas operações foram comprometidas", afirmou.
Ao explicar as diferenças entre Assange e Snowden, o primeiro refugiado na embaixada do Equador em Londres e o outro na Rússia, Greenwald lembrou que este último trabalhava para o governo dos EUA e considerou que se retornar a seu país, onde é acusado de traição, "não teria um julgamento justo. Querem que volte para prendê-lo pelo o resto de sua vida".
"Me consta que há agora gente no governo (americano) inspirada por Snowden", disse Greenwald.
A ideia de escrever um livro é revelar a "história real de como conheci Snowden, como consegui os documentos (...) porque foram ditas muitas coisas sobre isso que não são verdade", explicou.
"Queria colocar o sistema de espionagem americano em seu inteiro contexto", declarou ao assinalar que seu livro é composto por três partes, e a terceira é defender "o argumento de por que a intimidade é crucial para a liberdade individual, e todos sofremos quando a perdemos".
Greenwald assegura que nem ele e nem Snowden tiveram dúvidas antes de decidir começar a revelar os documentos sobre a espionagem americana e que ambos já sabiam das consequências que teria e que mudaria totalmente suas vidas.
O jornalista, que começou revelando os documentos de Snowden no diário britânico "The Guardian", vive atualmente no Rio de Janeiro desde onde publica os documentos confidenciais pela internet.
No livro, Greenwald lembra que a primeira coisa que Snowden lhe pediu quando se conheceram é que cifrasse seu e-mail, o que agora o recomenda a todo o que possa fazê-lo, especialmente jornalistas, médicos, psiquiatras, advogados ou outros profissionais que guardam informações confidenciais e privadas de outras pessoas.