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Gorongosa, um parque de atrações para ciência em Moçambique

Espécies desconhecidas de rãs e morcegos são algumas das 1.200 espécies de animais e plantas descobertas no Parque Nacional de Gorongosa, em Moçambique

parque (Getty Images)

parque (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 7 de outubro de 2013 às 08h56.

Morcegos parecidos com o "Chewbacca" - famoso personagem de "Star Wars" - espécies desconhecidas de rãs que vivem em cavernas profundas, formigas incapazes de caminhar sobre superfícies planas e gafanhotos que não eram vistos desde o século XIX são algumas das 1.200 espécies de animais e plantas descobertas por um grupo de cientistas no Parque Nacional de Gorongosa, no centro de Moçambique.

A expedição, a primeira realizada no parque, um espaço protegido de quatro mil km², foi coordenada pelo cientista polonês Piotr Naskrecki, entomologista do Museu de Zoologia Comparada da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Os resultados desta pesquisa, feita no primeiro semestre deste ano, começaram a ser divulgados agora: os cadernos de campo registram 182 aves, 54 mamíferos, 47 répteis, 33 espécies de rãs, mais de 100 variedades de formigas e 320 tipos de plantas.

"Ainda estamos processando a maior parte do material. Algumas das espécies encontradas nunca tinham sido vistas antes no parque, muitas eram desconhecidas em Moçambique, e outras são novas até para a ciência", contou o cientista à Agência Efe.

Segundo Naskrecki, o ecossistema de Gorongosa está em "bom estado de saúde", e os dados coletados na expedição ajudarão a recuperar muitos dos danos sofridos pela biodiversidade da região durante a guerra civil de Moçambique, entre 1977 e 1992.

Gorongosa, protegido pelo governo colonial português em 1960, era um dos "édens" da África, e possuía vida selvagem tão abundante e variada quanto a dos parques de Kruger, na África do Sul, e de Serengueti, na Tanzânia.

Na década de 60 ele também foi um destino de caça para os famosos de Hollywood. O ecossistema começou a ser prejudicado com a derrota e expulsão dos colonos portugueses em 1975, que iniciou uma guerra civil que durou 17 anos.

O conflito deixou cerca de um milhão de mortos, destruiu a infraestrutura do país e quase aniquilou sua fauna, que serviu para abastecer tropas e para comprar armas na África do Sul em troca de peles e marfim.

Mesmo com os acordos de paz de 1992, o parque não foi beneficiado. O desmatamento e a caça ilegal destruíram mais do que a própria guerra, e a população animal diminuiu 90%.

Em 1976, viviam em Gorongosa seis mil elefantes, 14 mil búfalos e 500 leões. O primeiro censo após a disputa armada, em 1994, registrou apenas 100 elefantes, 300 macacos e 12 zebras.

Durante uma década, o parque permaneceu esquecido pelas autoridades. Isso mudou depois da visita de um empresário americano do setor das telecomunicações, em 2004.

Mesmo sem ver um único animal em suas primeiras visitas ao parque, "exceto um pássaro", Greg Carr ficou fascinado e decidiu investir parte de sua fortuna ali. Ele fundou uma organização sem fins lucrativos para a restauração do parque, construiu infraestruturas básicas e gerou empregos para os habitantes das comunidades vizinhas com um projeto de turismo ecológico.

Em 2008, Carr assinou um acordo com o governo de Moçambique para a exploração conjunta do parque durante os próximos 20 anos e prometeu investir US$ 30 milhões para restabelecer a riqueza natural e promover uma forma de vida sustentável.

Desde então a fauna selvagem se recupera em bom ritmo. Búfalos, zebras, hipopótamos, elefantes e felinos, muitos importados de parques sul-africanos, voltam a habitar um território que esteve à beira do extermínio.

"Gorongosa é um desses raros lugares ao quais foi concedida uma segunda chance", comemorou o entomologista polonês.

No entanto, a instabilidade política e os recentes confrontos entre o exército moçambicano e o grupo guerrilheiro Renamo, que domina a região ao redor do parque representa uma ameaça.

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