Pixel 4: aparelho foi descontinuado pelo Google nesta semana (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 7 de agosto de 2020 às 05h55.
O Google causou um estrondo no mercado de smartphones quando, em 2016, anunciou que iria produzir seus próprios aparelhos. Era a chegada de uma concorrente gigantesca que poderia fazer frente às gigantes de mercado Samsung, Apple e Huawei. Quase quatro anos se passaram e o Google, mesmo com inovações tecnológicas, parece ainda não ter encontrado a sua identidade neste setor.
Nesta semana, a companhia de Mountain View descontinuou os modelos Pixel 4 e Pixel 4 XL, lançados em outubro do ano passado. Ao The Verge, um porta-voz da empresa americana afirmou que os celulares ainda estarão disponíveis nos varejistas até que os estoques acabem. A companhia também informou que os aparelhos continuarão recebendo atualizações operacionais e de segurança pelo menos até outubro de 2022.
É um movimento incomum. Os aparelhos das linhas Pixel 2 e Pixel 3 foram descontinuados somente após 18 meses do lançamento. Também é estranho em relação ao posicionamento de suas rivais. A Apple, por exemplo, ainda comercializa o iPhone XR, lançado em outubro de 2018, e só deve aposentar o aparelho quando lançar o iPhone 12. A Samsung, por sua vez, ainda vende os modelos da linha Galaxy S10, de março de 2019.
Ainda não se sabe os motivos pelos quais o Google decidiu matar a sua atual linha de smartphones sem ao menos apresentar um novo aparelho no mercado. No mês passado, a companhia parou a produção dos aparelhos Pixel 3A e 3A XL. Havia, então, a expectativa de que isso visava aumentar as vendas do Pixel 4 e até mesmo lançar uma linha A, com aparelhos mais baratos, para a atual geração, o que aconteceu na segunda-feira (3).
O Google não deve ficar sem um aparelho considerado topo de linha por muito tempo. Nesta semana, um site da empresa na França confirmou que a companhia está realmente trabalhando na quinta geração do smartphones Pixel e que o aparelho deve ser lançado ainda neste ano, em outubro. Ainda não se sabe muitos detalhes sobre o gadget, mas espera-se que ele venha equipado com suporte para redes móveis 5G e abandone a tecnologia Motion Sense, para comandos gestuais.
O fim da linha atual de flagships do Google e o lançamento de aparelhos mais baratos pode mostrar que a companhia ainda não encontrou a sua identidade no mercado de smartphones. Mesmo conhecida por guiar o setor que usa o sistema operacional Android, a fabricante americana ainda não se se vai competir contra as gigantes da indústria pela liderança no futuro ou irá correr por fora para continuar a ser vista como uma ditadora de tendências que parecem ser mais aproveitadas por outras empresas do que pela própria empresa.
Em relação aos resultados, aliás, há um certo mistério sobre o desempenho nas vendas. Segundo a consultoria americana IDC, o Google vendeu 7,2 milhões de celulares em 2019. É um aumento de mais de 50% em relação aos quase 4,7 milhões de aparelhos vendidos em 2018. O resultado é expressivo, mas que ainda não incomoda as líderes de mercado. Para efeito de comparação, a Apple comercializou mais de 190 milhões de iPhones no mesmo período, de acordo a consultoria alemã Statista.
E a Apple não é nem a segunda colocada no ranking global de empresas que mais vendem aparelhos no planeta. A companhia detinha apenas uma fatia de 13,3% do mercado de smartphones no primeiro trimestre deste ano, que caiu 11,9% no período para 275,1 milhões de vendas. A fatia da empresa da maçã é menor do que a de Huawei e Samsung, com 17,8% e 21,2% do mercado respectivamente. Xiaomi (10,7%) e Vivo (9%) completam a lista.
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Em dados oficiais, a receita obtida com os aparelhos é descrita no item “Outros” do balanço da companhia, que agrupa ainda o faturamento obtido com a venda de outros dispositivos físicos, como alt0-falantes inteligentes, por exemplo. Soma-se, ainda, a receita obtida com a loja de aplicativos Play Store e com verbas obtidas com o YouTube e que não contabilizam publicidade.
Assim, é difícil estimar o quanto o Google está faturando com a venda dos aparelhos. Da receita de 38,2 bilhões de dólares obtida no segundo trimestre deste ano, pela primeira vez em queda na história, uma fatia de 5,1 bilhões de dólares é descrita como “Outros”. Houve aumento de 25,5% em relação a 2019. Mesmo com a alta, este valor representa somente apenas pouco mais de 13% da receita total do Google, ganha dinheiro mesmo com seu serviço de buscas.
Isso tudo parece pouco importar para os acionistas da Alphabet, a controladora do Google que tem ações listadas na Nasdaq. No momento da publicação desta reportagem, a companhia estava avaliada em 1,02 trilhão de dólares e acumula alta de 9,7% desde o começo do ano. Entre o fim de março, quando os papéis estiveram em seu menor valor (1.056 dólares cada um) desde janeiro de 2019, as ações já subiram quase 42%.