Protótipo do carro do Google que se dirige sozinho e não tem volante (Divulgação/Google)
Da Redação
Publicado em 4 de setembro de 2014 às 21h47.
Londres - Um VW Golf vermelho anda para frente e para trás ao manobrar em um espaço de estacionamento na cidade termal inglesa de Cheltenham.
As tentativas vacilantes parecem as de um motorista inexperiente, e em algum sentido são -- só que não da pessoa que está sentada ao volante.
O carro se dirige sozinho para a vaga sem um arranhão.
O homem que está no assento do motorista, e que mantém suas mãos pousadas confortavelmente sobre as pernas, exceto em ocasionais mudanças de marcha, é um mero espectador dessa demonstração da mais recente tecnologia de carros automatizados.
Embora a ideia de que carros-robôs nos transportem rapidamente até nossos destinos possa soar como coisa de ficção científica, a tecnologia existe e está pronta para o mundo real. O que é mais difícil de determinar é o risco associado ao surgimento desses veículos.
Se as fabricantes de veículos efetivamente assumirem o volante, isso as coloca na linha de tiro das ações de responsabilidade decorrentes de acidentes.
Os veículos também estariam expostos a ameaças de hackers que poderiam sequestrar carros e potencialmente controlá-los remotamente, transformando-os em mulas para finalidades criminosas ou até mesmo usando-os como armas.
“Um hacker poderia redirecionar toda uma parte do trânsito para travar uma cidade” ou até “sequestrar pessoas”, disse Wil Rockall, diretor de proteção à informação da empresa de consultoria KPMG em Tonbridge, Inglaterra.
“O risco deixa de ser o de erro humano do motorista ou do usuário da estrada e passa a ser o de erro humano do desenvolvedor”.
Classe S autônomo
Contudo, esses cenários pessimistas não estão interrompendo os esforços para dar impulso à tecnologia, que deverá se tornar um mercado de US$ 87 bilhões até 2030, segundo a Lux Research, que tem sede em Boston.
O trabalho de estacionamento autônomo do Golf, na apresentação de agosto da Volkswagen AG, é apenas um exemplo da tendência.
Google lançou um protótipo caricatural de um carro autônomo em maio.
No ano passado, um Mercedes-Benz Classe S dirigiu-se sozinho por 100 quilômetros em trânsito real durante o dia em estradas alemãs lotadas e sua empresa-mãe, a Daimler AG, está desenvolvendo caminhões autônomos.
A perspectiva de que carros sejam controlados por sistemas de navegação on-line está preocupando órgãos reguladores e agentes da lei.
O FBI concluiu que os hackers podem assumir o controle de veículos automatizados e usá-los como “armas letais”, reportou o jornal The Guardian em julho, citando um estudo obtido pelo jornal britânico.
Contudo, também há benefícios. O relatório do FBI reconheceu que a polícia pode monitorar mais facilmente os carros conectados. De qualquer maneira, as fabricantes de veículos estão atentas aos riscos.
‘Pedra no caminho’
“A maior pedra no caminho para qualquer uma dessas coisas é a segurança do carro e também a responsabilidade civil”, disse Gavin Ward, porta-voz da Bayerische Motoren Werke AG.
“Esses são os tipos de problemas que ainda estão sendo trabalhados”. A fabricante com sede em Munique tem testado a tecnologia autônoma em rodovias alemãs.
A Volkswagen, que tem sede em Wolfsburg, Alemanha, também está atenta às táticas dos criminosos cibernéticos, para estar sempre um passo à frente, disse o porta-voz da empresa, Paul Buckett, no dia da demonstração em Cheltenham.
O Google não disponibilizou uma fonte para comentar os riscos associados aos seus projetos automotivos.
Para limitar o risco imposto por hackers, os carros autônomos precisarão de “muito mais segurança” e isso exige um monitoramento constante, disse Andrew Miller, diretor técnico da Thatcham Research, que fornece informações para seguradoras de veículos britânicas.
“Assim que surgem softwares e processos de criptografia, os criminosos aparecem com formas de contorná-los”.
Além dos riscos presentes nos piores cenários, como o de sequestro remoto de carros, existe um questionamento mundano a respeito de quem culpar em caso de um acidente quando o erro humano deixa de ser um problema.
Isso poderia aliviar o encargo sobre o motorista, já que a responsabilidade passaria a ser das fabricantes de veículos.
“É difícil precisar o impacto que os carros autônomos terão sobre nós, mas nós sabemos que existirão problemas”, disse Alan Gairns, gerente de produto para seguros de casas e veículos da Allianz SE no Reino Unido.