Horário de verão: É melhor se preparar com antecedência neste ano (foto/Thinkstock)
Gustavo Gusmão
Publicado em 31 de outubro de 2018 às 13h00.
Última atualização em 31 de outubro de 2018 às 16h01.
São Paulo — O horário de verão brasileiro está dando dor de cabeça para as empresas de tecnologia. Depois de vários smartphones terem adiantado a hora no dia errado, o Google basicamente reconheceu que mais problemas podem acontecer. Tanto é que, em um post em seu blog oficial para o Brasil, recomendou adiantar os smartphones com Android manualmente para o horário de verão neste fim de semana — principalmente "se você tem um compromisso importante que não pode perder no dia 4 de novembro", escreveu a companhia.
A empresa reforça que o ajuste deve ser só temporário. O processo é simples: desative a opção "Data e hora automáticas" e "Fuso horário automático" nas configurações de data e hora para impedir que o aparelho atualize por conta própria na virada do dia. Depois, já no domingo, a companhia recomenda desfazer essas configurações, re-ativando a atualização automática e reiniciando o aparelho. Dessa forma, quando re-ligado, o celular estará de acordo com o sinal enviado pelas operadoras.
Mas por que isso é necessário?
A medida é basicamente preventiva e está diretamente relacionada ao que aconteceu no fim de semana dos dias 20 e 21 de outubro. Na virada daquele sábado para domingo, vários smartphones, computadores, máquinas de cartão e até relógios nas ruas se adiantaram de forma precipitada para o horário de verão.
A causa não teve nada a ver com as operadoras (não desta vez, pelo menos), como ressaltou o SindiTelebrasil. O problema foi com as fabricantes dos eletrônicos e com os desenvolvedores de sistemas operacionais, como reforçou a EXAME o Núcleo de Informações e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Segundo o órgão (e o Google, se referindo ao Android), uma atualização não foi feita no software dos aparelhos. Dessa forma, eles simplesmente não reconheceram a mudança na data do horário de verão brasileiro decretada no fim do ano passado.
Esse update necessário para resolver o problema muito provavelmente não vai chegar a todos os aparelhos com o sistema do Google a tempo. Por isso a recomendação da empresa.
E como isso teria evitado o problema?
Aqui, novamente, convém entender como os eletrônicos definem a hora. Enquanto computadores usam os chamados Network Time Protocols (NTPs, apresentados aqui) para se atualizar, os smartphones se baseiam em informações enviadas pelas redes das operadoras. Mas essas duas não são as únicas fontes: tanto os sistemas dos desktops quanto os dos celulares contam com um banco de dados de fuso horário integrado em seu código.
Essa espécie de tabela "avisa" o aparelho que é hora de mudar para o horário de verão. Ela é organizada por uma autoridade global chamada Internet Assigned Numbers Authority, ou IANA, uma parte do ICANN — o órgão que coordena os endereços de sites na internet. Os dados são sempre atualizados para refletir eventuais mudanças propostas por governos ao redor do mundo, como a feita pelo governo brasileiro em 2017.
No final do ano passado, o presidente Michel Temer decretou uma alteração no horário de verão no país. Em decorrência das eleições, em vez de começar no terceiro domingo de outubro, como era regra desde 2008, o período só teria início no dia 4 de novembro, primeiro domingo de novembro. A informação chegou à IANA, que atualizou a tabela. Caberia aos desenvolvedores de sistemas operacionais aplicar o novo banco de dados nos sistemas.
O problema é que nem todo mundo fez isso a tempo. Pelos relatos, as empresas por trás de máquinas de cartão e relógios nas ruas não fizeram atualizações a tempo. A Microsoft, por sua vez, disponibilizou o ajuste em updates no Windows, como deu a entender na página de suporte do sistema. A Apple não se posicionou sobre o caso, mas, ao que parece, as últimas versões do macOS e do iOS resolvem o problema nos Macs, iPhones e iPads. E o Google, por fim, não conseguiu entregar uma atualização para todos os aparelhos que usam Android — e a fragmentação da plataforma tem uma parcela de culpa nessa história toda.
Muitos Androids, muitas mudanças
Mudar uma única informação em uma tabela até soa simples, mas não é bem assim quando a alteração precisa ser feita no Android. O sistema está hoje na versão Pie, 9.0, mas há muitas outras ainda ativas no mercado. Até hoje, por exemplo, mais de 20% dos aparelhos no mundo ainda usam o Android 6.0, o Marshmallow, e quase 30% estão com o 7.0 ou 7.1, o Nougat.
Fora isso, as fabricantes costumam modificar a plataforma para incluir mais recursos e deixá-la com um visual próprio. E ainda há o fator operadoras no caminho, que por vezes também fazem modificações no SO. Tudo isso dificulta o processo de atualizar o sistema.
Em suma, o Google precisa disponibilizar a correção da tabela para diferentes versões do Android. Além disso, precisa contar com as fabricantes para que entreguem a correção em uma atualização para todos os usuários — um processo que pode levar meses, isso quando acontece.
A empresa até tentou contornar essa dificuldade no Android 8.1. Um novo mecanismo tornou possível disponibilizar essas correções no banco de dados de fuso horário mais facilmente, sem precisar fazer um update no sistema todo. O problema é que essa edição do sistema é usada por apenas 7,5% dos aparelhos com Android no mundo. Ou seja, uma parcela ínfima dos brasileiros tem acesso a ela. O melhor para não perder a hora no próximo domingo, portanto, é ajustar o relógio na mão mesmo.