O vice-presidente da Google, Sundar Pichai, no Congresso Mundial de Telefonia, em Barcelona (Lluis Gene/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2015 às 11h36.
Barcelona - Montar seu smartphone peça por peça, para ter um dispositivo totalmente personalizável e durável: com seu novo projeto piloto Ara, a Google quer superar seus principais concorrentes, como a Apple.
A gigante americana espera criar uma verdadeira indústria em torno deste novo modelo, que oferece, segundo ela, um acesso facilitado à internet para pessoas em países emergentes.
Este smartphone, ainda em fase de protótipo, foi apresentado no Congresso Mundial de telefonia móvel em Barcelona.
O princípio é simples: consiste em uma estrutura básica sobre a qual são enxertados os diferentes módulos - tela, bateria, câmera, sensores, 3G, WiFi, etc - através de eletroímãs. O Google planeja oferecê-lo em três tamanhos.
Uma empresa americana envolvida no projeto, Yezz, veio representar a ideia em Barcelona. Exposto em uma vitrine, o protótipo não desperta grande atenção, mas os blogueiros e jornalistas não hesitaram em entrar na fila para vê-lo.
Sua vantagem? Não haverá a necessidade de mudar de aparelho quando uma peça quebrar ou quando um novo modelo mais eficiente sair no mercado, basta mudar os módulos em questão com um simples clique.
O aparelho exposto em Barcelona recebe uma tela de alta definição, uma bateria, uma conexão com um carregador, uma câmera, uma conexão 4G, chips e elementos de tamanho e espessuras diferentes.
"A versão final não terá esse aspecto nem peso", assegura Marion Chaparro, representante da Yezz na Europa.
O Google promete uma durabilidade de cinco ou seis anos para o esqueleto de seu smartphone, contra os dois anos em média atuais. Resta ver por quanto tempo cada módulo funcionará.
"É bom para o meio ambiente" combater a obsolescência programada, considera Annette Zimmermann, especialista do setor de telecomunicação do escritório Gartner, com sede na Alemanha.
Alguns start-up trabalham em projetos similares, mas nenhum nesta amplitude.
Reforço da predominância do Android
A ambição do Google é imensa. O projeto "pode remodelar o cenário da telefonia móvel", assegurou seu empresário Paul Eremenko em janeiro ante uma plateia de programadores.
Destina-se a seis bilhões de clientes em potencial, não menos que isso, o um "bilhão de usuários atuais de smartphones e cinco bilhões de usuários potenciais", em sua maioria nos mercados emergentes, garantiu sem reservas Paul Eremenko.
Um número mais modesto de pessoas poderá testar o produto em breve. A empresa americana planeja testá-lo em larga escala em Porto Rico até o final de 2015.
"Vamos ver se o público gosta", adverte Annette Zimmermann, e se o Google consegue desenvolver uma rede de distribuição adequada.
A ideia tem seduzido os fãs de tecnologia, mas não é certo que encontrará o seu público, confirma Ben Wood, analista da CCS Insight, com sede na Grã-Bretanha. A tendência caminha em direção aos telefones mais finos, com uma tela grande, enquanto um modelo modular poderia ser "maior, com um design não muito elegante".
O diretor do projeto reconhece que há um longo caminho a percorrer. Os consumidores desejam uma maior personalização de produtos, mas tem dificuldade em decidir quando dadas muitas opções, explicou em janeiro. "Precisamos resolver este paradoxo".
O Google também rejeita, pelo menos por enquanto, produzir módulos com impressoras 3D, já que a técnica ainda não foi desenvolvida suficientemente para este fim.
Outra incógnita é qual modelo de negócio poderia ser desenvolvido em torno deste novo produto, comenta Jérôme Colins, especialista em questões de telecomunicações da empresa Roland Berger, de Paris.
O Google ainda não fala de preço de venda, evocando apenas um custo de produção entre 50 e 100 dólares para um modelo de entrada.
"O Google não está tentando ganhar dinheiro diretamente com o Ara, a empresa procura essencialmente a divulgação de smartphones em países de baixo poder aquisitivo e unir o ecossistema em torno do Android", o sistema operacional já dominante no setor de smartphone, diz Jérôme Colin.