Google: como a empresa lida com a divulgação do jornalismo (Lucas Agrela/Site Exame)
Maria Eduarda Cury
Publicado em 10 de junho de 2019 às 17h48.
São Paulo - 4,7 bilhões de dólares é o faturamento do Google com notícias em 2018, graças ao trabalho de publicitários e jornalistas na plataforma mundial de pesquisa. Para efeito de comparação, o valor é de 59% maior do que a bilheteria do filme Avatar, que foi de 2,7 bilhões de dólares.
A informação, divulgada pelo jornal americano The New York Times, é dada pela associação comercial News Media Alliance, que conta com, em média, 2 mil jornais norte-americanos. Segundo a análise, o dinheiro vem de propaganda digital e do uso do serviço Google Notícias, onde todo o conteúdo é produzido por terceiros.
David Chavern, presidente da associação, afirma que é necessário dar alguma parte desse valor para os profissionais da comunicação que têm seu trabalho exposto no Google. "Eles ganham dinheiro com esse acordo, e precisa haver um resultado mais favorável para a mídia.", diz ao NYT- que faz parte da aliança.
O valor divulgado não abrange os números que a empresa coleta a partir de dados pessoais, como cada clique individual em um artigo específico. Por conta disso, a associação acredita - e teme - que a receita do Google seja conservadora, e não tenha intenção de partilhar o ganho. No ano passado, os Estados Unidos receberam mais de 5 bilhões de dólares a partir de anúncios digitais.
Essa informação demonstra que há um problema emergente sobre o relacionamento entre as empresas e o meio jornalístico/publicitário. Terrance C.Z. Egger, executivo-chefe do jornal The Philadelphia Daily News, declara que o estudo confirma o que muitos já sabiam. "A atual dinâmica existente nas relações entre as plataformas e a nossa indústria é devastadora", relata Egger.
O estudo será divulgado com um dia de antecedência, devido a uma audiência que ocorrerá amanhã na Câmara dos Representantes sobre a disparidade dessa relação mídia-tecnologia. É esperado que a discussão abra espaço para que o Journalism Competition and Preservation Act - projeto de lei que fala sobre preservar a produção jornalística e sua concorrência nos Estados Unidos - seja aprovado.
Até o momento, o apoio ao projeto está dividido tanto no Senado quanto na Casa Branca. Caso o projeto passe e se torne oficial, será possível que os editores de notícia negociem diretamente com os responsáveis pelas plataformas digitais para que a receita seja dividida de maneira justa. "Acredito que todos, de leitores a escritores e políticos, entendem que, se o jornalismo for embora, é um resultado horrível para a questão de sermos ou não capazes de sustentar a república.", disse Chavern.
O Google disse ao NYT que esses cálculos não são verdadeiros. A companhia ainda relatou que o serviço de notícias aumenta em 10 bilhões o número de acessos dos sites em sua plataforma, e que se esforçaram para ser uma tecnologia colaborativa e parceira em nível mundial.
Ao lado do Google, uma outra maneira de divulgar bem o seu conteúdo é pela rede social Facebook. Juntando os dois, eles somam mais de 80% dos redirecionamentos virtuais para outros sites. Devido ao papel que tem, eles assumem uma grande parte na divisão de receita. No entanto, por serem sites tão acessados pelos internautas, os jornais se beneficiam de seu apoio constante.
Na semana passada, durante o Google for Brasil, evento mais importante da empresa no país, o Google anunciou iniciativas para auxiliar o jornalismo no país. Entre elas, está uma bolsa de 1 milhão de reais para uma startup inovadora no ramo. As inscrições para o programa podem ser feitas por meio do site do Google News Initiative.