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Gás e petróleo de xisto, um fenômeno que sacode o planeta

O gás e o petróleo de folhelho (conhecidos como de xisto), que já mudaram o panorama nos EUA, começam a modificar também a paisagem energética mundial

extração de xisto (©afp.com / Leon Neal)

extração de xisto (©afp.com / Leon Neal)

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Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2013 às 06h58.

Paris - O gás e o petróleo de folhelho (conhecidos como de xisto), que já mudaram o panorama nos Estados Unidos, começam a modificar também a paisagem energética mundial, apesar de suas ramificações e impactos serem incertos.

Uma das consequências mais impactantes é que o carvão americano, agora preterido pelas elétricas locais que preferem usar gás de xisto, mais barato, está sendo exportado a preços baixos à Europa e à Ásia.

Isso faz com que as centrais elétricas de carvão no Velho Continente se tornem atrativas, em detrimento das centrais de gás e apesar das altas emissões de CO2.

Além disso, os profissionais do setor esperam que, nos próximos anos, o gás americano comece a ser exportado para a Ásia e a Europa, sob a forma de gás natural liquefeito (GNL).

"Três projetos de terminais de exportação (e mais outro este mês) já receberam as licenças necessárias (...) e, em 2016, o GNL começará a ser exportado, o que vai alterar as relações entre os mercados do gás" em cada continente, explicou Tim Gould, analista da Agência Internacional da Energia, em uma conferência no começo de setembro.

"Os Estados Unidos não exportarão gás maciçamente, já que vão tentar manter os preços no nível mais baixo possível no mercado interno, mas, sem dúvida, haverá mais de uma dezena de terminais de exportação para a Europa e a Ásia", prediz Jérôme Ferrier, presidente da União Internacional do Gás.

Novo mapa

Na América do Norte, o mercado de petróleo começa a ser afetado tanto pela extração de gás de xisto ou 'shale gas' como pelas jazidas de petróleo de xisto ou "compacto" (tight oil, também extraído por fratura).

Com este petróleo não convencional "os Estados Unidos recuperam o nível de produção de petróleo que tinham há 25 anos", de mais de 7 milhões de barris diários, no ritmo atual, disse Olivier Appert, presidente do IFPEN (ex-instituto francês do petróleo).

Se forem somadas as produções americana e canadense, "a América do Norte está próxima da autossuficiência em petróleo e gás" e "o fato de que os Estados Unidos se transformarão em 2020 no maior produtor de petróleo do mundo na frente da Arábia Saudita muda muitas coisas", alerta.

Contudo, se o alcance e a duração deste fenômeno continuar sendo objeto de debate, pelo menos temporariamente mudará o mapa das trocas comerciais, já que os Estados Unidos serão muito menos dependentes do petróleo do Oriente Médio. E a China, que tem uma sede insaciável de hidrocarbonetos, receberá cedo ou tarde o título de maior importador de petróleo do mundo.

A consultoria WoodMackenzie calculou em agosto que a China vai se transformar no primeiro importador de petróleo em 2017 e que seus gastos com petróleo chegarão a meio trilhão de dólares em 2020.

Ao mesmo tempo, a dos Estados Unidos cairá do máximo de 335 bilhões de dólares registrado em 2008 para 160 bilhões em sete anos.

Trata-se de um novo equilíbrio que ninguém se atrevia a prever há alguns anos e que deixa os produtores tradicionais atônitos.

Com o petróleo de xisto, "a Arábia Saudita teve, no começo, a mesma atitude da Gazprom (companhia de petróleo russa) com o gás de xisto, o considerando uma bolha especulativa a ponto de estourar. Contudo, hoje é uma questão importante para eles", a ponto de a OPEP ter criado um grupo de estudos sobre este assunto, disse Appert.

Appert não acredita que o xisto leve os Estados Unidos a se desentenderem com o Oriente Médio, nem que a China possa chegar a substituí-lo, já que esses países têm interesses diplomáticos muito mais amplos.

A revolução americana

Projetos de exploração de hidrocarbonetos de xisto serão desenvolvidos em todos os continentes.

A "revolução" americana de gás de xisto não parece estar se reproduzindo em outras partes. Em qualquer caso, não com a mesma intensidade, devido, sobretudo, aos temores ambientais, que geram uma forte oposição em quase todo o mundo.

"Os Estados Unidos são atípicos, já que os proprietários das terras são proprietários também do subsolo e, apesar da oposição local, estão ávidos por perfurar. Na Polônia, Romênia ou Grã-Bretanha, por exemplo, não é tão fácil", reconhece Ferrier.

A China, que contaria com as maiores reservas mundiais de gás de xisto junto com a Argentina, segundo estimativas americanas muito especulativas, começa a explorar, com resultados, até agora decepcionantes.

Contudo, as necessidades energéticas da China "são tamanhas que o país necessita de todas as fontes exploráveis e, se houvesse gás de xisto lá, provavelmente seria explorado", explica Ferrier.

O problema também não é comum na Europa, muito dependente do gás russo, agora que as jazidas do mar do Norte secam.

Apesar de a União Europeia até agora não ter conseguido adotar uma estratégia comum, este assunto é altamente estratégico. "Estou certo de que a opção do gás de xisto é um bom instrumento em nossas negociações a longo prazo com a Gazprom e Rússia", disse em maio o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger.

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