Julian Assange, fundador do site Wikileaks que divulgou os documentos sobre a guerra no Afeganistão (AFP/Leon Neal)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Londres - O fundador da organização Wikileaks, Julian Assange, defendeu hoje a confiabilidade dos milhares de documentos militares publicados em seu site, que revelam importantes dados sobre a guerra no Afeganistão e o comportamento das tropas aliadas.
"Não temos nenhuma razão para duvidar da confiabilidade destes documentos", disse Assange em entrevista coletiva em Londres para falar sobre o vazamento de 90 mil documentos americanos, que oferecem uma nova visão sobre as operações no Afeganistão entre janeiro de 2004 e dezembro de 2009.
Os documentos revelam novos detalhes sobre mortes de civis, a existência de forças secretas especiais dedicadas a "caçar" dirigentes insurgentes e a preocupação de que os serviços paquistaneses de inteligência podiam estar ajudando os talibãs.
"Nunca publicamos informações que não estivessem confirmadas ou revisadas", disse Assange, que considerou que os comunicados de condenação dos Governos dos Estados e Reino Unido pela publicação destes documentos são a melhor prova de sua veracidade.
Assange, que fundou o Wikileaks há três anos, disse que estas revelações "determinarão a maneira na qual entendemos como foram estes últimos anos de guerra e como tem que se mudar a maneira na qual se enfrenta o conflito".
O fundador de Wikileaks reconheceu que os relatórios divulgados não têm a consideração de "muito secreto", já que provêm de unidades regulares do Exército americano.
"Essa não é a história autêntica deste material. O material autêntico é que a guerra é uma coisa maldita atrás da outra. O importante são os contínuos pequenos eventos, a contínua morte de crianças, de insurgentes e de forças aliadas", argumentou.
Assange insistiu nas operações da chamada Task Force 373, um "esquadrão da morte" das forças especiais americanas, encarregado de assassinar uma série de pessoas incluídas um uma lista cuja configuração era arbitrária.
"Mataram pelo menos sete crianças e outros inocentes", denunciou o fundador do Wikileaks, que ressaltou também que algumas pessoas eram incluídas nessa lista "por recomendação de Governos locais ou outras autoridades com poucas provas e sem supervisão judicial".
Após as advertências de responsáveis políticos e militares de Londres de que o vazamento pode colocar em perigo às tropas britânicas no Afeganistão, Assange afirmou que "pelo que sabemos ninguém foi danificado pelo que publicamos".
"Tentamos nos assegurar que este material não coloca ninguém em perigo. Todo o material tem mais de sete meses, por isso não pode ter consequências operacionais, embora possa ter consequências no terreno da investigação", disse.
Outro ponto interessante das informações, na opinião de Assange, é constatar que após a chegada de Barack Obama à Casa Branca houve uma ênfase em reduzir o número de baixas civis, sobretudo em consequência dos ataques aéreos, mas que esta política não teve efeito por uma política de silêncio desde a base.
"O que vemos é que é muito difícil mudar as coisas no Exército americano. A cobertura dos crimes começa nos níveis mais baixos e segue até os níveis mais altos", afirmou.
Este australiano de 39 anos lembrou que o Governo de seu país rejeitou um pedido de Washington para que fizesse um acompanhamento de suas atividades à frente do Wikileaks, mas assegurou que nem ele nem seus colaboradores se sentem ameaçados no Ocidente.
Assange insistiu em que esta é "uma história jornalística" e que seguirá colaborando com três publicações -"The Guardian", "The New York Times" e "Der Spiegel" - para divulgar todos os documentos.
Até agora foram publicados 75 mil dos anos 90 mil documentos e o fundador do Wikileaks disse que os outros 15 mil sairão também à luz "quando a situação de segurança no Afeganistão permitir".
"É preciso exercer o bom senso, o que não quer dizer fechar os olhos", acrescentou.