fukushima (Reprodução)
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2013 às 13h28.
Okuma - Isolada pelo invisível manto da radiação, a usina nuclear de Fukushima esconde em seu interior milhares de trabalhadores que, protegidos por seus uniformes protetores, lutam contra a crise atômica em meio a uma paisagem apocalíptica.
A cada dia cerca de 700 veículos entram e saem da usina, um bunker com normas muito restritivas, aberto de maneira muito excepcional à imprensa para uma visita na qual é proibido falar com os empregados, tirar fotografias ou fazer vídeos não autorizados e entrar com celulares, entre outras diretrizes.
Dois anos depois do acidente nuclear causado por um tsunami, 3,5 mil trabalhadores enfrentam diariamente o desafio de desmantelar a central, uma trabalhosa tarefa que pode demorar mais de 40 anos.
Chegar à central, coração da pior crise nuclear depois da de Chernobyl em 1986, não é nada simples. Como uma fronteira entre as zonas de exclusão e a central, a viagem começa no J-Village, um enorme complexo da federação japonesa de futebol situado a 20 quilômetros da usina e convertido no quartel-general da operadora Tokyo Electric Power (TEPCO).
Sobre os campos de gramado artificial, as bolas e as balizas deram lugar a tendas para medir a radiação, contêineres transformados em casas, montanhas de sacos de resíduos meticulosamente organizados, e escritórios de campanha.
Na entrada principal do complexo esportivo, e no começo da manhã, longas filas de trabalhadores, vestidos com uniformes protetores azuis, aguardam sua vez para pegar os ônibus que os levam à usina.
Antes da crise atômica, cerca de 60% dos trabalhadores da TEPCO viviam nos pequenos povoados ao redor da usina, dois quais foram evacuadas cerca de 52 mil pessoas, como contou à Agência Efe um dos guias da elétrica.
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Várias delas agora estão afastadas de suas famílias, amontoadas em pequenos quartos de hotel a poucos passos do complexo, onde proliferaram alojamentos modernos e funcionais parecidos com quartéis.
O caminho de 20 quilômetros para a central, que demora uma hora para ser percorrido, reflete a deterioração e abandono das áreas evacuadas, paradas no tempo depois do devastador terremoto e tsunami de 2011, e nas quais a natureza cresce selvagem em sua tentativa de reivindicar o terreno perdido.
Na cidade de Tomioka, na metade do trajeto para a usina, onde o terremoto derrubou casas e edifícios, a polícia bloqueou a estrada marcando o ponto desde o qual só se permite a passagem a trabalhadores da central.
Já dentro da usina de Fukushima Daiichi, é perceptível o constante movimento de caminhões, trabalhadores e ônibus, e as medidas de segurança se multiplicam em proporção à magnitude da tragédia atômica.
O primeiro passo depois de passar pelos controles de entrada é subir ao edifício principal, onde depois de uma leitura de radiação, os técnicos ajustam um equipamento de proteção com máscaras, luvas reforçadas com esparadrapo, trajes isolantes, dosímetros e um colete com compressas de gelo para combater o calor.
O enorme complexo da central está dividido em duas zonas, uma dominada por encanamentos, instalações temporárias e os cerca de mil tanques construídos para acumular a água radioativa, e a temida área onde ficam os reatores danificados, um espaço onde a radiação é letal e ao qual poucos têm acesso.
As quatro unidades principais, epicentro da crise nuclear, estão localizadas de frente para o mar, separadas da área principal da central por uma pequena colina, uma cerca de arame farpado e um muro de pedras construído depois da tragédia.
Nesse lugar, o dosímetro dispara até os 1.240 microsievert por hora, o calor começa a apertar e a sensação de asfixia é progressiva. Uma ínfima aproximação ao esforço titânico diário dos trabalhadores da usina.
Em frente às unidades estão amontoados carros, guindastes destruídos e restos de edifícios em ruínas depois da passagem do devastador maremoto, enquanto os trabalhadores seguem em alerta para possíveis complicações, sabendo que esta batalha apenas começou.