Tecnologia

Free Fire: o jogo que faz o Brasil olhar para o eSports no celular

Fernando Mazza, líder de operações da Garena, comenta sobre o cenário democrático do jogo e o investimento nas competições

Free Fire: jogo promove maior inclusão social no eSports (Garena/Reprodução)

Free Fire: jogo promove maior inclusão social no eSports (Garena/Reprodução)

ME

Maria Eduarda Cury

Publicado em 25 de março de 2020 às 05h55.

Última atualização em 17 de setembro de 2020 às 18h53.

Entrando para a lista dos campeonatos nacionais de jogos eletrônicos, a Liga Brasileira de Free Fire teve sua primeira edição em 2020. O jogo, desenvolvido pela Garena, é um título de batalha real (battle royale) para celular e, em 2019, foi o game mais baixado do mundo na categoria de jogos. Somando números da App Store e da Google Play Store, mais de 450 milhões de jogadores mundialmente. Por dia, são 60 milhões de jogadores ativos.

Fernando Mazza, líder de operações da Garena no Brasil e que esteve envolvido na criação do Campeonato Brasileiro de League of Legends, é o responsável pela idealização do torneio e falou com a EXAME sobre a trajetória e o investimento em esporte eletrônico no país.

Em 2012,  quando ocorreu a primeira edição do CBLOL, o cenário de eSports no Brasil ainda não estava consolidado. O termo é utilizado para representar as competições de jogos eletrônicos, que têm adquirido popularidade e profissionalismo na última década.

"Em ambos os casos, havia um desafio muito grande. No começo, não existia um cenário bem estabelecido para esportes eletrônicos de jogos de computador no país, e tivemos que realizar um trabalho elaborado", afirma Mazza. O executivo diz ainda que o cenário mobile para eSports começou a crescer apenas recentemente, e que a aposta em Free Fire, dada a sua popularidade, é uma boa forma de evoluir o formato.

Além do universo e personagens adorados pelos jogadores, a praticidade do game também deve ser levada em conta para justificar sua popularidade. Ele foi pensado para ser leve, e capaz de funcionar perfeitamente no maior número de smartphones possível.

"Sabíamos, por nossa experiência no sudeste da Ásia, que os jogadores em mercados onde dispositivos móveis estão crescendo gostam de jogos mais leves em consumo de dados, baixa demanda de poder de processamento e, ocupando menos espaço de armazenamento, sem comprometer a qualidade da experiência do jogo", declarou Mazza.

Entre os outros pontos pensados pela Garena para criar um bom envolvimento com o game no país, está a plataforma de streaming Booyah!, que é diretamente conectada com o jogo. Por meio dela, os jogadores podem transmitir suas partidas ao vivo, e os telespectadores conseguem acompanhar seus criadores de conteúdo favoritos enquanto recebem recompensas para evoluir no jogo - o que faz com a comunidade se torne mais concentrada e unida.

Segundo Mazza, esse é um dos motivos que faz com que o Free Fire tenha um cenário tão engajado pelos fãs e pelos criadores de conteúdo: "Muitas vezes, esses jogadores se tornam criadores de conteúdo, conhecendo e engajando outros, que acabam se tornando fãs. É difícil dar uma razão exata para o crescimento de ídolos ou criadores de conteúdo, mas em grande parte está ligada à paixão que tantos jogadores sentem pelo nosso battle royale", disse. É possível destacar, em especial, a equipe Loud, que conta com influencers e pro players no time e possui um canal no YouTube com 5,92 milhões de inscritos.

Para a realização da Liga, a empresa também construiu um estúdio de 1.200 metros quadrados em São Paulo, com a intenção de concentrar o campeonato em um local com uma estrutura pensada para jogadores mobile. A primeira etapa da Série A da LBFF, que terminou no dia 15 de março, contou com 12 times e a equipe Team Liquid levou o prêmio principal de 50 mil reais. Em segundo e terceiro lugar, respectivamente, as equipes Vivo Keyd e Loud receberam 30 e 20 mil reais. O campeão iria participar da competição Free Fire Champions Cup, que aconteceria em Jacarta, na Indonésia, mas foi adiada pelo novo coronavírus.

Além disso, pela segunda vez, o campeonato mundial de Free Fire acontecerá no Brasil. Em novembro deste ano, a Free Fire World Series acontecerá em solo brasileiro. Ano passado, o torneio aconteceu na Arena Carioca 1, no Rio de Janeiro, e a equipe do clube Corinthians levou a taça, e contou com mais de 2 milhões de telespectadores únicos globalmente; esse ano, porém, a cidade ainda não foi divulgada.

Como forma de democratizar o acesso aos esportes eletrônicos, a Garena também incentiva a participação feminina no cenário por adotar o formato de equipes mistas. Com as finais da Série C, que aconteceram no último domingo, 22, oito equipes subiram para a próxima etapa da Série A e, entre elas, a SS E-sports  - que tem duas pro players mulheres como titulares, Tamires Letícia e Laura Bueno.

Ao lado da equipe Loud, que conta com as jogadoras reservas Carolina Voltan e Bárbara Passos, responsáveis por levantar a taça do mundial Streamers Showdown, na Tailândia, em 2019, a SS é agora a segunda equipe da Série A a ter mulheres no elenco - mas a primeira a colocá-las como titulares. No caso dos telespectadores, a Garena informou à EXAME que cerca de 20 a 22% dos telespectadores das competições de Free Fire são mulheres, o que demonstra um crescimento do interesse feminino pelo cenário competitivo.

De acordo com a Newzoo, consultoria especializada no mercado de jogos e eSports, o cenário de eSports terá um aumento de 15,7% na receita global em relação ao ano de 2019, passando de 950,6 milhões de dólares para 1,1 bilhão de dólares. O relatório também destaca o sudeste da Ásia, a Índia e o Brasil como mercados que lideram o crescimento do setor em 2020.

A pandemia de Covid-19, que prejudicou diversos setores do entretenimento, também pode ajudar a impulsionar o setor de jogos, de forma geral - afinal, ele é um dos únicos meios de diversão que pede que a pessoa esteja em casa. Segundo a consultoria SuperData, muitos títulos - entre eles, Call of Duty: Warzone e Counter-Strike: Global Offensive - tiveram um aumento relevante no número de jogadores durante o último mês.

Para Mazza, da Garena, esse é um ano favorável para o eSports no celular. "O mercado de eSports mobile vem crescendo e isso é só o começo para o Brasil. As empresas não-endêmicas estão começando a olhar esse segmento com outros olhos, percebendo oportunidades de explorá-lo", afirmou. E, embora o pódio de jogos mobile que mais geram receita em 2020 não conte com Free Fire - onde se destacam games como Candy Crush Saga, Pokémon GO e Clash of Clans -, ele é o responsável por elevar a quantidade de interesse em jogos competitivos para celulares. Além disso, em 2019, a companhia de análise de aplicativos App Annie reportou que o jogo foi o mais rentável no Brasil.

Ainda que o cenário tenha ganhado destaque recentemente, títulos para movimentar o mundo dos torneios mobile não faltam. Opções como Call of Duty Mobile e Playerunknown's Battlegrounds são jogos que contém o estilo battle royale e já garantiram competições próprias, como a PUBG Mobile Star Challenge e outras competições amadoras. Seja por computadores ou celulares, o interesse por eSports em todo o mundo é crescente. 

Acompanhe tudo sobre:BrasilDuty FreeJogosJogos onlinePesquisas de mercadoSmartphones

Mais de Tecnologia

Segurança de dados pessoais 'não é negociável', diz CEO do TikTok

UE multa grupo Meta em US$ 840 milhões por violação de normas de concorrência

Celebrando 25 anos no Brasil, Dell mira em um futuro guiado pela IA

'Mercado do amor': Meta redobra esforços para competir com Tinder e Bumble