Fortnite: dona do jogo quer briga (Fortnite/Reprodução)
Tamires Vitorio
Publicado em 24 de setembro de 2020 às 11h14.
Última atualização em 24 de setembro de 2020 às 16h50.
A guerra contra os 30% cobrados pela loja de aplicativos da Apple, a App Store, parece ter se tornado um pouco mais sangrenta. Nesta quinta-feira, 24, além da Epic Games, dona do famoso game Fortnite, empresas como o Tinder e o Spotify se uniram para tentar acabar com a "ditadura" da gigante americana. A ideia das companhias é pressionar a maçã a reduzir as taxas que eles consideram "abusivas" --- mas que a Apple justifica como uma "forma de aumentar a segurança dos dispositivos".
O que acontece é que, para um desenvolvedor colocar um aplicativo na loja dos dispositivos Apple, ele precisa passar por diversas fases até conseguir colocá-lo para download --- uma das regras, inclusive, é pagar 30% à empresa. Além do Tinder, da Epic Games e do Spotify, até mesmo o Google, o Facebook e a Microsoft alegam que a fabricante do iPhone quer ter um monopólio sobre sua loja de apps e que "abusa do controle" que tem sobre ela.
A coalização criada pelas três empresas (Epic Games, Tinder e Spotify), chamada de "coalização para a justiça dos apps", na tradução literal do inglês "Coalition for App Fairness", foi anunciada nesta quinta-feira, 24. Segundo o jornal americano The Washington Post, o plano é pressionar as legislações e regulações para criar formas de conduzir melhor a operação das lojas de aplicativos, inclusive a do Google. Segundo as três companhias, "a maioria das lojas de apps fazem uma coleta excessiva de comissão dos desenvolvedores de software de acordo com as compras digitais dos usuários e sufocam a competição ao dar vantagens injustas aos seus próprios produtos e serviços".
"As plataformas que operam essas lojas de aplicativos não devem abusar o controle que eles têm e devem supervisionar essa área para garantir que seus comportamentos promovam um mercado competitivo e forneçam aos consumidores uma escolha equitativa", afirmou a coalização.
Um dos exemplos é que, apesar de permitir o aplicativo da Amazon, é impossível comprar livros para o Kindle em iPhones, por exemplo, uma vez que a companhia criada por Steve Jobs tem seu próprio serviço de compra de livros, o Apple Books.
É também possível instalar o aplicativo do Google Play Filmes, ver a biblioteca se o usuário já tiver comprado filmes, mas não adquirir novas produções nos dispositivos Apple, visto que ela tem seu próprio serviço de compra de filmes e outros podem ser adquiridos no streaming Apple TV+.
É daí que vem a queixa da Microsoft e do Google. Ambas as empresas alegam que as regras da maçã restringiram o que seus aplicativos de jogos podem fazer no iOS. Por exemplo, o serviço da Microsoft xCloud não está disponível no sistema operacional e o aplicativo de games do Facebook… simplesmente não tem games.
A Apple afirma que os aplicativos de streaming de games do tipo são permitidos em sua loja de aplicativos, mas com algumas condições: os jogos nos serviços da Microsoft e no do Google precisam ser baixados individualmente, e não diretamente dentro de apenas um aplicativo.
Os serviços de streaming de games do Google, o Stadia, no entanto, quer agir como uma plataforma para desenvolvedores e jogadores, sendo responsáveis individualmente pela decisão de quais games farão ou não parte de suas plataformas, mas a Apple quer ter um controle sobre quais jogos serão colocados, analisando cada um deles individualmente. O que quer dizer que, se um serviço destreamingde games tem 100 jogos, cada um deles será analisado e listado individualmente pela Apple — o que pode aumentar expressivamente o valor que a marca de Steve Jobs pode faturar em cima de cada um deles, uma vez que, como já foi citado anteriormente, a companhia recebe cerca de 30% dos lucros dos apps publicados em sua loja.
Agora a Apple pisou também no calo do aplicativo sueco de streaming de música, o Spotify, com o lançamento de seu pacote de assinaturas, o Apple One. Segundo o Spotify, o pacote de serviços aumenta ainda mais o monopólio da Apple. “Mais uma vez, a Apple está usando a sua posição dominante e práticas injustas para tirar vantagem de seus consumidores e privando seus clientes ao favorecer apenas seus próprios serviços. Nos queremos que as autoridades tomem uma ação urgente para restringir o comportamento anti-competitivo da Apple, que, caso não seja checado, irá causar um prejuízo irreparável na comunidade de desenvolvedores e ameaçar a nossa liberdade de ouvir, aprender, criar e nos conectar”, disse a empresa em um comunicado enviado à imprensa americana.
A Apple Music, serviço de streaming da companhia, passou dos 60 milhões de assinantes em junho deste ano, enquanto o Spotify tem mais de 138 milhões de inscritos. Mas o temor é claro, uma vez que as ações do Spotify caíram em até 7% um dia depois do pacote da Apple.
Já a Epic Games vem travando uma batalha longa com a Apple, após ter tido seu aplicativo mais rentável, o Fortnite, apagado da App Store. A guerra estourou no mês passado, e o jogo “Fortnite”, como resposta, lançou uma campanha contra a Apple chamada #FreeFortnite (#LiberteOFortnite, em português), na qual dava presentes anti-Apple para seus jogadores. O fato de a Epic não estar mais presente na App Store significa que os jogos não podem mais ser vendidos para cerca de 1 bilhão de usuários de iPhones, iPads e Macs. Dor de cotovelo ou medo de perder receita?
Segundo o site americano Business Insider, a Apple afirmou que “o interesse no aplicativo tinha caído em 70% em julho deste ano se comparado a outubro de 2019”. “Esse processo parece ser parte de uma campanha de marketing feita para aumentar o interesse no Fortnite”, afirmou a companhia — jogando ainda mais lenha na fogueira.
Ninguém sabe exatamente para onde vai essa briga. Mas uma coisa é certa: talvez a situação nem faça cócegas na Apple. As ações na manhã desta quinta, por exemplo, estavam em alta de 1,40% até o momento da publicação desta matéria, enquanto a do Spotify, por exemplo, caia 3,68%.