Interior do Hatch Citroën C3 Exclusive 1.6 16V com câmbio automático: aporte financeiro previsto para o período de apoio é de até R$ 1,6 milhão por ano (Marco de Bari/Quatro Rodas)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2012 às 16h08.
São Paulo – A FAPESP e a Peugeot Citroën assinaram, no dia 13 de novembro, um acordo de cooperação para apoio a pesquisa científica e tecnológica cooperativa entre pesquisadores em atividade no Estado de São Paulo e da empresa.
As duas instituições também anunciaram uma chamada pública de propostas para seleção de um projeto que visa à criação de um Centro de Pesquisas em Engenharia voltado para o desenvolvimento de motores a combustão movidos a biocombustíveis.
Com sede em uma instituição de pesquisa no Estado de São Paulo, o Centro terá apoio da FAPESP e da Peugeot Citroën por até dez anos para desenvolver projetos sobre motores de combustão interna, adaptados ou desenvolvidos especificamente para biocombustíveis, e sobre a sustentabilidade dos biocombustíveis.
O Centro poderá agregar integrantes de diferentes universidades e institutos de pesquisa, com a atribuição de executar projetos multidisciplinares na fronteira do conhecimento, transferir tecnologia, formar pesquisadores e disseminar o conhecimento produzido.
Entre os temas que deverão ser investigados estão novas configurações de motores movidos a diferentes biocombustíveis, incluindo veículos híbridos, redução de consumo e de emissões de gases, e também o futuro, os impactos e a viabilidade econômica e ambiental de biocombustíveis.
O aporte financeiro previsto para o período de apoio é de até R$ 1,6 milhão por ano, divididos em partes iguais entre as duas instituições parceiras.
O acordo foi assinado pelo presidente da FAPESP, Celso Lafer, e pelo presidente da Peugeot Citroën do Brasil, Carlos Gomes. Também estiveram presentes na cerimônia François Sigot, diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Estilo da PSA Peugeot Citroën na América Latina, Damien Loras, cônsul geral da França em São Paulo, Jean-Pierre Garino, adido de Cooperação e de Ação Cultural do Consulado Geral da França em São Paulo, José Arana Varela, diretor presidente do Conselho Técnico Administrativo da FAPESP, e Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
“O acordo é extremamente interessante em várias vertentes, como pelos temas de que trata, por se tratar de uma cooperação entre uma empresa e uma instituição de fomento à pesquisa, e também porque lida com grandes preocupações da FAPESP, como a de estimular a inovação tecnológica para contribuir com o aumento da competitividade do país”, destacou Lafer.
“Ficamos muito felizes em realizar esse acordo com a FAPESP em uma área em que já estamos trabalhando no Brasil e que representa uma linha de pesquisa muito importante para nós”, disse Lafer.
Brito Cruz destacou na cerimônia de assinatura do acordo que o Centro de Pesquisa em Engenharia representa uma atividade pioneira para a FAPESP, que já realizou ações similares, mas em escala menor. “A FAPESP tem desde 1998 um programa muito bem-sucedido, chamado Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs), que oferece financiamento a pesquisadores para realizarem projetos ousados, com duração de financiamento de até 11 anos, com a condição de que busquem parcerias com empresas ou na sociedade para usarem a tecnologia e o conhecimento que irão criar”, disse Brito Cruz.
“Vislumbramos na parceria com a Peugeot Citroën a possibilidade de estimular pesquisadores do Estado de São Paulo a organizar um centro desse tipo, mas já com um parceiro, que será cofinanciador do projeto. Será um centro focalizado na área e em temas relacionados a motores a explosão utilizando biocombustíveis”, afirmou.
Brito Cruz ressaltou que, além de contribuir para aumentar a atividade de pesquisa no Estado de São Paulo, o acordo de cooperação científica e tecnológica com a Peugeot Citroën auxiliará a FAPESP a reforçar a divisão do Programa FAPESP de Pesquisa em Bionergia (BIOEN) sobre aplicações de biocombustíveis em motores automotivos.
Lançado em 2008, o BIOEN tem cinco divisões: “Biomassa para Bioenergia" (com foco em cana-de-açúcar), "Processo de Fabricação de Biocombustíveis", "Biorrefinarias e Alcoolquímica", "Aplicações do Etanol para Motores Automotivos: motores de combustão interna e células a combustível" e "Pesquisa sobre sustentabilidade e impactos socioeconômicos, ambientais e de uso da terra".
“O acordo com a Peugeot Citroën traz a oportunidade de reforçar a divisão de motores do BIOEN de forma que ela poderá até se tornar mais forte do que as outras quatro divisões, porque agora terá um plano de pesquisa com duração de dez anos, que temos a certeza de que terá grandes resultados”, disse Brito Cruz.
Além disso, o acordo também poderá possibilitar aumentar o número de cientistas que realizam pesquisas no âmbito do Programa BIOEN, que hoje são 300, sendo 240 do Estado de São Paulo e 60 de diversos países.
Redução das emissões de poluentes
De acordo com Sigot, o Centro de Pesquisa em Engenharia possibilitará criar motores movidos a biocombustíveis, e não somente adaptar os motores movidos a gasolina, como vinha sendo feito pelas montadoras no país nos últimos anos. “Esperamos com esse acordo de cooperação científica e tecnológica irmos mais longe em termos de otimização dos motores para biocombustíveis, porque basicamente o que vínhamos fazendo era adaptar os motores desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos para os biocombustíveis no Brasil”, disse Sigot, à Agência FAPESP.
“Mas, adaptando nossos motores, nós fizemos algumas descobertas e vimos que há um caminho não explorado para não só adaptarmos os motores, mas para fazer a concepção e criação de motores novos movidos a biocombustíveis. Mas, para fazer isso, precisamos entender mais sobre combustão dos biocombustíveis, a interação deles com os componentes do motor e uma série de outras questões”, afirmou.
As pesquisas realizadas no âmbito do acordo, segundo Sigot, também possibilitarão desenvolver motores que emitam menos poluentes do que os existentes hoje, de modo a atender as regulamentações sobre redução de emissões de poluentes provenientes de automóveis que vêm sendo estabelecidas em diversos países.
Na Europa, a Comissão Europeia estabeleceu que em 2015 a média das emissões de dióxido de carbono (CO2) pelos veículos leves em circulação no continente deverá cair dos atuais 135 para 130 gramas por quilômetro e para 95 gramas por quilômetro em 2020.
No Brasil, onde ainda não há uma regulamentação específica, um decreto de lei que está em vias de ser assinado deve estabelecer que até 2017 os veículos de passageiros novos comercializados no país deverão diminuir suas emissões de CO2 das atuais 174 para 154 gramas por quilômetro. Em 2020 a meta deverá chegar a 135 gramas de CO2 por quilômetro.
“A corrida para redução das emissões de poluentes pelos veículos automotivos já foi lançada, e os clientes estão pedindo mais rendimento dos automóveis, com menos emissões. O acordo nos permitirá realizar pesquisas nessa linha que não conseguiríamos fazer sozinhos”, avaliou Sigot.
Em 2010, a subsidiária brasileira da Peugeot Citroën foi escolhida pela matriz mundial da montadora de veículos francesa como polo de excelência global em pesquisas sobre biocombustíveis e materiais verdes. Em função disso, passou a centralizar todos os investimentos da empresa em estudos sobre o tema realizados no mundo.
De modo a coordenar e potencializar os resultados de pesquisas realizadas nessa e em outras áreas, nos últimos anos a empresa vêm criando em parceria com universidades e instituições de pesquisa os chamados Open Labs.
Voltados para explorar uma área específica de pesquisa, como biocombustíveis, combustão e materiais, a empresa já abriu seis Open Labs na França e um na China – o primeiro e único fora do país de origem da montadora –, que são controlados por um laboratório de pesquisas central.
A empresa tem planos de inaugurar outros Open Labs no Brasil, que podem ser integrados ao Centro de Pesquisa em Engenharia, resultado do acordo com a FAPESP. “Esse tipo de parceria de longo prazo com uma instituição de fomento à pesquisa como a FAPESP, que tem tradição de realizar projetos em parceria com empresas, nos honra e nos motiva a construir algo que tenha aplicação prática e que possa, de alguma maneira, aumentar o capital intelectual do país na nossa área”, afirmou Gomes.
De acordo com o executivo, a montadora, que é a mais nova no Brasil, onde instalou uma fábrica há dez anos, possui três centros de pesquisa e desenvolvimento no mundo, sendo um em Paris, outro em Xangai, na China, e o terceiro em São Paulo onde trabalham mais de 500 engenheiros.