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Facebook permitiu que pesquisadores influenciassem usuários

Um experimento de 2012 influenciou temporariamente o que quase 700.000 leitores viam em seus feeds de notícias


	Facebook: foi alterado o número de comentários bons ou ruins postados 
 (Reuters)

Facebook: foi alterado o número de comentários bons ou ruins postados  (Reuters)

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Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2014 às 14h53.

Dallas - Um pesquisador da Facebook Inc. pediu desculpas após realizar um experimento que influenciou temporariamente o que quase 700.000 leitores viam em seus feeds de notícias, reacendendo preocupações de alguns clientes em relação a assuntos de privacidade.

Os pesquisadores alteraram o número de comentários bons ou ruins postados nos feeds de notícias dos usuários, que também contêm fotos e artigos, para um estudo publicado em 17 de junho na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

As pessoas para as quais foram mostradas menos palavras positivas acabaram escrevendo mais postagens negativas, enquanto o oposto ocorreu com as pessoas expostas a menos termos negativos, segundo o teste realizado em janeiro de 2012 envolvendo usuários do Facebook escolhidos aleatoriamente.

Adam Kramer, um cientista de dados que está entre os autores do estudo, escreveu ontem em sua página no Facebook que a equipe "sente muito pela forma como o trabalho descreveu a pesquisa e por qualquer ansiedade que isso tenha causado".

Os dados mostraram que as mensagens on-line influenciaram a “experiência de emoções” dos leitores, o que pode afetar o comportamento offline, disseram os pesquisadores.

Alguns usuários do Facebook usaram o Twitter para expressar sua indignação por considerarem a pesquisa como uma violação à sua privacidade.

“A Facebook Inc. sabe que pode forçar os limites dos usuários, invadir sua privacidade, usar sua informação e ficar com ela”, disse James Grimmelmann, professor de Tecnologia e Legislação na Universidade de Maryland. “A Facebook Inc. fez muitas coisas ao longo dos anos que assustaram as pessoas”.

Contudo, a raiva não tem um efeito de longa duração, disse Grimmelmann. Embora alguns usuários possam ameaçar abandonar o Facebook, a maioria das pessoas “querem estar onde os amigos estão” e não há uma alternativa ao site de rede social que ofereça uma privacidade maior, disse ele.

Cara a cara

No estudo, os pesquisadores, que são da Facebook Inc. e da Universidade Cornell, queriam ver se as emoções podiam se espalhar entre as pessoas sem que houvesse contato cara a cara.

O estudo da Facebook Inc. é uma “pesquisa realmente importante” que mostra o valor de receber notícias positivas e como isso melhora as conexões sociais, disse James Pennebaker, um professor de psicologia da Universidade do Texas.

A Facebook Inc. poderia ter evitado parte da consequente controvérsia permitindo que os usuários optassem por não fazer parte de nenhuma pesquisa, disse ele.

“Isso deixará as pessoas um pouco nervosas por alguns dias”, disse ele, em uma entrevista. “O fato é que a Google sabe tudo sobre nós, a Amazon sabe uma enormidade de coisas sobre nós. É impressionante o quanto todas essas grandes empresas sabem. Se o sujeito for paranoico, isso pode lhe dar calafrios”.

A Facebook Inc. disse que nenhuma das informações do estudo foi associada com a conta de uma pessoa específica.

A pesquisa tem o objetivo de produzir conteúdo relevante e atraente e parte disso está ligada ao entendimento de como as pessoas respondem a diversos conteúdos, disse a empresa com sede em Menlo Park, Califórnia, ontem, em um comunicado.

Análise interna

“Nós estudamos cuidadosamente que pesquisas fazemos e temos um forte processo interno de análise”, disse a Facebook Inc.

“Não há uma coleção desnecessária de dados das pessoas em conexão com essas iniciativas de pesquisa e todas as informações são armazenadas de forma segura”.

Susan Fiske, professora da Universidade de Princeton, editou o estudo para a PNAS. Ela contactou os autores e foi informada que o trabalho havia passado pela análise ética da Cornell para pesquisas com humanos. As informações já haviam sido coletadas quando os pesquisadores da Cornell se envolveram.

“Sob esse ponto de vista, esse é um problema a respeito da Facebook Inc., não da ética da pesquisa”, disse ela, em entrevista. “Minha decisão não era criticar” o conselho de análise da Cornell.

“As pessoas estão relacionando isso com a Facebook Inc. como se a empresa tivesse traído sua confiança”, disse ela. “O nível de reação é compreensível. Isso não significa que a Facebook Inc. ou a Universidade Cornell tenham sido antiéticos”.

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