Eleições americanas: a proliferação de notícias falsas no Facebook também foi um problema (Matthew Cavanaugh/Getty Images)
Luísa Granato
Publicado em 10 de novembro de 2016 às 17h15.
São Francisco - Os EUA acabaram de atravessar sua primeira eleição presidencial em que a maioria do eleitorado acompanhou as notícias pelas redes sociais. E o resultado já está levando as empresas que o modelaram a fazer um exame de consciência.
O Facebook terá que enfrentar a crescente insatisfação por seu papel de filtro de notícias mais amplamente utilizado da história.
Quarenta e quatro por cento dos adultos americanos acessam a imprensa através da rede, muitos consomem notícias de fontes partidárias com as quais concordam.
A proliferação de notícias falsas no Facebook também foi um problema: histórias enganosas de que a família Clinton cometeu assassinato e de que Huma Abedin era terrorista se espalharam rápida e furiosamente apesar de terem sido refutadas pelas empresas de notícias responsáveis.
Essas histórias deram forma à opinião pública, disse Ed Wasserman, reitor da Faculdade de Jornalismo de Berkeley, da Universidade da Califórnia, nos EUA.
“Isso é um marco”, disse ele. “Trump conseguiu transmitir sua mensagem de um modo extremamente influente sem passar por filtros de qualidade que associamos com a chegada ao público de massas. Um conjunto de mídias teve influência sem ter realmente autoridade para isso. E a mídia que falou com autoridade, com a autoridade dada por uma cuidadosa verificação dos fatos, não teve realmente influência.”
Em um comunicado, uma porta-voz do Facebook disse: “Embora o Facebook tenha tido um papel nesta eleição, ele foi apenas uma das muitas maneiras de as pessoas receberem informação -- e foi uma das muitas maneiras de as pessoas se conectarem com seus líderes, se envolverem no processo político e compartilharem seus pontos de vista.”
Na internet (no Facebook, é claro), funcionários atuais e antigos debateram o papel da empresa como influenciadora.
Bobby Goodlatte, designer de produto do Facebook de 2008 a 2012, segundo seu LinkedIn, disse ontem que o feed de notícias da empresa foi responsável por alimentar “fontes de informação altamente partidárias e com pouco cuidado com os fatos” que impulsionaram a ascensão de Donald Trump à presidência.
“O feed de notícias otimiza o engajamento”, escreveu Goodlatte. “Como aprendemos nesta eleição, as bobagens são muito engajadoras.”
“Não podemos ler e verificar tudo”, disse Adam Mosseri, diretor do feed de notícias, em entrevista em agosto. “Então o que fizemos foi permitir que as pessoas marcassem as coisas falsas. Contamos muito com as pessoas para denunciar conteúdos.”
Mas, se a notícia falsa está se espalhando em comunidades que querem acreditar nela, pouca gente vai denunciá-la como falsa.
As câmaras de ressonância do Facebook podem ter ajudado Trump a vencer, mas o Twitter deu a ele um modo de chegar de forma constante aos eleitores dos EUA e sem um editor.
Hillary também tinha contas no Facebook e no Twitter, mas Trump, com quase 14 milhões de seguidores, quase sempre iniciava seus próprios ciclos de notícias com publicações carregadas de opiniões e muitas vezes incendiárias.
“Não me lembro de nenhuma outra ocasião, em termos de comunicação comercial ou política, em que o Twitter tenha sido usado de modo tão eficiente”, disse Wasserman.