Mark Zuckerberg, do Facebook: segundo reportagem do BuzzFeed, empresa fez vista grossa para as fraudes (Stephen Lam/Reuters)
Laura Pancini
Publicado em 11 de dezembro de 2020 às 11h40.
O Facebook supostamente disse aos seus revisores de anúncios para ignorar fraudes e contas hackeadas desde que "o Facebook seja pago".
A informação é de uma investigação publicada nesta quinta-feira (10) pela BuzzFeed News, que revelou detalhes sobre como a empresa prioriza lucro em vez de aplicar suas próprias regras destinadas a proteger os usuários de golpistas e hackers.
A empresa de Mark Zuckerberg emprega milhares de funcionários terceirizados, por meio de empresas como Accenture, BCforward e Cognizant, para revisar o conteúdo e os anúncios gerados pelos usuários e garantir que eles cumpram as políticas da plataforma.
No Facebook, é relativamente comum contas serem hackeadas e terem anúncios fraudulentos publicados em seu nome. Mensagens vistas pelo BuzzFeed News mostram um gerente da Accenture, que liderou uma equipe de 45 analistas de anúncios, instruindo os trabalhadores a ignorar contas hackeadas e outras violações desde que “o Facebook seja pago” pelos anúncios por meio de um método de pagamento válido.
Um porta-voz do Facebook disse ao BuzzFeed News que a empresa investe fortemente em manter os anúncios "ruins" fora de sua plataforma e discordou da ideia de que lucrou com eles, mas se recusou a comentar sobre como lida com o dinheiro que ganha com anúncios fraudulentos que violam suas regras.
"Temos todos os incentivos - financeiros e outros - para fazer com que a experiência de anúncios no Facebook seja positiva. Para sugerir o contrário, é porque não entende o nosso modelo de negócios e missão", disse o porta-voz ao BuzzFeed News.
Os anúncios do Facebook geraram 21,2 bilhões de dólares em receita para a empresa no terceiro trimestre, mas parte desse dinheiro vem de anunciantes obscuros, incluindo supremacistas brancos, golpistas, o movimento antivacina e desinformação sobre a covid-19.
A plataforma prometeu repetidamente reprimir quem quebra as políticas da sua plataforma, mas a incapacidade de aplicar suas próprias políticas se repete em várias instâncias ao longo dos anos.
A investigação do BuzzFeed News também divulgou relatos de ex-funcionários sobre outros problemas com anúncios.
Nas semanas que antecederam a eleição dos Estados Unidos, o Facebook supostamente pediu para seus monitores de anúncios se concentrarem em ajudar os anunciantes políticos a comprar todo o estoque que conseguissem antes da plataforma anunciar que excluiria todas as informações falsas sobre as eleições.
Um documento visto pelo BuzzFeed News mostra a empresa afirmando que "sua maior prioridade" era aprovar pedidos de aumento do limite de gastos dos anunciantes eleitorais.
O precursor do TikTok, Musical.ly, colocou anúncios mostrando garotas adolescentes dançando provocativamente na plataforma em 2017. Alguns funcionários do Facebook teriam percebido que o algoritmo estava direcionando os anúncios principalmente para homens de meia-idade. Após denúncia, a empresa supostamente restringiu acesso aos dados sobre anúncios e permitiu que eles continuassem rodando por mais um ano e meio.
Sobre esse caso, o Facebook afirma ter criado uma política contra a sugestão de interações sexualizadas, embora ela nunca tenha sido anunciada em qualquer lugar público.