Tecnologia

Facebook admite que coleta dados de quem não tem conta na plataforma

Mark Zuckerberg participa nesta quarta (10) de audiência no Legislativo americano para discutir a responsabilidade da companhia na proteção de dados

Facebook: Zuckerberg admitiu falhas em caso de vazamento de dados de usuários (Dado Ruvic/Illustration/Reuters)

Facebook: Zuckerberg admitiu falhas em caso de vazamento de dados de usuários (Dado Ruvic/Illustration/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 11 de abril de 2018 às 18h13.

Última atualização em 11 de abril de 2018 às 18h31.

O Facebook coleta informações não apenas de seus usuários, mas também de outras pessoas sem perfil na plataforma. A revelação foi feita hoje (11) pelo presidente da companhia, Mark Zuckerberg, durante audiência da Comissão de Energia e Comércio da Câmara de Representantes dos Estados Unidos (órgão similar à Câmara dos Deputados brasileira), convocada para discutir a responsabilidade da companhia na garantia da privacidade na internet.

A audiência foi motivada pelo escândalo do vazamento de dados de 70 milhões de americanos por um desenvolvedor de um aplicativo para a empresa britânica de marketing digital Cambridge Analytica, que segundo um ex-funcionário, teria usado essas informações para influenciar as eleições de 2016 a favor de presidente Donald Trump. O repasse foi revelado por jornais dos Estados Unidos e do Reino Unido em março.

Nesta terça-feira (10), Zuckerberg falou ao Senado, onde pediu desculpas e admitiu falhas no tratamento do escândalo do vazamento e na interferência de contas russas também na eleição presidencial americana de 2016.

O fundador da rede social foi questionado por parlamentares sobre a coleta de registros de pessoas fora da plataforma, criando os chamados "perfis sombra". "Você disse que todo mundo controla dados, mas você está coletando informações de pessoas que não estão nem cadastradas. O Facebook tem perfis de pessoas que nunca assinaram a plataforma?", indagou o senador Ben Luján. "Temos dados de pessoas não cadastradas por razão de segurança", admitiu Zuckerberg.

A senadora Debbie Dengell citou como exemplo os botões de compartilhamento de textos pelo Facebook permitirem rastrear qualquer pessoa na internet. "Vocês têm rastreadores na web. Não importam se você tem uma conta. Por meio dessas informações, podem coletar informações sobre todos nós", disse.

Ao perguntar quantos recursos semelhantes estão instalados em outras páginas fora do Facebook, Zuckerberg não soube responder.

O presidente da empresa foi questionado se o Facebook estaria gravando conversas pelos microfones dos celulares. Ele negou a prática. "Não estamos coletando informações de microfones. Só usamos quando gravamos um vídeo. Meu entendimento é que em muitos desses casos são coincidências".

Entretanto, admitiu que o recurso de reconhecimento facial inclui também pessoas presentes em fotografias que não estão cadastradas na plataforma. "Para tecnologias sensíveis, como a de reconhecimento facial, seria importante ter uma forma de consentimento", ponderou.

Navegação rastreada

Zuckerberg confirmou que dos usuários cadastrados são coletados não só registros do que é publicado e compartilhado, mas também atividades realizadas quando a pessoa não está logada na plataforma, como os sites visitados. Quando questionado sobre a razão dessa prática, justificou que esses procedimentos ocorrem "por razões de segurança" e para subsidiar a difusão de anúncios.

"Rastreamos algumas [informações de navegação] por questão de segurança e anúncios. Mesmo se a pessoa não está logada, rastreamos o que está acessando como medida de segurança. Nos anúncios, coletamos para que eles sejam mais relevantes. Mas há um controle, que a pessoa pode desligar", disse.

Ao ser questionado se essa forma de funcionamento não implicaria uma violação da privacidade dos usuários, Zuckerberg respondeu que a proteção está na capacidade dos usuários de escolherem o que e para quem compartilham conteúdos. "Toda vez que alguém escolhe compartilhar algo, o app permite escolher se se você quer compartilhar só com seus amigos ou público".

Modelo de negócios

Os parlamentares quiseram saber se estaria disposto a mudar seu modelo de negócio, calcado na monetização de dados, para vender anúncios. Zuckerberg não se mostrou disposto, e por essa razão, recebeu críticas de diversos congressistas na audiência.

"Vocês mantêm dados. Há informações que as pessoas nem sabem que estão sendo geradas. Sua plataforma está virando um mix de entretenimento, rede social e manipulação", disparou o senador Joe Kennedy.

Regulação

Diante da descrença de se manter privacidade, parlamentares defenderam legislações voltadas à garantia dos usuários. Nesta terça-feira (10), no depoimento à Câmara, parlamentares também se manifestaram nesse sentido, e Zuckerberg admitiu a importância da plataforma ser regulada. Alguns congressistas informaram que apresentarão propostas e convidaram o fundador do Facebook para contribuir com o debate. Ele reiterou que não é contra a regulação, mas que é preciso discutir o conteúdo.

Acompanhe tudo sobre:Cambridge AnalyticaEstados Unidos (EUA)FacebookInternetmark-zuckerberg

Mais de Tecnologia

UE multa grupo Meta em US$ 840 milhões por violação de normas de concorrência

Celebrando 25 anos no Brasil, Dell mira em um futuro guiado pela IA

'Mercado do amor': Meta redobra esforços para competir com Tinder e Bumble

Apple se prepara para competir com Amazon e Google no mercado de câmeras inteligentes