Estações radiobase de telefonia celular, como esta, usam baterias para garantir a continuidade dos serviços em caso de falta de energia (Milonica / Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 23 de fevereiro de 2011 às 10h20.
São Paulo — Se fossem aplicadas imediatamente as novas versões propostas para as resoluções 394 e 379 da Anatel, que ampliam consideravelmente os requisitos técnicos e procedimentos de ensaios e testes de certificação de baterias de grande porte, os laboratórios no Brasil simplesmente não dariam conta de atender tal demanda. Estas baterias, em sua maioria, são utilizadas em sistemas de redundância de estações radiobase de telecomunicações. Elas permitem mantera rede celular funcionando mesmo quando há falta de energia.</p>
Segundo especialistas, já é difícil atender às necessidades e exigências atuais, uma vez que há, no país, somente três laboratórios que realizam esse tipo de teste. As duas novas versões praticamente dobrariam o número de ensaios necessários no processo de certificação dessas baterias. Em outras palavras, mais laboratórios certificados seriam exigidos ou os atuais precisariam ser ampliados.
É nisso que aposta o CPqD, um dos três laboratórios brasileiros que oferecem ensaios de certificação de baterias de grande porte. Além de laboratório, a empresa também recebeu da Anatel a chancela de Organismo de Certificação Designado (OCD), ou seja, instituição que conduz e gerencia os processos de avaliação de conformidade técnica dos produtos junto aos laboratórios e expedem os certificados de aprovação para a agência.
Laboratório ampliado
O CPqD anunciou nesta terça-feira, dia 22, a inauguração de novas instalações do seu Laboratório de Sistemas de Energia, ampliado justamente para atender à demanda por ensaios de certificação de baterias estacionárias. Utilizadas em aplicações que exigem o armazenamento de grande quantidade de energia, essas baterias são importantes na telefonia móvel. "Cerca de 80% a 90% das baterias de grande porte testadas são para o mercado de telecom, seja dos fabricantes ou diretamente das operadoras", diz Maria de Fátima Rosolem, responsável técnica pela área de baterias do CPqD.
Com a ampliação, o número de posições de ensaio automatizadas do laboratório sobe de 21 para 30 e a capacidade de testes para até 150 baterias simultâneas, o dobro do que era realizado anteriormente. "O tempo para realizar um ensaio é, em média, 200 dias. Não há como reduzi-lo. Mas, com a ampliação do laboratório, poderemos atender mais clientes. Esse era um gargalo que tínhamos", revela.
A especialista do CPqD informa que a nova versão da resolução 394, que já passou por consulta pública e deve vigorar até meados do ano, ampliará em 50% o número de testes de certificação das baterias do tipo chumbo-ácido ventiladas, baterias reguladas por válvula e baterias alcalinas – todas largamente utilizadas em estações radiobase de telefonia celular. "Além disso, a resolução estabelece a manutenção periódica, que exigirá que todas as baterias sejam reavaliadas de três em três anos. Isso criará mais uma enorme demanda", acrescenta. Um novo regulamento que substituirá a Resolução 379, que está em fase de consulta pública e recebe contribuições até o próximo dia 25 de março, segundo Maria de Fátima, deve entrar em vigor entre o final de 2011 e início de 2012. "Essa nova norma também ampliará em mais uns 50% a quantidade de testes, tornando o processo de certificação ainda mais rigoroso", diz.
Para atender toda essa crescente demanda, a responsável técnica adiantou que, até o final do ano, o CPqD ampliará ainda mais a infraestrutura do Laboratório de Sistemas de Energia. "Nossa proposta é a de atender devidamente a todas as resoluções voltadas para baterias de grande porte definidas pela Anatel", antecipa.
Implantação difícil
Maria de Fátima Rosolem revela que não é tarefa das mais simples montar uma infraestrutura de ensaios de baterias de grande porte. Essa é uma das razões para a existência de somente três laboratórios desse tipo em todo o país.
Segundo ela, há carência de profissionais especializados e com competência para trabalhar nesses laboratórios. "Faltam engenheiros elétricos com especialização em potência e também químicos com conhecimento de eletroquímica. Estamos há três meses tentando contratar um estagiário técnico em eletrônica", exemplifica Maria de Fátima. Ela revela que o Ministério de Ciência e Tecnologia já pensa num plano que estimule as universidades a tocar mais profundamente nas áreas de sistemas de energia e potência. "São especialidades ainda muito pouco abordadas em engenharia elétrica e química", lamenta.
A especialista revela, também, que o alto investimento é outro obstáculo para a montagem de uma infraestrutura de testes de baterias de alta capacidade, de 50 amperes-horas a 2,5 mil amperes-horas.