Tecnologia

Entrevista de domingo: Fairphone quer mudar a relação das pessoas e seus eletrônicos

INFO conversou com Emma Furniss, gerente de negócios da empresa, sobre o processo de desenvolvimento do smartphone e projetos futuros

Emma Furniss (Divulgação)

Emma Furniss (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de outubro de 2013 às 13h30.

São Paulo - A alta demanda no consumo de dispositivos eletrônicos traz um viés social — e ambiental — que poucas pessoas consideram quando vão comprar um smartphone ou tablet.

Recursos minerais extraídos de áreas em conflito e más condições de trabalho são alguns dos problemas que constantemente estão por trás do design futurista e da enorme gama de recursos desses dispositivos.

Mas uma organização holandesa sem fins lucrativos, chamada Fairphone, resolveu mudar este cenário ao idealizar e produzir um smartphone socialmente correto.

O smartphone usará a tecnologia Dragontrail Glass (resistente a arranhões) para o visor sensível ao toque de 4,3 polegadas; processador quad core Mediatek 6589; 16GB de memória interna; câmera traseira de 8 megapixels e frontal de 1,3 megapixels; e sistema operacional Android 4.2.

INFO conversou com Emma Furniss, gerente de negócios da empresa, sobre o processo de desenvolvimento do smartphone e projetos futuros.

- Como surgiu a ideia de criar a empresa?

A Fairphone surgiu há três anos como uma campanha para conscientizar as pessoas sobre os conflitos que existem em torno da extração de minerais e cresceu como uma empresa social que aborda toda a cadeia de fornecimento de aparelhos eletrônicos.

Atualmente, contamos com um time de 10 pessoas de diversas formações incluindo designers, engenheiros, cientistas políticos, administradores e comunicadores. Mas não dependemos apenas deles. Nós temos uma comunidade ligada à Fairphone que trabalha de forma colaborativa por meio de diversas outras empresas e organizações.

Bas van Abel, um dos diretores criativos da Waag Society, foi o responsável por iniciar o projeto da Fairphone, pois ele acredita que precisamos mudar a relação entre as pessoas e seus produtos.

- E como a Fairphone está tentando mudar essa relação pessoas-produtos?

O celular é o ponto inicial para uma conversa sobre a abertura de produtos e sua rede de abastecimento, levantando para os consumidores essas questões referentes aos impactos ambientais da produção de eletrônicos. E uma vez que somos parte deste sistema e o entendemos, nós podemos avançar e melhorar estas percepções como, por exemplo, ao assegurar boas condições de trabalho para todos os envolvidos na produção.

- Quais seriam as principais preocupações com relação à fabricação do smartphone?

Em primeiro lugar, o principal problema é a complexidade da cadeia de suprimentos que peca em transparência e sustentabilidade. E, se você não entende como o sistema funciona, é muito difícil mudá-lo. Indo passo a passo, a Fairphone pretende deixar a história por trás da produção de eletrônicos mais transparente.

- Como vocês definiram a concepção do Fairphone?

O método escolhido foi inspirado na concepção de que se você não pode saber a origem do aparelho, então você não deveria ser o dono dele. Portanto, para mudar as coisas como são, nós precisaríamos abrir e entender a cadeia de suprimentos.

Mas essa cadeia de abastecimento global é muito complexa para ser tratada como um todo. E por isto que decidimos começar com um único produto. Um smartphone aberto e de alto desempenho feito de forma transparente. É um passo de cada vez.

E produzir um celular nos permite levantar essas questões. Hoje em dia, o telefone é o objeto que praticamente todos possuem e é também um símbolo deste nosso mundo conectado. Desta forma, o smartphone é um prático ponto de partida para contar a história de como nossa economia funciona.

- A Fairphone acredita que deveria haver limites na produção de um smartphone? Ou o mais importante deveria ser como esse produto é manufaturado?

O volume pode estar diretamente relacionado ao aspecto justo da fabricação. Precisamos ter cuidado com a pressão que colocamos sobre a cadeia de abastecimento. Vem sendo constante essa alta demanda e prazos apertados que colocam pressão no setor. E isto pode levar a péssimas condições de trabalho, tais como longas jornadas e baixos salários. Como uma empresa social, nós não aceitamos esta metodologia. Para nós este crescimento precisa ser controlado e o tempo de entrega dos aparelhos pode sim ser maior do que estamos acostumados hoje.

- Por que usar o Android e não optar por outra plataforma, de fato, aberta?

Nós escolhemos esse sistema para garantir que teríamos um aparelho estável e funcional desde o início. Nós trabalhamos em parceria com a Kwame Corp. para criar uma interface organizada e amigável para nosso smartphone. Mas também estamos unindo forças com plataformas abertas como o Ubuntu e Firefox . A ideia é oferecer aos usuários outras opções de sistemas operacionais.

- Quais serão os diferenciais do aparelho?

Estamos produzindo um aparelho de alta performance e cheio de funções. Mas ao mesmo tempo é importante notar que a Fairphone pretende desenvolver um telefone que irá durar, tanto em termos de software quanto de hardware. Nós também  iremos vender peças separadas do smartphone em nosso site e realizaremos atualizações constantes no sistema.

- E quando vocês pretendem lançar o Fairphone no mercado?

Nós iniciamos uma campanha de pré-venda há dois meses com a oferta de 20 mil smartphones. O aparelho custará 325 euros e até o momento já vendemos mais de 12 mil unidades - precisávamos vender 5 mil para iniciar a produção. Isso demonstra que existem pessoas que querem investir na mudança, colocando o ser humano e o meio ambiente em primeiro lugar. O desenvolvimento e a produção estão em progresso e também estamos investindo na distribuição e ajustes do pós-venda. As entregas devem começar em meados de novembro.

- Após o lançamento do smartphone, quais serão os planos da Fairphone?

Por enquanto, nossos esforços ainda são em assegurar a produção de qualidade dos telefones, bem como sua distribuição e suporte pós-venda. Após o Fairphone começar a ser entregue, pretendemos discutir com nossa comunidade sobre melhorias e intervenções futuras. Nós estamos ajustando equipes de pesquisa para cinco grandes áreas de atuação (materiais preciosos, transparência na produção, design inteligente, negócios justos e valor duradouro), onde iremos definir os próximos objetivos para cada tópico. 

Assista, abaixo, um vídeo sobre a empresa e o Fairphone:

//player.vimeo.com/video/66409578

Fairphone: Buy a phone, start a movement from Fairphone on Vimeo.

Acompanhe tudo sobre:EntrevistasIndústria eletroeletrônicaINFOMeio ambienteSmartphonesSustentabilidade

Mais de Tecnologia

Segurança de dados pessoais 'não é negociável', diz CEO do TikTok

UE multa grupo Meta em US$ 840 milhões por violação de normas de concorrência

Celebrando 25 anos no Brasil, Dell mira em um futuro guiado pela IA

'Mercado do amor': Meta redobra esforços para competir com Tinder e Bumble