Painel solar (EFE)
Da Redação
Publicado em 17 de junho de 2014 às 06h56.
Em Hindi, uma aldeia remota do Quênia situada a 20 horas de carro de Nairóbi, perto da fronteira com a Somália, não há água corrente nem luz elétrica, mas no telhado de sua clínica médica há um pequeno painel de luz solar colocado por uma empresa espanhola, e isso salva vidas.
A eletricidade proporcionada por esta instalação lhes permite ter um refrigerador onde conservar adequadamente as vacinas e iluminar partos durante a noite, uma autêntica revolução ali onde as casas são construídas com barro.
O painel solar, que para muitos povoados constitui a única possibilidade de acesso a uma fonte energética própria, está transformando a vida em algumas regiões do interior da África.
O sistema é simples: quatro placas solares com 16 células de silício colocadas sobre os telhados -em algumas ocasiões, com pouca sorte por parte dos técnicos locais, em zonas sombrias-, e uma instalação elétrica que transforma a luz solar em corrente alterna e contínua.
A carga das baterias lhes proporcionam cinco horas de luz diárias durante cinco dias, capacidade suficiente para alterar o futuro de uma comunidade.
"Antes tínhamos que andar quilômetros para poder ter acesso a vacinas e a determinados remédios e às vezes, sobretudo em época de chuvas, era impossível fazer isso. Agora inclusive podemos fazer nossas próprias campanhas de prevenção de doenças", contou à Agência Efe o médico deste pequeno centro, Joseah K. Korir.
"O doutor" e sua esposa, "a enfermeira", administram uma clínica que atende vários povoados engolidos pelo delta do rio Tana.
Na entrada de sua pequena clínica há uma cartilha coletiva de vacinação: quadros-negros com registro nominal dos tratamentos prescritos a cada família, um mural que, antes que o sol acendesse seu refrigerador, quase não continha informação.
A luz artificial ilumina também os nascimentos que ocorrem na escuridão, pontual a cada dia às 18h30. "Sem ela quase não podíamos atender os partos noturnos, ou fazíamos em condições muito deficientes; o índice de mortalidade entre os recém-nascidos era muito maior".
A 30 quilômetros dali, travessia que requer mais de uma hora e meia em um potente 4x4, há uma escola de educação primária com cinco salas de aula e dois painéis solares.
Três meninas expulsas da classe estudam sentadas no solo. Uma delas se levanta, agarra um pau e, com um veloz movimento, bate e mata uma serpente venenosa.
Faz isso como quem se levanta para matar um mosquito. Em seu entorno cotidiano, os animais matam e a luz elétrica é um milagre que alguém trouxe a seu colégio.
Um milagre que permite haver cursos noturnos para os que trabalham durante o dia, que melhora a capacidade de atenção dos estudantes em salas de aula escuras ou, simplesmente, os ajuda a ver um pouco melhor durante a leitura, porque aqui as dioptrias são um mal endêmico e os lentes para corrigi-las uma quimera.
"Passamos de ser os últimos para sermos terceiros no ranking de resultados acadêmicos entre todas as escolas do condado, e em muito pouco tempo", declarou orgulhosa a diretora deste centro, Martha Kiminza.
Este sprint os colocou em uma das posições que dão direito às subvenções estatais. Com elas crescerão suas instalações e aumentará o número de alunos.
"Alguns professores choraram ao ver pela primeira vez uma luz sobre suas lousas", afirmou Roberto González, diretor de projetos no Quênia da empresa BTD, que levou luz a 380 pontos do país graças a um projeto de cooperação internacional do governo espanhol.
"Em algumas aldeias de Moçambique -onde sua companhia fez outras 372 instalações- inclusive oficiavam cerimônias com oferendas de alimentos e bailes espirituais antes de pulsar a intersecção", lembrou.
Não só é um trabalho, ele vê como uma forma modesta de melhorar o mundo. "30 segundos após fazer a primeira conexão, percebemos a mudança. Mudam suas caras e começam a mudar suas vidas, o impacto é direto e imediato".
E não só sobre sua saúde e sua educação, a nova energia também opera como fator de coesão social entre povoados de etnias confrontadas, que agora se reúnem junto a uma lâmpada e uma tomada para conversar e escutar rádio, esquecendo assim seus ódios tribais.
A mesma lâmpada que evita roubos e estupros proporcionaram mais segurança em um entorno com pouco respeito pela vida humana.
Também melhora sua conexão doméstica com o resto do mundo facilitando algo tão cotidianamente ocidental como a carga de seus telefones celulares, aparelhos que quase todos têm, embora não possuam nada mais que isso.
"Já não tenho que caminhar 15 quilômetros para carregar meu telefone, agora sempre estou online", brincou Samuel, um morador de Híndi que leva o celular nas mãos porque suas únicas calças não têm bolsos.