Efeito estufa (Philippe Huguen/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2014 às 13h04.
Entre 2004 e 2012, as emissões de gases de efeito estufa caíram praticamente pela metade no Brasil. Mas esse período de redução drástica das emissões pode estar prestes a acabar, de acordo com uma análise realizada pela rede de 35 organizações não governamentais que compõem o Observatório do Clima.
O grupo divulgou nesta quarta-feira, dia 20, o relatório Análise do Panorama Atual de Emissões Brasileiras - Tendências e Desafios, que teve como base os dados de seu Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa (Seeg) - um levantamento de emissões paralelo ao do governo federal.
De acordo com o documento, entre 2004 e 2012, graças à queda de mais de 70% nas taxas de desmatamento da Amazônia, o Brasil reduziu de 6,2% para 2,9% sua participação nas emissões globais de gases de efeito estufa. Mas, segundo as estimativas da organização, há uma clara tendência de crescimento das emissões - em especial nos setores de energia e transportes, mas também em agropecuária, indústria e resíduos sólidos.
Segundo Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, embora as emissões do desmatamento (mudança de uso do solo) tenham sido reduzidas de forma drástica no período, houve aumento em todos os outros setores. O caso mais dramático é o do setor de energia, cujas emissões aumentaram mais de 30% no período: de 335 para 440 megatoneladas. Entre 1990 e 2012, o setor de energia aumentou suas emissões em 125%.
"Com isso, o setor de energia, que representava 11% das emissões em 2004, passou para 30% do total das emissões brasileiras em 2012", disse Rittl. De acordo com o levantamento, o desmatamento da Amazônia, que por anos foi a principal fonte de emissões brasileiras - e representou cerca de 70% do total nos anos 90 -, caiu para 32% em 2012. A agropecuária é responsável por outros 30%, aproximadamente. "Com isso, mais de 90% das emissões correspondem ao desmatamento, à agropecuária e ao setor de energia", declarou Rittl.
O relatório indica que, a menos que surjam elementos novos a reverterem essa tendência, no futuro próximo, é bastante provável que o setor de energia venha a se tornar o mais importante em termos das emissões de gases de efeito estufa. Mas, segundo Rittl, como o desmatamento está diretamente ligado ao agronegócio e à pecuária, dois terços das emissões atuais estão ligadas à agropecuária.
"Outro fator que nos leva a prever o fim da fase de redução das emissões é que as nossas estimativas ainda não captam o aumento do desmatamento na Amazônia no ano passado. Há portanto, uma forte indicação de que podemos chegar a 2020 com emissões em ascensão", afirmou Rittl.
Tasso Azevedo, coordenador do Seeg, afirmou que o Brasil deverá cumprir com alguma folga a meta voluntária de redução de emissões fixada em 2010 para 2020. Isso acontecerá graças à queda no desmatamento e também às taxas de crescimento econômico reais, bem mais modestas que as previstas pelo governo em 2010.
"As metas foram definidas com base em um crescimento médio da economia de 4% a 5%, o que não aconteceu", declarou Azevedo. Nos próximos anos, no entanto, é provável que as reduções do desmatamento sejam inferiores ao aumento de emissões nos demais setores, segundo ele. "Isso deverá nos levar a um novo período de crescimento das emissões", disse Azevedo.
Panorama
De acordo com o relatório, o Brasil, com 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, é o sétimo maior emissor do planeta. Azevedo afirma que, no período posterior a 2020, todos os grandes emissores terão que realizar cortes profundos em suas emissões para que seja possível limitar o aquecimento global a níveis seguros, isto é, que permitam manter o aquecimento global abaixo dos 2 graus Celsius.
"Para que o Brasil dê sua contribuição , nossas emissões atuais, de cerca de 1,5 gigatoneladas de carbono equivalente por ano, precisarão ser reduzidas para no máximo uma gigatonelada até 2030", disse Azevedo. Segundo ele, essa é a meta recomendada pelo Observatório do Clima para ser proposta pelo Brasil na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 20), que será realizada em Lima, no Peru, em novembro.