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Em busca de um sócio

Empreendedores de tecnologia estão mais preparados para apresentar planos de negócios a fundos de investimentos, mas ainda carecem de visão global, diz Fábio de Paula, da Intel Capital

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h18.

O segmento brasileiro de venture capital e private equity quase triplicou nos últimos três anos. Segundo a Associação Brasileira de Venture Capital, os 5,6 bilhões de dólares movimentados em 2004 tornaram-se 16,7 bilhões de dólares no ano passado, sinal do aquecimento das apostas dos fundos nas idéias locais. Na avaliação de Fábio de Paula, diretor de investimentos da Intel Capital para a América Latina, os empreendedores brasileiros que buscam os fundos como sócios têm aprendido lições importantes sobre como elaborar planos de negócios eficazes.

Por outro lado, ainda apresentam deficiências para dar dimensão global aos seus projetos inovadores. Em entrevista a EXAME, o executivo - graduado engenheiro eletrônico pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e com MBA em Finanças para Novos Empreendimentos pela Universidade de Chicago - fala sobre os requisitos e as oportunidades para quem pretende captar recursos de fundos de investimento e também quais as principais oportunidades avaliadas pela Intel Capital. Leia os principais trechos:

O que mudou, ao longo do tempo, no perfil dos empresários que buscam investimentos?
Os planos de negócios hoje estão mais profissionais do que no início. Há alguns anos, entre 100 empresas, talvez metade apresentava planos sem sentido. Hoje, o volume não é tão elevado. O próprio boom da internet ajudou a familiarizar os empreendedores sobre venture capital e a prepará-los antes de tentar uma rodada de investimentos.

O que é fundamental para um empreendedor apresentar a um grupo de investidores?
É importante o empresário detalhar o projeto ao máximo. Informações do tipo: quais os investidores que ele quer, quais fundos busca, qual participação pretende ter de capital de risco e a equipe que atua na empresa são fundamentais. Também é necessário definir o mercado de atuação, os concorrentes e quais as oportunidades de saída para os investidores. Se o empresário tiver esse conceito bem montado, poderá atrair a atenção dos fundos.

Existem diferenças fundamentais entre os empreendedores brasileiros e os demais ao apresentarem propostas de investimento?
O brasileiro é criativo por natureza, habilidade não falta. O que eu sinto é uma falta de visão global que pode fazer com que aquela inovação ganhe o mundo. Eventualmente isso pode acontecer porque aquele empreendedor não morou fora do país e não teve tanta exposição aos negócios internacionais. A Índia, por exemplo, que teve muitos de seus habitantes morando nos Estados Unidos, tende a ter empreendedores que voltam com esse pensamento globalizado, o que pode ajudar na captação de recursos. Esse tipo de conhecimento pode ajudar esse empreendedor a apresentar seu projeto e ser muito positivo nas rodadas de negociação.

Como é feita a avaliação de uma empresa que pleiteia ter como sócia uma empresa de venture capital?
O padrão ao considerar o investimento em uma empresa é verificar que tipo de solução ela traz, ou seja, que tipo de problema ela resolve. Além disso, é muito comum verificarmos os talentos por trás dessas operações, quem é o time operacional. Não falo só sobre o fundador, mas pessoas para atuar no dia-a-dia da empresa.

E como diferenciar uma oportunidade de uma mera idéia do empreendedor?
Inovação não é simplesmente uma idéia. Também analisamos se existe um mercado para aquela proposta, o modelo de negócios, o nível de receita e a rentabilidade que aquele negócio pode trazer.

Como a Intel Capital descobre as oportunidades de investimentos?
São diversas as fontes. A primeira delas é por parte dos próprios fundadores das empresas, que enviam propostas. Depois, temos muitos casos de co-investimento, em que algum outro investidor da América Latina se interessa por alguma empresa e nos convoca para discutir as possibilidades de atuação conjunta. Outras possibilidades também vêm do ecossistema da Intel, empresas que já fazem parte do relacionamento da empresa e despertam interesse.

Em quais estágios a Intel Capital procura empresas para investir?
A Intel considera oportunidades de fomentar o crescimento e desenvolver mercados. Somos agnósticos quanto à maturidade. No caso da Digitron, por exemplo, já existia uma empresa montada, mas que precisava de aportes para criar novos ecossistemas. Foi aí que investimos. Também investimos em tecnologias emergentes e em empresas que oferecem produtos para complementar lacunas de mercados já existentes.

A Intel Capital investe em todas as regiões do mundo. Como é feita a definição sobre para onde vão os recursos?
Não existem verbas divididas por região. Cada unidade da Intel Capital faz uma seleção dos projetos recebidos e encaminha para um comitê final baseado nos Estados Unidos. É o presidente da Intel Capital que vai aprovar o negócio.

Quando foi investido no ano passado?
Foram 639 milhões de dólares em 166 negócios fechados. Cerca de 37% desse valor foi feito fora da América do Norte.

Quantas propostas vocês recebem por ano?
A cada ano, são cerca de cem. Desse total, em torno de 20 são avaliadas a fundo e, metade disso, é levada ao comitê internacional.

A Intel tem um fundo específico para o Brasil. Como ele funciona, já que não existe um percentual de recursos para investir em cada país?
Esse fundo foi criado em 2005 com 50 milhões de dólares. Não é um fundo fechado. Se existirem oportunidades boas de investimento que superem esse valor, elas serão feitas mesmo assim. Só no ano passado, por exemplo, analisamos negócios que somavam mais do que isso.

Existe um destino comum para as empresas que recebem aportes da Intel Capital, como IPO ou venda para outras companhias?
O nosso capital é para crescimento. Não há definição pré-definida se nossa saída da empresa vai ser por abertura de capital, recompra de participação ou mesmo venda para outra companhia ou mesmo investidores. As pessoas costumam a associar o IPO a esse momento, mas não é necessariamente assim que acontece. Existe um excelente retorno com a abertura de capital, porque mostra que a empresa chegou a uma maturidade importante. Mas existem muitas empresas que encontram ofertas melhores do que o preço que o mercado está disposto a pagar, então, a venda acontece antes. Não há um padrão definido.

A Spring Wireless foi um dos negócios apoiados pela Intel Capital que teve crescimento expressivo nos últimos anos. Por que o fundo decidiu sair?
Existem questões que o investidor avalia antes mesmo de fazer o investimento. Entre eles estão: entender a competição, avaliar risco e retorno e, também, analisar qual o potencial de saída existente. No nosso caso, buscamos negócios que têm oportunidades de saída entre quatro e cinco anos. Na Spring, nossa atuação durou até mais que isso. A saída de um negócio é normal quando se trata de fundos de investimento. A roda recomeça a girar e gera oportunidades de renovar a carteira.

Para onde caminha a indústria de venture capital?
A minha sensação é que vão ocorrer muitos ciclos de inovação. A inovação é uma constância na tecnologia. A velocidade desses ciclos é cada vez maior. Você observa casos como o Google e o YouTube e pensa: como essas empresas podem crescer tão rápido? Acredito que isso vá continuar acontecendo mais e mais e que, novas oportunidades para os fundos serão crescentes. Os principais mercados que a Intel Capital considera hoje são mobilidade, tecnologias para a casa e a empresa digitais, e aplicada à saúde, segmento que vem crescendo.

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