Aplicativos da covid-19: Israel e Nova York já aderiram, mas usuários não estão satisfeitos (Edward Berthelot/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 31 de março de 2021 às 11h09.
Sua próxima saída para um restaurante, cinema ou bar pode exigir uma prova digital de vacinação contra a covid-19 ou um teste negativo.
Nova York, nos Estados Unidos, lançou um aplicativo nesta última sexta-feira (26). Considerado como um passaporte digital de vacina, o app exibe um código QR personalizado para verificar o status de saúde do usuário. Apesar de ser visto como algo fundamental para a vida pós-pandemia, a criação também abre espaço para preocupações sobre privacidade do usuário.
Chamada de Excelsior Pass, o aplicativo desenvolvido pela IBM é de uso voluntário (tanto de pessoas quanto de empresas), porém será requisitada em locais de grande circulação — o exemplo mais claro, até o momento, é o do Madison Square Garden.
O aplicativo está disponível tanto para usuários de Android quanto de iOS e é totalmente gratuito. O desenvolvimento foi custeado pelo governo de Andew Cuomo, como forma de recuperar os setores mais afetados pela pandemia.
Basta baixá-lo, inserir nome, data de nascimento, código postal e responder a uma série de perguntas pessoais para confirmar a identidade. Os dados devem vir do registro de vacinas do estado, sendo também vinculados os dados de testes de várias empresas pré-aprovadas.
A preocupação de alguns usuários é que seus dados médicos e a localização (ou seja, os lugares sendo frequentados) serão armazenados. O governador do estado, Andrew Cuomo, garante que as informações pessoais irão permanecer seguras, mas alguns especialistas não estão convencidos.
"Alguns desses aplicativos da vida cotidiana criarão uma nova camada de infraestrutura digital que antes era anônima", disse Albert Fox Cahn, fundador e diretor executivo do Surveillance Technology Oversight Project.
Em Israel, a novidade já foi introduzida e não teve uma boa recepção da população. Problemas como diminuir o desempenho do smartphone, gastar muito de sua memória e não ter seu código aberto (ou seja, não deixando claro para onde os dados poderiam estar indo) foram algumas das reclamações feitas pelos israelenses.
Outras questões a serem levadas em consideração na medida que os aplicativos se tornam mais comuns em outras cidades e países, é a questão da falsificação. Há a possibilidade de cartões de vacinas falsificados serem desenvolvidos, possivelmente aumentando a disseminação do coronavírus em uma população já majoritariamente imunizada. Isso pode criar, inclusive, o risco de novas mutações, mas a vacinação acelerada ocorrendo no estado diminui drasticamente as chances disso.
A Vaccination Credential Initiative (Iniciativa para Credencial de Vacinação, ou VCI, na sigla em inglês) está ajudando no desenvolvimento de padrões e diretrizes nos Estados Unidos para passaportes digitais de saúde, incluindo a questão da coleta e privacidade de dados.
"Nenhum dos dados seria armazenado em um servidor central - e teria uma etapa de validação para garantir isso ", disse o Dr. Brian Anderson, médico-chefe de saúde digital da organização sem fins lucrativos MITER, que administra fundos federais centros de pesquisa e desenvolvimento e cofundador da VCI. Anderson também afirma que os dados não seriam agregados, de modo que não teria como saber qual restaurante a pessoa foi, por exemplo.
"A confiança do usuário é fundamental para que os cartões de saúde inteligentes digitais tenham sucesso em capacitar os indivíduos a demonstrar seu status de vacinação à medida que a sociedade reabre", afirma Anderson. “É por isso que é imperativo que as empresas sejam abertas e transparentes em relação às suas políticas de privacidade, para que os indivíduos possam tomar uma decisão informada sobre com quem desejam compartilhar suas informações de vacinação”.