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Designer português vira "herói" dos daltônicos

O sistema criado por Paulo Neiva, denominado 'ColorADD', tem como base as cores primárias e facilita o uso de transportes públicos para daltônicos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 21 de março de 2012 às 19h36.

Lisboa - Identificar linhas de metrô em um mapa colorido, escolher roupas ou distinguir o vermelho do verde é complicado para alguém que não consegue enxergar algumas cores. Mas o trabalho pioneiro de um designer da cidade do Porto, norte de Portugal, pode em breve facilitar a vida dos portadores de daltonismo.

Miguel Neiva dedicou grande parte da década passada criando um sistema de decodificação de cores que emprega símbolos fáceis de memorizar para os daltônicos de forma que eles possam distinguir certos pigmentos, como o verde e o vermelho.

Embora não seja daltônico, Neiva explicou que as experiências da infância serviram de base para seu trabalho.

"Eu tive um amigo daltônico na escola que, durante anos, foi alvo de gozação de crianças como eu, que caçoavam dele", explicou Neiva, de 42 anos, falando de seu estúdio.

Segundo associações de oftalmologia, cerca de 8% da população masculina tem algum nível de deficiência na visão de cores, enquanto menos de 1% das mulheres são afetadas.

O sistema criado por Neiva, denominado 'ColorADD', tem como base as cores primárias. Uma barra diagonal simboliza o amarelo, enquanto o vermelho e o azul são representados por triângulos que apontam para direções opostas.

Nuances diferentes podem ser descritas circundando os símbolos com um quadrado branco ou preto.


O rosa, por exemplo, é identificado por um triângulo com o vértice apontando para cima - representando o vermelho -, circundado por um quadrado branco.

O hospital São João do Porto, um dos maiores do país, adotou o sistema em suas pulseiras de identificação, que são colocadas em seus pacientes.

"Algumas tentativas foram feitas para ajudar os daltônicos a se orientar, mas este sistema representa uma abordagem inteiramente nova", explicou Fernando Falcão Reis, diretor de oftalmologia do hospital.

"Tem grande potencial internacional porque é simples de aprender e de usar", acrescentou.

Neiva explicou que o sistema foi recebido calorosamente pelos daltônicos e que ele leva hoje cerca de uma hora por dia respondendo a mensagens que recebe de pessoas de todo o mundo, que o consideram um "herói".

"Não tinha ideia de quanto este projeto poderia crescer ou como afetaria as pessoas", afirmou.

Iniciado como uma tese de mestrado de Neiva, o projeto resultou de anos de pesquisas sobre o daltonismo.

Ele disse que cerca de 90% dos daltônicos pedem ajuda para escolher roupas e cerca de 40% têm dificuldades em algumas situações sociais.

O daltonismo é uma condição genética descrita inicialmente pelo físico inglês John Dalton, de quem herdou o nome.

"Miguel teve uma grande ideia, maravilhosamente simples, e eu acho que em alguns anos, sua invenção se espalhará" pelo mundo, disse José Vieira, gerente de uma fábrica de lápis de cor 30 km ao sul do Porto.

Desde 2010, a fábrica produziu cerca de 8.000 caixas de lápis, cada um com um símbolo do sistema 'ColorADD.

O sistema também tem sido usado em tecidos e amostras, bem como em algumas roupas e na rede de metrô do Porto.

"Não há limites para suas possíveis aplicações", disse Neiva. Ele vê possibilidades em aplicativos de computador que permitiriam aos usuários identificar cores na tela com um simples clique no mouse, e ele espera que os símbolos sejam adotados pelos organizadores das Olimpíadas de 2016, no Rio.

Para o inventor, o sistema "é a única forma de discriminação contra os daltônicos".

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