Combinação mostra os dois homens que a polícia acredita que estavam viajando com passaportes roubados, no avião da Malaysia Airlines que desapareceu neste sábado (Malaysian Police/Divulgação via Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de março de 2014 às 12h07.
Portland/San Francisco/Singapura - A Malásia foi pioneira no uso de passaportes biométricos para restringir fraudes na imigração. Dezesseis anos depois, o sucesso de dois ladrões de identidade ao embarcar em um avião da Malaysian Airline que desapareceu provou que a tecnologia está longe de ser infalível.
Os documentos eletrônicos de viagem têm um chip embutido que armazena algumas informações pessoais do titular: fotografia facial, altura, peso e, às vezes, impressões digitais e digitalizações de sua íris. A informação contida nos passaportes eletrônicos, criados pela empresa Iris Corp., com sede em Kuala Lumpur, pode ser confrontada com um banco de dados do governo em checagens nos pontos de controle de imigração.
Procedimentos relaxados de verificação e técnicas sofisticadas de falsificação provam que os passaportes biométricos não são à prova de falhas, disseram seis especialistas em segurança, em entrevistas.
Os dois passageiros que usaram passaportes europeus roubados para passar pelos funcionários de imigração e embarcar no voo 370 da Malaysian Airline System podem ter usado documentos adulterados ou não passaram por uma verificação plena das autoridades de imigração, disseram eles. Um dos passaportes roubados, que pertence a um cidadão austríaco, tinha recursos biométricos, disse Thomas Weiss, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país europeu.
“A Malásia foi líder mundial ao criar passaportes biométricos. Como isso pode ter acontecido?”, disse Louis Sorrentino, diretor-gerente de segurança aérea e compliance regulatório da ICF International para a Flórida. “Estou perplexo com isso”.
Fiscalização
A Iris desenvolveu o primeiro passaporte eletrônico do mundo na Malásia em 1998, segundo o site da empresa, e diz que sua tecnologia se espalhou pela Ásia, pela África e pelo Oriente Médio. Os passaportes emitidos para cidadãos malaios contêm uma foto de rosto e uma impressão digital do titular.
Os passaportes roubados na Tailândia usados por dois passageiros para embarcar no voo com destino a Pequim, que desapareceu sem deixar rastros três dias atrás, não foram confrontados com um banco de dados internacional de passaportes roubados, segundo a Interpol. Em todo o mundo, aviões foram embarcados mais de 1 bilhão de vezes no ano passado sem que os documentos de viagem tenham sido batidos com o registro, disse a agência internacional de polícia no dia 9 de março.
Os relatos de que dois passageiros viajaram com passaportes roubados provocaram especulações de um ataque terrorista ao avião. As autoridades malaias disseram hoje que um dos dois era um iraniano sem ligações com grupos terroristas.
Pouria Nour Mohammad Mehrdad, 19, embarcou usando o passaporte austríaco e buscava emigrar para a Alemanha, disse o inspetor-geral de polícia malaia Khalid Abu Bakar, em Kuala Lumpur. As autoridades realizaram os procedimentos normais para concessão de visto quando ele ingressou na Malásia, disse Khalid.
“Nós checamos seus antecedentes, também checamos seu perfil com outras organizações policiais e acreditamos que ele provavelmente não seja membro de nenhum grupo terrorista”, disse Khalid. Outra pessoa, que embarcou usando um passaporte italiano roubado, está sendo investigada.
A tecnologia do chip para passaportes da Iris não pode ser falsificada ou hackeada, segundo a empresa.
Atualmente, cerca de 100 países usam passaportes eletrônicos, segundo a NXP Semiconductor NV, maior fornecedora mundial de chips para os chamados e-passports. O uso de biometria para verificação de identidades data de pelo menos 1858, quando autoridades britânicas começaram a usar impressões da palma da mão para a assinatura de contratos, disse Gene Meltser, diretor técnico da consultoria Neohapsis Labs.
Escaneamento de íris
Em 2004, o governo de Abu Dhabi começou a escanear a íris das pessoas nos movimentos de entrada e saída para certificar-se de sua identidade, disse Janice Kephart, fundadora e CEO da Associação de Identidade e Biometria Seguras, grupo que representa o setor, com sede em Washington. Essas medidas são tão efetivas quanto as pessoas que as aplicam, disseram os especialistas.
“Os passaportes biométricos, se conectados a um banco de dados atualizado e gerenciado apropriadamente, são a verificação de segurança mais eficaz”, disse Sorrentino. “Mas se eles não estiverem conectados a nada e forem simplesmente submetidos a uma luz verde, nós temos mais problemas do que sabemos”.